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Dia do Jornalista: quais as principais dificuldades da profissão?

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Nesta sexta-feira, 7, é comemorado o Dia do Jornalista. Mais do que homenagear os profissionais da área, a data é momento de reflexão sobre os embates e desafios que a imprensa brasileira vem enfrentando no dia a dia. Pensando nisso, o Portal Comunique-se revela quais as principais dificuldades da profissão, pautado pelo depoimento de jornalistas cadastrados em sua base.

Para a pauta, produzimos ação com repórteres e editores fora do eixo Rio-São Paulo, que responderam os principais desafios que reconhecem na atividade jornalística. A maior parte dos depoimentos destacou como dificuldades os baixos salários, extenuante carga horária na jornada de trabalho e cerceamento da liberdade de expressão.

“Salários ruins, fechamento de veículos e consequente falta de vagas no mercado. Os que ficam nas redações estão sobrecarregados, acumulando cargos e horário”, declarou um profissional do Espírito Santo. Uma jornalista do Mato Grosso do Sul destacou “a falsa liberdade de expressão que é oferecida ao jornalista, já que muitas vezes a liberdade esbarra nos interesses dos patrocinadores”.

Entre as dificuldades, também foram mencionados assuntos como aproximação dos profissionais da imprensa com lideranças políticas. “Como jornalista interiorano, vejo que a maior dificuldade para quem é jornalista no Brasil está nesta aproximação indecorosa da comunicação com o poder. Existe muito ‘jornalista’ no país vendendo imagem e opinião, sem falar na vinculação de outros tantos com ideologias e partidos políticos”, disse o jornalista Belmiro Deusdete.

Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Eneida da Costa afirma que as principais dificuldades em exercer o jornalismo no Brasil são a “espetacularização da notícia, ausência de profissionais jornalistas independentes nas grandes corporações de mídia, o engajamento político-partidários das grandes empresas de comunicação, a falta de observância, ou até mesmo o total desprezo pelos princípios clássicos do jornalismo”.

A proliferação de fake news e o sensacionalismo também foram apontados. No julgamento dos profissionais participantes da ação, este tipo de notícia fere a ética jornalística e acarreta na falta de credibilidade da classe diante do público consumidor de notícia, prejudicando os aqueles que fazem trabalho sério.

Queda do diploma prejudica a profissão

Outra crítica à imprensa no Dia do Jornalista foi relacionada a não-exigência do diploma para exercer a profissão. “Somos aqueles que vão para a chuva se molhar. E o pior é que nos molhamos junto aos milhares de pseudojornalistas, que estão aí na rede distribuindo informação ‘de qualquer jeito’. Esta também é grande dificuldade, que contribui para o cenário de desvalorização da classe, pois todo mundo ‘pode ser jornalista’; não precisa de diploma”, destacou a jornalista Lauren Krause.

“A maior dificuldade é o mercado de trabalho, sem oportunidades para profissionais capacitados e mais experientes, principalmente após a desregulamentação da profissão, não se exigindo mais a formação acadêmica”, disse o jornalista William Saliba.

Repórter do Jornal Bom Dia, do Rio Grande do Sul, Najaska Martins falou sobre a importância do diploma no trabalho da imprensa. “Acredito que hoje, além da dificuldade de reconhecimento da importância de uma graduação para exercer a profissão – o que implica em grande quantidade de pessoas atuando sem muitas vezes sequer terem qualificação para tanto – um dos principais desafios está relacionado ao cumprimento das diretrizes trabalhistas no que se refere à carga horária, conquista de salário digno e mesmo de condições de trabalho”, declarou.

Mudanças no modelo de trabalho e a troca pelo entretenimento

Alguns participantes da pesquisa mencionaram como dificuldades da profissão o fato de muitos gestores serem apegados em modelos tradicionais de trabalho e resistirem as mudanças tecnológica. “A maioria receosa demora demais em quebrar paradigmas em novos modelos de comunicação que resultam na perda de receita. Consequentemente, reduzem os investimentos, passam dificuldades financeiras e comprometem a qualidade do jornalismo”, afirmou o jornalista Fernando Hessel, do site Canal 24 Horas.

Professora associada dos cursos de jornalismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Joana Belarmino avaliou que a maioria das informações jornalísticas virou notícia de fácil consumo, o que faz com que a imprensa foque em fatos leves que se disseminem com rapidez e logo sejam substituídos.

“O jornalismo investigativo, de apuração e de aprofundamento não tem terreno nessa seara do lúdico e do entretenimento. As bancadas de TV são verdadeiros espaços para o riso e a comicidade, ainda que estejamos mergulhados num dos mais difíceis períodos históricos do nosso país”, declarou a profissional na ação do Dia do Jornalista.

Joana disse, ainda, que a situação leva a outra questão preocupante: a precarização do trabalho do jornalista. “Para a ludicidade, para o divertimento, parece que não se necessita de muito pensamento crítico. Então, qualquer um pode exercitar jornalismo dessa natureza. A mídia comercial nos encaminhou para um beco sem saída. Há que se ter uma ‘pauta única’, mas ela deve ser leve, prosaica, os jornalistas devem poder produzir narrativa que se encaixe em qualquer horário, dispositivo e formato”.

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Tácila Rubbo

Formada em jornalismo pela Fiam-Faam. Foi trainee de redação do Portal Comunique-se de setembro de 2016 a abril de 2018. Começou na empresa como estagiária, função que desempenhou por um ano e dez meses. Depois, foi a responsável pelo conteúdo de parceiros publicado no site, avaliando os materiais recebidos e mantendo contato com os “articulistas-parceiros”. Cuidou de produções externas e, claro, produziu notas e reportagens especiais. Desde maio a agosto de 2018, foi analista de social media do Grupo Comunique-se.

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