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Novas tecnologias no fotojornalismo brasileiro

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Beatriz Arruda (**)
Na terça-feira, a 10ª Semana de Fotojornalismo voltou-se para a discussão das transformações no fotojornalismo advindas das novas tecnologias. Além disso, a mediadora Simonetta Persichetti e os convidados Guilherme Tosetto e Rafael Vilela, debateram sobre o que está se tornando a fotografia e para onde ela está caminhando.
Na introdução, Simonetta Persichetti, professora da Cásper Líbero, citou frase do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado que dizia que a fotografia não iria mais existir daqui há 20 anos, provocando os convidados e o público. Em seguida, declarou que no século XIX, quando foi inventada a fotografia, foi decretada a morte da pintura, o que não ocorreu, e garantiu que a fotografia, ou melhor, a imagem, nunca esteve tão viva.
Segundo ela, atualmente há multiplicidade de meios para divulgar as fotografias, pois as plataformas são inúmeras e até a televisão já incorporou a imagem fixa nos vídeos, “abrindo novas possibilidades do olhar, novas possibilidades de construção da imagem, mas acima de tudo, uma resignificação da imagem”. E, por fim, acrescentou que, apesar do fotógrafo ser o verdadeiro jornalista, infelizmente na imprensa tradicional o valor da imagem é ignorado, muitas vezes servindo apenas como acompanhamento descontextualizado para a matéria.
Rafael Vilela, do portal de jornalismo independente Mídia Ninja, prosseguiu e disse que estamos vivendo a segunda onda de democratização da fotografia, possível com a internet e com o crescimento dos coletivos fotográficos. Hoje em dia não é preciso trabalhar nos grandes veículos para ser um fotógrafo. Há uma autonomia muito maior possibilitando que cada um “guie e reproduza suas próprias narrativas”. Além de ser mais fácil se organizar e reproduzir você mesmo as suas próprias fotos, outra vantagem é não precisar seguir linha editorial.
Vilela também ressaltou a importância dos coletivos, que começaram a surgir com as manifestações de 2013, para a ocupação dos espaços de narrativa. Fortemente ligado com a internet, essas organizações independentes conseguem distribuir as fotos em tempo real, com velocidade e qualidade muito maior que os grandes veículos, gerando grande reação nas redes sociais.
Em seguida, Guilherme Tosetto, mestre em Multimeios pela Unicamp, tendo tido experiências na grande imprensa, contou que antes de 2013 as fotografias não acompanhavam a velocidade da notícia e, na maioria das vezes, as imagens publicadas eram frames de vídeos ou fotos fora de contexto. Após as manifestações e o surgimento dos coletivos, que estavam na rua acompanhando os protestos e fazendo boas imagens, a situação mudou. A grande imprensa sentiu a necessidade de colocar também os seus fotógrafos na rua e a notícia sem fotografia passou a ter bem menos destaque nos sites e redes sociais.
Persichetti voltou a fomentar a discussão, chamando a atenção para o fato de que muitas pessoas estão fotografando as mesmas coisas e questionou se isso não promove a banalização das imagens: “Será que hoje ganha quem aperta primeiro o botão de enviar, não importa o que está sendo enviado, será que eu realmente consigo definir uma estética ou eu fico com uma estética vazia de conteúdo, só manchas correndo em frente da tela?”, disse.
Tosetto apontou que nós nunca estamos satisfeitos com uma imagem só e o modo como vivemos está muito ligado às imagens, por isso precisamos do maior número de imagens disponíveis, para ver o que é verdadeiro, decidir o que é mais agradável para nós. Também relacionou esse fenômeno com o conceito de pós-verdade, pois prioriza-se mais as crenças pessoais e o que agrada, do que a perturbação.
Vilela também salientou que ocupar os espaços com a fotografia se faz necessário e que com pouco se pode fazer muitas coisas, principalmente se utilizada a coletividade para potencializar o individual. Também frisou a importância do empoderamento da narrativa, ou seja, dar aos coletivos e movimentos, como o feminista e negro, por exemplo, o empoderamento tecnológico para que eles tenham autonomia para a criação de suas narrativas, de suas imagens.
Outro ponto do debate foi a questão dos vídeos estarem superando a fotografia. Guilherme disse que ao mesmo tempo que o vídeo distancia a foto, cada vez mais ele se parece com uma, principalmente por conta da sua duração, progressivamente mais curta e instantânea, como uma imagem. Rafael afirmou, por sua vez, que a fotografia está muito mais ligada com a abordagem e conexão com as pessoas e que imagem bem composta, apesar de todos os outros modos de reprodução, sempre vai ter a força de mobilizar.
Por fim, entrou-se na discussão da preservação da memória e da fragilidade da imagem digital, pois apesar de sua força de reprodução e recepção, ela pode sumir ou cair no esquecimento com muita facilidade. Após as perguntas do público, relacionadas principalmente a este último tópico e ao funcionamento de organizações coletivas como o Mídia Ninja, a noite de terça-feira terminou com o sorteio de um exemplar da revista Zum, do Instituto Moreira Salles.
(*) Estudante de jornalismo da USP e integrante do projeto Correspondente Universitário do Portal Comunique-se.
(**) Conteúdo publicado originalmente no site Jornalismo Junior.
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