Ser jornalista no Brasil é um desafio vivenciado por milhares de profissionais diariamente. Trabalhar com informação em um país marcado pela desigualdade sociorregional não requer apenas o investimento em recursos humanos, como uma equipe bem treinada ou tempo para elaborar reportagens investigativas. Tornar financeiramente sustentável um empreendimento jornalístico é o duplo desafio que os veículos independentes enfrentam hoje.
Financiamento coletivo, parcerias público-privadas, editais, publicidade, assinatura fixa e branded content são algumas das diversas estratégias utilizadas para viabilizar o negócio, conforme relatam dez meios independentes das cinco regiões brasileiras ouvidos pela Abraji.
De acordo com o estudo Ponto de Inflexão Internacional, elaborado pela SembraMedia, que analisa o impacto dos empreendedores de mídia digital na América Latina, Sudeste Asiático e África, a maioria das 200 mídias incluídas na pesquisa não sofreu enormes perdas financeiras durante a pandemia de Covid-19, como ocorreu com a mídia tradicional.
“Nossa análise sugere que isso é devido principalmente ao fato de elas não serem excessivamente dependentes da publicidade e porque os financiamentos para a mídia via subvenções aumentaram em 2020”, diz o relatório.
O financiamento via subvenções inclui recursos de fundações privadas, investidores filantrópicos, como Google e Facebook, bem como subsídio de organizações governamentais nacionais e internacionais.
Segundo a pesquisa, apenas em 2019 a principal fonte de receita dos veículos entrevistados da América Latina é proveniente de subvenções privadas ou de organizações filantrópicas, representando 32% do fluxo total de caixa.
Para compreender este cenário no Brasil, a Abraji entrevistou profissionais empreendedores de: Amazônia Real e As Amazonas (Norte); Ponte Jornalismo e Alma Preta Jornalismo (Sudeste); Jornal Plural e 100fronteiras (Sul); Agência Tatu e Mídia Caeté (Nordeste); Rádio Noroeste e Revista Badaró (Centro-Oeste). Na lista, vão desde podcasts que buscam patrocínio para se sustentar até sites de notícias que alcançam milhões de leitores por ano.
De acordo com a quarta edição do Atlas da Notícia, publicada em janeiro de 2020, os municípios sem veículos independentes de jornalismo, chamados de desertos de notícia, impactam a vida de 37 milhões de pessoas. Isso significa que 18% da população nacional não possui uma cobertura noticiosa própria, dificultando a fiscalização do poder público e de acontecimentos específicos em pequenas localidades pelo país.
O Atlas também aponta que as regiões do Norte e Nordeste são as que possuem uma proporção maior desse vácuo de informação. De 450 municípios do Norte, 323 (71,8%) são desertos de notícia; no Nordeste, de 1.794 municípios, há um total de 1.318 (73,5%) sem veículos jornalísticos que não sejam exclusivamente dependentes do Poder Público.
Apesar do cenário desafiador que ambas as regiões enfrentam, as projeções para o jornalismo em 2022 indicam o fortalecimento de iniciativas independentes e do empreendedorismo dos profissionais. É o que apontam jornalistas e pesquisadores brasileiros no especial “Jornalismo no Brasil em 2022”, a convite do Farol Jornalismo e da Abraji.
O artigo de Laércio Portela, da Marco Zero Conteúdo, destaca que, em 2022, o jornalismo oferecerá novas referências de colaboração, escuta e distribuição. “O Norte e Nordeste do Brasil mostram como o jornalismo hiperlocal estará mais atento às suas próprias comunidades a partir de um jornalismo mais engajado, mas não menos rigoroso”, escreveu Portela.
Criada em 2013 pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, a agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real é uma organização sem fins lucrativos que tem como proposta dar visibilidade às populações e questões da Amazônia. Os valores de equidade, igualdade, diversidade e justiça social e ambiental servem como um guia criterioso para a escolha das fontes de financiamento.
