São Paulo – SP 20/7/2021 –
Dados oficiais mostram, apenas, casos previstos nos estados e capitais
Análise realizada pelo Observatório de Oncologia traz uma estimativa sobre o panorama do câncer de mama em todas as 5.570 cidades do país. Segundo os dados, no ano passado, cerca de 86% dos municípios brasileiros apresentaram expectativa de novos casos por ano inferior a 10. Apenas 2% (95 municípios) registraram mais de 100 casos ao ano. Apesar de, em números absolutos, a incidência ser baixa, cerca de 30% dos locais tiveram estimativa da taxa de incidência ajustada superior aos números estimados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), de 43,74 novos casos por 100 mil mulheres.
Dentre os 30% dos municípios com a estimativa da taxa de incidência superior à nacional, 72% estão na região Sul e Sudeste: 44% (741) estão localizados na região Sudeste e 28% (483) na Região Sul. Por outro lado, os 30% de municípios com menores estimativas de incidência apresentaram taxa ajustada inferior a 23,10 novos casos por 100 mil mulheres. Dentre estes, 41% (687 municípios) estão localizados na região Nordeste e 19% (320) estão localizados na região Norte.
“Precisamos tomar alguns cuidados ao avaliarmos esses dados. Temos dificuldade de identificação dos casos, por conta do número pequeno de diagnósticos em algumas cidades, com menos de 10 mil habitantes”, afirma o médico Luiz Antonio Santini, ex-diretor do INCA e integrante do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer. “É preciso treinar a equipe de saúde básica para suspeitar do câncer de mama, já que o rastreamento por mamografia nem sempre é possível em determinadas regiões. Não há mamógrafo em todos os lugares”, ressalta.
Embora os municípios do Norte e do Nordeste registrem as menores estimativas de incidência do câncer de mama, os estados destas regiões também apresentam as maiores taxas de letalidade pela doença, uma vez que este índice costuma estar associado a menor desenvolvimento socioeconômico.
“É muito importante a dimensão municipal nas ações de monitoramento do câncer, pois as políticas públicas, sobretudo de prevenção e rastreamento, são de responsabilidade dos gestores municipais que, por sua vez, atualmente, não dispõem de dados dos seus municípios, dificultando, assim, a elaboração de planos de prevenção e controle do câncer de mama adequadas para a sua realidade local”, destaca o pesquisador e cientista de dados do Observatório de Oncologia, Nelson Correa.
As taxas elevadas de incidência do câncer de mama estimadas para as cidades das regiões Sul e Sudeste, em comparação com os estados do Norte e Nordeste, evidenciam que a doença impacta de maneira significativa a saúde das mulheres brasileiras, além do sistema como um todo. O câncer de mama é a neoplasia maligna mais frequente entre as mulheres em todo o mundo. No Brasil, o INCA estimou para 2021 mais de 66 mil novos casos. Além disso, o tumor de mama é atualmente a terceira causa de óbitos por câncer no país, com 18.296 óbitos em 2019.
“Existe um número significativo de mulheres que não está alcançável para a detecção precoce do câncer de mama. Por falta de capacitação da atenção básica e por falta de acesso à tecnologia. Não está claro qual o caminho a seguir, pois a navegação das pacientes não é adequada. E isso também acontece nos grandes centros”, acrescenta Santini.
O estudo evidenciou, ainda, que cerca de 98% dos municípios brasileiros apresentaram uma estimativa de incidência em números absolutos menor de 100 casos. Este cenário de grande dispersão é um desafio para a gestão de saúde e destaca a importância de os estados possuírem um sistema eficiente de regulação de oferta dos serviços de saúde. Assim, mesmo as pacientes residentes em municípios com pouquíssimos casos podem ser diagnosticadas precocemente e encaminhadas para o início imediato do tratamento.
É importante destacar que o presente estudo é uma estimativa e possui algumas limitações. A principal delas é a análise de que a relação entre a incidência e mortalidade por câncer de mama do estado é constante em todos os seus municípios. Além disso, os dados de incidência dos estados são as estimativas realizadas pelo INCA, e a incerteza sobre estas estimativas replica-se nos números dos municípios. As informações utilizadas na pesquisa, ainda, utilizam dados populacionais diferentes dos utilizados pelo INCA, devido ao nível de desagregação necessário para as análises por cidade.
Os resultados finais, no entanto, demonstram que a estimativa da incidência do câncer de mama dos municípios para o ano de 2020 apresentou grande concordância com as estimativas estaduais e nacional realizadas pelo INCA. Desta forma, as análises feitas pelos pesquisadores do Observatório de Oncologia configuram como uma importante ferramenta de gestão de saúde pública, que poderá ser utilizada por gestores e profissionais da saúde na implementação de ações de prevenção e controle do câncer de mama personalizadas às realidades locais e, consequentemente, mais eficientes.
O Observatório de Oncologia é uma plataforma online e dinâmica de monitoramento de dados abertos e compartilhamento de informações relevantes da área de câncer do Brasil. Com metodologia descritiva, os estudos buscam determinar a distribuição da doença e condições relacionadas à saúde. Todos os estudos utilizam dados governamentais abertos (DGA).
Os dados abrangem quatro dimensões: demográfica, epidemiológica, procedimentos de assistência à saúde e estrutura da rede assistencial. A produção de informação está baseada em atendimentos ambulatoriais, internações hospitalares, incidência e mortalidade do câncer.
Website: https://observatoriodeoncologia.com.br/