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Deus x Mal(dito marketing religioso) – por Fernando Guifer

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Não é de hoje que as peças publicitárias da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) têm chamado minha atenção, essencialmente no que diz respeito aos episódios da série ‘Eu Sou a Universal’, exibida pelo grupo Record diariamente em sua programação.

Se você não teve a oportunidade de assistir, basicamente é o seguinte: o vídeo mostra o perfil de um homem ou uma mulher falando sobre como era sua vida antes de frequentar a IURD e as bênçãos que têm recebido ou que já recebeu.

PAUSA NO DETALHE: estrategicamente, essas pessoas representam variações de perfis, etnias, classes sociais e profissões, justamente pelos envolvidos na criação dessas peças publicitárias saberem que você, espectador, vai se identificar com alguma das personagens. Até aí nada demais, já que no marketing funciona exatamente assim mesmo.

VOLTANDO: Bom, no fim das contas, encerram o texto dizendo: “Meu nome é fulano de tal, exerço a profissão ‘X’, moro no lugar ‘Y’ e… EU SOU A UNIVERSAL!”.

OK. Mas, em um dos episódios, especificamente, o abençoado em questão finaliza a cena da seguinte forma: “Quer saber a razão? (de todas as bênçãos que recebi) Eu Sou a Universal!”

Ei, ei, ei… espera um pouco, campeão!

Senti falta de um agradecimento especial para alguém aí, hein!? Como assim creditar nitidamente suas conquistas à placa de uma determinada instituição religiosa?

Será que tu não se esqueceste de Deus por um instante somente para vangloriar o trabalho realizado pelo staff do bispo Edir Macedo? Ahn, ahn?

Não serei leviano em dizer que, lá no início, nos anos 80, não existia para com os fiéis, boas intenções da IURD representada por seu fundador e pelas pessoas que o cercava.

Contudo, o tempo foi passando e tornou-se nítido que o propósito inicial de “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15) se perdeu pelo caminho. E, eu, por ter frequentado a IURD durante 14 anos, lamento demais quando vejo a forma como as coisas passaram a ser conduzidas por lá ao longo das últimas décadas.

O mais preocupante, porém, é saber que agora, mais do que nunca, a IURD não está sozinha nesse bolo, ou seja, infelizmente ela ganhou concorrentes bem fortes no quesito ‘venda de milagres’ – para desespero das pessoas de bem que buscam um puro, verdadeiro e gratuito afago espiritual.

Inclusive, digo isso até para lhes trazer outro exemplo, desta vez relacionado à igreja Assembleia de Deus, relatando que recentemente estava eu zapeando os canais da minha TV aberta quando resolvi parar na pregação do pastor Silas Malafaia.

Olhando fixamente para a câmera, ele, como exímio palestrante que é, disse o seguinte: “Coloque um copo com água sobre a televisão pq EU vou te abençoar!”.

Oi? Como que é aí, moço?

Em vez de proferirem coisas como:

“Olha o que a Universal fez por mim” (que também ouvi em outro episódio) OU “Coloque um copo com água sobre a televisão pq EU vou te abençoar!”;

Que tal utilizarem expressões do tipo:

“Quer saber a razão? (de todas as bênçãos que recebi) Eu Sou um(a) homem/mulher de Deus!”/“Olha o que Deus fez por mim!” OU “Coloque o copo com água sobre a televisão pq vou orar para que DEUS o abençoe!”.

Conseguem entender a inversão de valores e qual ‘marca e/ou produto’ querem de fato vender? Creditar as conquistas do cliente, digo, do membro, para o Senhor dos Exércitos não é bom para os negócios, não é mesmo, queridos “líderes”?

Afinal, se utilizam a palavra ‘Deus’ para divulgar o nome fantasia que interessa, acabam dando moral a um “produto” que possivelmente seja neutro e sem exclusividade, e que o cliente/membro/prospect pode, de repente, encontrá-lo em qualquer outra placa de igreja/empresa que não a de sua propaganda. E isso não é, de forma alguma, interessante para o faturamento, certo?

Imagino que os líderes religiosos pensem que o nome de Deus não precisa de marketing ou ser vendido por já ser considerado uma figura consolidada em todo o mundo como um alguém inigualável, milagroso, do bem e inquestionável pela maioria dos habitantes da terra.

Tudo lindo, mas, em partes, discordo. Claro que Deus não precisa de marketing e jamais deveria ser tratado como marca/produto. Porém, toda honra e toda glória deve ser dada sempre ao responsável pelo feito, independente do valor que Ele já tenha para as pessoas.

Exemplo chulo: se o Pelé faz um golaço, o árbitro não deve validar o tento para o zagueiro Joãozinho só pq o Pelé já é o Pelé. Não faz sentido.

Se Deus é o responsável pelos milagres em sua vida, deve ser integralmente reverenciado por isso, e não qualquer outra pessoa ou empresa/igreja.

OK, MAS, QUAL O PROBLEMA?

– Nossa, Guifer. Ultimamente você tem se apegado em temas que ninguém liga ou se incomoda. Qual o problema em dizer “Eu Sou a Universal” no lugar de “Eu sou de Deus!”, por exemplo? – alguns podem questionar.

O preocupante nisso tudo, caro leitor, está no marketing de emboscada, na mensagem subliminar e na propaganda implícita que as (grandes) instituições religiosas – principalmente evangélicas – praticam descaradamente todos os dias na barba da sociedade. Entenda que estamos falando sobre os que deveriam se preocupar apenas em “levar o evangelho a toda criatura” em vez de investir milhões para somente fortalecer a própria logomarca, entendeu?

E apesar de ser algo aparentemente nebuloso para muitos, posso afirmar que nada do que você ouve ou vê dentro de uma igreja, independente de qual seja, é por acaso.