A sustentação financeira da Amazônia Real é baseada em três vias: doações de leitores, parcerias com instituições filantrópicas e parcerias com empresas privadas. A agência optou por não receber recursos públicos nem trabalhar com publicidade para garantir a independência editorial.
“A Amazônia Real é uma gota dentro desse riozão que trabalha dessa forma, porque, no jornalismo da região Norte, infelizmente a maior parte dos veículos ainda são muito dependentes de dinheiro público”, afirma Elaíze Farias, fundadora e editora de conteúdo da agência.
Ao longo desses oito anos, a agência diversificou seu fluxo de caixa firmando diversas parcerias. A Fundação Ford foi o primeiro financiador no âmbito do projeto de Acesso à Mídia e, desde 2014, subsidia a manutenção da agência. Confira mais sobre os financiadores aqui.
Durante a pandemia de covid-19, a Amazônia Real foi uma das 5.300 redações jornalísticas do mundo selecionadas pelo Google News Initiative através do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo. A agência também mantém o projeto “Marcas da Covid na Amazônia”, financiado pela Open Society Foundations, sobre a cobertura da pandemia.
“O jornalismo da Amazônia Real é regional, mas com impacto global muito maior do que se fosse um jornalismo nacional abordando determinado assunto. Como estamos aqui, entendemos melhor a dinâmica do que está acontecendo e dos personagens com os quais conversamos diretamente”, afirma a jornalista.
O podcast As Amazonas foi criado com o intuito de apresentar, de forma descontraída, as notícias que pautaram Manaus, Brasil e o mundo durante a semana. Desenvolvido pelas jornalistas Aruana Brianezi, Daniela Assayag e Liege Albuquerque, o programa utiliza diversos formatos para tratar dos temas abordados, desde comentários opinativos até entrevistas e episódios temáticos.
Apesar da inauguração recente, em jul.2021, a equipe do podcast foi convidada pela Embaixada e Consulados dos Estados Unidos, em parceria com a Abraji, para dar um curso online, ao vivo e gratuito a jornalistas e radialistas que já atuam na divulgação de notícias e informações do interior da Amazônia e do Nordeste, durante todo o mês de novembro.
Atualmente, As Amazonas não possuem um patrocínio ou financiamento fixo, toda a produção é feita de forma gratuita no estúdio da Jovem Pan. Apesar das três jornalistas possuírem outro emprego como forma de renda e trabalharem atualmente de forma voluntária na elaboração do podcast, a proposta para a segunda temporada, que será lançada em 2022, é buscar financiamento.
“Começamos a fazer o podcast porque queríamos muito voltar ao dia a dia do jornalismo, que é tão interessante. Queríamos experimentar esse novo modelo. E estamos absolutamente apaixonadas”, afirma Liege Albuquerque.
Para a jornalista, os desertos de notícia da região Norte e a grande concentração de veículos e mídias no Sudeste é uma preocupação crescente. Ela explica que as pessoas acabam sempre citando podcasts do Sudeste. “Todos os grandes podcasters que você vê são sempre ligados a algum grande conglomerado, né?”, pontua.
Albuquerque também aponta que As Amazonas já possui uma audiência consolidada: a maioria do público é de Manaus, de 35 a 50 anos. “A gente só quer crescer no número. Essa é a idade que a gente quer tendo em vista os assuntos de que a gente trata”, acrescenta.
Fundada em 2017 por três estudantes de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a Agência Tatu de Jornalismo de Dados surgiu com o objetivo de produzir reportagens relevantes sobre o estado de Alagoas a partir da exploração e visualização de dados.
A sustentação financeira é 100% proveniente de parcerias com empresas privadas, instituições públicas e ONGs, fornecendo desde projetos de checagem de fatos, produção de matérias com dados até reportagens especiais. Já a produção de conteúdos jornalísticos próprios da agência é feita de forma voluntária pelos 6 membros da equipe, disponível de forma gratuita no site. Apesar de não trazer lucro direto, funciona como um mecanismo de impacto e visibilidade da mídia nordestina.
Para Lucas Thaynan, diretor de visualização da Tatu, a importância da agência está em dar luz aos fatos que muitas vezes estão escondidos nos dados e ainda estimular o surgimento de outras iniciativas como essa em todo o Nordeste. A agência foi a única iniciativa do Norte e Nordeste a ser selecionada no ano passado no Startup Lab, programa de aceleração do Google News Initiative voltado a startups de mídia do Brasil.
A agência também oferece serviços que não são diretamente jornalísticos, como em projetos de User Interface (UI), que atua em desenvolvimento de páginas web, programação de códigos de automação e design gráfico.
A audiência da Tatu vem crescendo de forma gradativa. Os conteúdos que mais geram acesso ao site são as páginas interativas de ferramentas desenvolvidas pela própria agência, como o Monitor da Covid-19 em Alagoas, o Litrômetro, ferramenta que monitora diariamente o preço da gasolina em Maceió, e o app Abastece Maceió, que mostra em tempo real os preços dos combustíveis nos postos da capital alagoana
A Mídia Caeté surgiu em meio à pandemia e diante de uma crise para os jornalistas em Alagoas, que sofreram investidas para redução de salário e demissões em massa nas corporações de imprensa. A iniciativa é uma plataforma multimidiática voltada a reportagens especiais, investigativas e com independência editorial.
Fundada como uma cooperativa sem fins lucrativos e com modelo de negócio que exclui a publicidade e o financiamento por políticos locais, a Mídia Caeté aposta na sustentação financeira a partir de três vias: editais, campanhas de financiamento coletivo e trabalhos de comunicação para organizações focadas em direitos humanos.
Para Marcel Leite, editor da Mídia Caeté, um dos objetivos é romper com a invisibilização de territórios, comunidades e grupos sociais mais vulnerabilizados. “Embora tenhamos desafios grandes para crescer em Alagoas, percebemos a relevância da iniciativa quando somos procurados exatamente pelas pessoas negligenciadas e quando temos oportunidades riquíssimas de inserção e trocas dentro dessas comunidades”, afirma.
Atualmente, a equipe composta por oito integrantes presta serviço de assessoria de comunicação para o projeto “Todos têm direito à vida. Todos têm direito igual”, iniciativa liderada pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos Zumbi dos Palmares (Cedeca Zumbi dos Palmares). “Através da parceria, conseguimos viabilizar alguns custos de estrutura mais básicos da Caeté – tipo o aluguel”, conta Leite.
A parceria com outras empresas jornalísticas também foi adotada. Ao lado de nove organizações jornalísticas independentes no Nordeste, a Mídia Caeté foi selecionada na edição 2021 do Google News Initiative Innovation Challenge com o projeto “Acessibilidade jornalística: um problema que ninguém vê”, que oferecerá uma solução integrada para o problema de falta de conteúdo jornalístico para pessoas cegas e com baixa visão.
Especializada na temática racial no Brasil, a agência Alma Preta conta neste fim de 2021 com seis formas de arrecadação de receita. São elas: subvenção de entidades do terceiro setor, publicidade, editais para empresas jornalísticas, consultorias, doação de apoiadores e produção de conteúdo para terceiros. Mas nem sempre foi assim. O portal começou em 2015 como um trabalho de conclusão de curso de alunos da UNESP de Bauru-SP e, de início, financiou-se com a venda de camisetas.
O trabalho dos jornalistas Pedro Borges, Solon Neto, Vinícius de Araújo e Vinícius Martins ganhou atenção da audiência a partir da percepção de um vácuo na cobertura da mídia tradicional. “O negro, maior parte da população [54%, de acordo com o IBGE], é personagem quase sempre na mesma editoria: segurança pública. Nós sentíamos falta de nos ver em cultura, política, economia etc”, diz a coordenadora de projetos da Alma Preta, Marina Nascimento.