Falando, por exemplo, em um contexto geral que envolve a maioria das igrejas evangélicas (estas que descobriram na fraqueza das pessoas uma mina de ouro e hoje preenchem cada esquina do Google Maps com seus templos), não somente a IURD ou Assembleia, mas outras grandes denominações rivais também agem de um jeito similar e atuam forte na capacitação de quem for escolhido para representá-las.

Desde a postura do tal pastor, as roupas que veste, a inclinação corporal, a impostação de voz, o jeito de andar e olhar, e claro, a forma como lê e transmite sua interpretação bíblica durante a pregação, tudo é resultado de um trabalho de marketing (bem feito) para fisgar aquele cliente que ganhou apelido de fiel.

Assim como em qualquer segmento corporativo, funcionários que trabalham com religião são treinados para falar com seu público-alvo.

Não por acaso existe um investimento significativo nessa ‘indústria da fé’, até pelos líderes/empreendedores enxergarem de longe que nem todos os interessados têm aptidão para subir ao altar e fazer uma pregação de 1H30 sem perder a credibilidade.

Ali estarão sempre pessoas escolhidas a dedo, com altíssimo poder de convencimento e de oratória quase que impecável. Estes certamente são dons presenteados por Deus, mas que deveriam ser melhores empregados para o bem e não para o que eles têm realmente feito: aumentar o próprio patrimônio (ou do chefe, digo, fundador).

Com essa fala mansa já arrecadaram milhões de fãs e, principalmente, de reais. E sabe pq, meus amigos? Pq fanático religioso não pesquisa, não analisa e jamais questiona. O pior é que não fazem isso por concordar integralmente com tudo, mas, sim, por achar que vai para o inferno se acrescentar um ponto de interrogação no fim das frases durante um bate-papo com seu sacerdote favorito.

Eles, os líderes religiosos, não querem as pessoas raciocinando por saberem que as chances de o rentável negócio decretar falência sobre para 90%. Então, melhor assim, né “carneirinhos”? O pastor/bispo/apóstolo/missionário falou, então, é amém!

ORAS, E PQ AS PESSOAS LEVAM TUDO COMO VERDADE?

Simples. Pq a igreja tem uma vantagem que empresas convencionais não têm: elas entram no caminho de pessoas que passam por alguma fragilidade na vida, seja no aspecto emocional, físico, espiritual, financeiro, amoroso, familiar ou profissional. E quando estamos sensíveis a um problema ou dor, só queremos nos livrar daquilo para desfrutar o melhor da vida na busca pela felicidade plena, e ponto. Não importa o preço, a gente vai e paga.

Se a pessoa promete que Fulano vai ficar bem, essa ideia é comprada de imediato por ele, já que o próprio não aguenta mais conviver com um sofrimento que provavelmente já perdura por anos.

Mas eles, os empreendedores religiosos, sim. Eles são ótimos comerciantes e convencem (quase) qualquer um de que a qualidade de vida que tu buscas está na igreja que representam, e só. Ou seja, que lá na outra vocês vão encontrar um Deus diferente – que provavelmente não vai resolver o teu problema.

Deixe seus bens materiais e seja feliz; deixe a chave do teu carro ou da tua casa e com isso receba a chave da felicidade. É uma prática vender a cura de um Deus que nunca cobrou efetivamente por ela.

Ao estarmos fracos na fé – e também física ou emocionalmente -, nos tornamos suscetíveis ao mal-intencionado, vendo que, essa tal ‘anemia da alma’, nos impede de questionar o preço de um sorriso zero Km. A debilidade nos faz entender que sorrir não tem preço, então, abraçamos tudo aquilo que nos é colocado guela-abaixo.

Eles, como não são bobos, estão cientes a respeito dessa vulnerabilidade humana, e isso nos torna uma presa ainda mais fácil.

Não trata-se de empresas que fabricam biscoitos, meu amigo. A pauta gira em torno do segmento religioso, de igreja, da fé mercantilizada, e isso, claro, muda tudo. Lembre-se de que a ‘brincadeira’ leva o nome de Deus e tem impacto direto em sua vida e/ou na de outros milhões em todo planeta.

Estamos falando sobre pessoas que precisam de ajuda, de carinho e de milagre positivo, não de possíveis enganações e (mais) perdas além das que a vida já lhes propôs.

Uma vez minha mãe disse uma coisa que nunca mais esqueci:

– Filho, quando você faz alguma afronta ao mal, Deus vem e nos protege; agora, quando faz ou fala algo contra Deus, não tem ninguém que o defenda! – e esse ensinamento ficou marcado.

Vejo a fé como sendo algo individual e, acima de tudo, sagrada. Por isso tenho pena das pessoas que brincam com a fé dos outros, sabe? Não é raiva e nem ódio, é pena. Porque o acerto de contas será doloridamente em dobro. Eles podem adiar, mas não podem evitar.

Para Deus é assim: “Mexeu com meu povo, mexeu comigo!”. E o lema de todas as pessoas que acreditam Nele também deveria ser: “Mexeu com Deus, mexeu comigo!”, do mesmo jeito que o Próprio faz quando nos traz paz de espírito, amor, compaixão, bênçãos e livramentos diários, sem qualquer medição de esforços para isso.

No entanto, é uma prática da sociedade (que acredita em Deus) absorver os possíveis abusos que se vê/ouve a respeito do nome e do legado que o Senhor nos deixou e dos milagres que produz diariamente.

Conforme disse lá no início, entende-se como errado questionar os métodos de uma placa de igreja, e assim, deixa-se de defender Quem realmente interessa.

Deus tenha piedade.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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