Com a expansão de audiência do veículo e o trabalho com foco na luta contra o racismo e no desenvolvimento da cultura negra, veio o primeiro apoio institucional — tanto financeiro, quanto em formação — da Open Society, via Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas. Até 2020, as subvenções do terceiro setor significavam 80% das rubricas da Alma Preta, informa Nascimento.
No processo de formação, a Open Society incentivou o veículo a buscar novas fontes de financiamento. Em 2019, o portal lançou a campanha de arrecadação via Catarse, que levanta R$ 8.500 por mês e ganhou fôlego com o fortalecimento dos movimentos negros, após os assassinatos de George Floyd, nos EUA, e do garoto João Pedro Mattos, de 14 anos, no Rio de Janeiro.
Outra fonte importante passou a ser a receita publicitária. Para conseguir concorrer em audiência com gigantes da internet como G1 e Uol, Elaine Silva, sócia da Alma Preta, fundou, junto à agência de marketing digital Zygon, a Black AdNetwork. A rede congrega 28 coletivos negros de mídia para distribuição de conteúdo publicitário. Pelo valor de contratação, os anúncios oferecidos pela iniciativa circulam em todos os sites parceiros.
Atualmente, além de ter crescido, 50% da receita da Alma Preta vem de subvenções e 50% das outras fontes. O maior fluxo de caixa permitiu que, dos quatro cofundadores, o veículo conte em 2021 com uma equipe multiprofissional de 27 pessoas. Nascimento relata que neste ano a agência produziu 60% a mais de matérias do que em todo ano de 2020, o que teve reflexos na produção de conteúdos para terceiros e deve ter na audiência.
No ar há sete anos, o site aborda segurança pública com um olhar direcionado aos direitos humanos. Foi apenas em 2020 que a Ponte Jornalismo deixou de ter uma estrutura informal de empresa para se tornar um meio de comunicação com funções e responsabilidades de equipe bem definidas. O movimento culminou no lançamento do programa de membros “Tamo Junto”, em out.2020.
Esse processo foi acelerado por meio de aportes e mentorias pelo Fundo Velocidad, conduzido pelo ICFJ (Centro Internacional para Jornalistas, em tradução livre). De acordo com o diretor de redação Fausto Salvadori, os consultores do programa ajudaram a equipe da Ponte a entender o conceito de membresia (contato direto com seus leitores financiadores), com estudos de casos de veículos como o inglês Guardian, o espanhol El Diário e o argentino Página 12.
“Nós nem sabíamos exatamente o que era um programa de membros quando entramos para o Velocidad”, lembra Fausto Salvadori. “Aprendemos como é a relação dos membros com um meio jornalístico, como os membros querem ser parte da construção do veículo, e como isso é diferente da postura de assinantes ou dos doadores”, detalha.
Além do Tamo Junto, a Ponte arrecada receita via aporte de fundações, venda de conteúdo e serviços e, ainda de maneira incipiente, publicidade e branded content, segundo Salvadori. Em 2020, o site recebeu cerca de 12 milhões de visualizações, número que deve se repetir em 2021.
“As newsletters são um instrumento muito importante para a fidelização do público, porque nos permitem estar na caixa postal das pessoas, conversando com elas. A partir daí, buscamos transformá-las em membros, com a oferta de que, como membros, podem conversar diretamente com a redação no nosso grupo de WhatsApp, sugerindo pautas e discutindo a cobertura do dia a dia, além de receber reportagens especiais antes de todo mundo e participar de eventos exclusivos”, explica o diretor de redação.
O Jornal Plural foi criado em 2018 por três razões: a insatisfação com as redações da capital paranaense e a vontade de fazer um jornalismo preocupado com a comunidade reuniu a então professora Rosiane de Freitas e o cartunista Benett, que também ocupa uma coluna de charges na Folha de S.Paulo. E, por fim, com a demissão do jornalista Rogério Galindo da Gazeta do Povo.
Formado por profissionais calejados no mundo editorial, o veículo arrecada cerca de 80% de sua receita de duas fontes: publicidade e apoio de assinantes. A informação é da coordenadora-geral do site, Rosiane. Foi ela quem traçou o modelo de negócios do Plural, que tem na venda de produtos e nas parcerias comerciais outros alicerces.
Rosiane explica, contudo, que não é qualquer propaganda que ganha espaço. “Não aceitamos dinheiro de governos. Não fazemos publieditorial de produtos questionáveis, como marca de cigarro ou site de apostas. Como a gente valoriza muito nosso propósito, a gente acaba recusando várias propostas, o que deixa o nosso diretor comercial p. da vida”, diz.
Isso não é sem motivo, de acordo com ela. Por sua característica local, o veículo busca manter uma relação de proximidade com o leitor, o que envolve compartilhar princípios. O jornal digital não impõe paywall aos seus leitores, por exemplo.
“É importante para o nosso assinante que o conteúdo continue aberto para prestar um serviço para a cidade. Até contra a desinformação é importante deixar a boa informação aberta”, argumenta a coordenadora-geral.
“A gente começou com uma campanha de crowdfunding. A adesão começou a vir de pessoas que acreditavam no jornalismo que a gente vende, local, dedicado à comunidade e de qualidade”, acrescenta.
Essa proximidade com a audiência rendeu produtos que não se encaixariam nas três editorias do Plural: Poder, Vizinhança e Cultura. A partir de uma parceria com um espaço voltado à culinária de Curitiba, o veículo lançou, por exemplo, o podcast Gastronautas, sobre gastronomia — tema recorrente nos pedidos do público.
Como os podcasts mostraram-se uma boa forma de conquistar parceiros, o jornalista Rogério Galindo deixou a direção de redação e, atualmente, comanda as séries em áudio.
Na soma das áreas editorial e comercial, o Plural tem neste dez.2021, 13 funcionários e uma estagiária, além de ilustradores e colunistas que atuam voluntariamente para o site. E conta com audiência média de 300 mil a 400 mil usuários únicos mensais, com picos alcançando 500 mil.
Produzindo jornalismo independente há mais de quinze anos, o Grupo 100fronteiras faz uma cobertura trinacional da Argentina, Brasil e Paraguai com objetivo de conectar as comunidades. O veículo que antes contava apenas com a revista impressa hoje comporta um portal de notícias, mídias digitais, conteúdo patrocinado, eventos de experiência e uma editora.
Para o publisher e sócio da empresa Denys Grellmann, a 100fronteiras nasce com a proposta de ser um um veículo de comunicação local em constante evolução. “Desde seu início, a 100fronteiras traz no seu DNA a integração da comunidade da Tríplice fronteira, buscando uma mensagem de acolhimento e pertencimento de uma região que não temos leis e representantes”, afirma.
A empresa que conta com oito profissionais na equipe deixou de ser paper first para digital first recentemente, durante a pandemia. A constância ininterrupta de 193 edições impressas da revista, mesmo durante a crise de covid-19, gerou respeito na comunidade de empresários e investidores que buscaram divulgar seus serviços nos três países e abriu portas para ampliar o modelo de negócio da empresa.
Segundo Grellmann, o Grupo 100fronteiras está buscando novas fontes de renda, seja por assinatura ou com a venda de novos produtos digitais, para não depender apenas da publicidade paga. Uma das saídas é o branded content.
Em um ano investindo no negócio digital, a empresa conseguiu aumentar em mais de 1.200% o número de novos usuários. Atualmente, o Grupo está trabalhando em um novo produto chamado de Clube Sem Fronteiras para fidelizar mais seu público.
A 100fronteiras foi um dos veículos que participaram do curso Jornalismo Local, da Abraji. Grellmann afirma que a participação foi de extrema importância para atualizar a equipe com conteúdos aprofundados e inéditos e incentivar a busca por independência financeira.
Iniciativa hiperlocal que atende a região noroeste da capital goiana, a rádio nasceu em out.2019 da articulação de sindicatos locais sob o chamado do comunicador popular Valdeci Borges, atual diretor do conselho gestor do veículo comunitário.
“Várias entidades da região ajudaram com um total de R$ 26 mil. O Sindsaúde-GO [Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás], por exemplo, investiu R$ 13 mil na antena de transmissão. O Sintep-Go [Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado de Goiás] entrou com outra parte”, recorda Borges.
Para seguir no ar, a rádio apostou nos primeiros meses em vender tempo publicitário para comerciantes locais. Porém, veio a pandemia em mar.2020. “O Brasil inteiro fechou. A frutaria da esquina também”, exemplifica o diretor da Rádio Noroeste, que perdeu vários anunciantes no período.
O socorro veio, mais uma vez, de entidades profissionais, segundo Borges. “Passamos o ano de 2020 sobrevivendo com contribuições”, diz. Dono de um programa na grade desde o lançamento da rádio, o Sindsaúde-GO doa à rádio R$ 2 mil por mês. É o único patrocinador fixo, com banner no site do veículo.
O diretor da mídia comunitária quer expandir a prática a outros sindicatos e associações. “Queremos articular um rodízio. Cada entidade poderia pagar em um mês”. Ele ressalta que o microfone da rádio é aberto aos moradores da região. “Temos um programa novo, por exemplo, feito por um coletivo de rap”.
Borges foi reeleito ao cargo em nov.2021 junto a um novo conselho gestor. Para o atual ciclo, há novos planos como concorrer a editais para promoção de eventos culturais e organizar uma campanha de reciclagem para coletagem e venda de latinhas de alumínio. “Depois da covid-19, nós resistimos. Agora é hora de avançar”, avalia.
A Rádio Noroeste participou do Comprova + Comunidades, que integrou oito coletivos jornalísticos independentes e comunitários à iniciativa de checagem liderada pela Abraji. “Foi muito importante para nós. Além de pagar nosso primeiro computador, formou dois jovens profissionais da nossa redação e nos deu projeção. Ganhamos credibilidade com o morador local que via nossa logo do lado da Folha”, comenta Borges. O Comprova reúne 33 empresas de imprensa para fazer a checagem de notícias.
Fundado há dois anos, o site com foco em jornalismo em quadrinhos e produção audiovisual passou a se profissionalizar no fim do ano passado. A revista digital lançou em outubro de 2020 um plano de assinatura via PicPay e começou a procurar parcerias com comércios e iniciativas locais para angariar recursos.
Atualmente, vigoram, por meio da produção de conteúdos publicitários, parcerias com um restaurante vegetariano e com um festival de música que ocorre em Campo Grande. “A última tem gerado produtos visuais, em que a Badaró aparece como parceira do evento. Já com o restaurante, são produzidos materiais informativos sobre o local, mas também sobre a iniciativa de alimentação vegetariana”, detalha o cofundador da revista Guilherme Correia.
A equipe enxuta ainda é um entrave para os projetos do site. São 11 criadores de conteúdo e três colunistas. “Por um tempo, encaminhávamos newsletters, mas que se perderam por conta de outras demandas e falta de tempo. A atividade em redes sociais é a principal estratégia de contato com o público”, afirma Correia.
Ele, que também é diretor de audiovisual, considera a audiência da Badaró nichada, mas ressalta, na audiência, a participação de seguidores de fora de Campo Grande, onde está baseada a equipe do veículo. “No Twitter e Instagram, há cerca de 2,4 mil seguidores, e o site tem uma média de quase 400 leituras por publicação”, diz.
Correia avalia que, apesar da audiência mais restrita, o público da Badaró consome conteúdo ativamente — compartilha e dá feedbacks. “Se nosso público pertence a um nicho, seja pela abordagem declaradamente de esquerda ou pelo uso primordial de jornalismo em quadrinhos, não diria que foi algo proposital”.
*Texto originalmente publicado no site da Abraji
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