São Paulo – SP 11/8/2021 – Podemos aprender muito com os atletas de alta performance, tanto pela superação quanto pela coragem de determinação em procurar ajuda quando essa é necessária
Situações recentes com esportistas de ponta, como a ginasta Simone Biles trazem a questão da depressão e da ansiedade para o centro da pauta; o psiquiatra Cyro Masci indica alguns sinais e sintomas de alerta para procurar ajuda
Quando a atleta estadunidense Simone Biles, considerada uma das maiores ginastas de todos os tempos, anunciou que não iria disputar algumas provas em que era a grande favorita nas Olimpíadas de Tóquio, alegando que precisava cuidar de sua saúde mental, abriu-se um grande debate: até que ponto esportistas de alto rendimento podem suportar a sobrecarga emocional imposta pela rotina de treinos, competições e busca por recordes e medalhas?
A norte-americana relatou ter tomado a decisão de modo a preservar sua saúde mental, evitando, assim, danos à sua integridade física. Em uma competição em que são grandes os riscos de quedas, é preciso mais que um bom preparo físico. “Minha mente e meu corpo simplesmente estão fora de sincronia. Não acho que vocês entendam quão perigoso isso é nas superfícies de competições duras. Eu não preciso explicar por que coloquei a saúde em primeiro lugar”, publicou a ginasta em suas redes sociais.
O psiquiatra Cyro Masci ressalta que a sobrecarga emocional é algo que pode atingir a todos. “Tanto a ansiedade quanto a tristeza eventual fazem parte da vida de qualquer pessoa. No entanto, quando ultrapassam o limite do razoável, por exemplo, afetando as atividades do dia a dia, a vida familiar ou a alegria de viver, é necessário procurar ajuda”, alerta.
Para o especialista, quanto mais precoce for o diagnóstico e o início do tratamento com acompanhamento profissional, maiores são as chances de recuperação para casos de depressão e ansiedade. Masci destaca a necessidade de um conhecimento mínimo sobre os principais sinais e sintomas dos transtornos, destacando alguns indícios que podem indicar tais situações.
A mudança nos hábitos do dia a dia podem ser sinais incipientes tanto de ansiedade quanto de depressão, pontua Masci, especificando que “o aumento ou a diminuição da quantidade de comida ingerida, a facilidade de adormecimento, a alteração na qualidade do sono e do desejo sexual” são alguns indicativos para se ficar atento.
Estudo publicado em 2016 no periódico Frontiers in Psychology aponta que a prevalência de depressão costuma ser maior em atletas que praticam esportes individuais do que naqueles que disputam competições em equipe. Outra análise, publicada em 2018 pelo European Journal of Sport Science, após acompanhamento pelo período de um ano de atletas de elite, indicou que transtornos de saúde mental ocorreram em 5% a 35% destes esportistas.
Alguns sinais e sintomas que podem indicar o acometimento da depressão
Quando Simone Biles explicitou o descompasso de sua mente com seu corpo durante a disputa dos Jogos Olímpicos, a ginasta trouxe à tona outro sinal indicativo de transtorno mental: a dificuldade na capacidade de concentração. “O estado de ansiedade e a tristeza podem alterar as funções executivas do cérebro, o que inclui o gerenciamento do dia a dia. Isto pode acarretar em dificuldade na manutenção da atenção e da concentração em algum afazer, por mais simples que seja”, diz o especialista.
Para Masci, isso se dá pelo fato de a depressão afetar funções executivas do cérebro relativas ao despertar e à manutenção do interesse nos acontecimentos cotidianos. “A ansiedade, por sua vez, mantém um estado de alerta que prejudica a capacidade do cérebro em manter o foco, já que há um senso de perigo, ainda que difuso, que desvia as capacidades de foco para o estado de alerta”, completa.
O desânimo ou a indiferença em ocupações outrora prazerosas também são sinais que devem ser encarados com atenção. Masci cita o caso do holandês Tom Dumoulin, considerado um dos melhores ciclistas do mundo, que, em pleno ano olímpico, tirou um período sabático para, nas palavras dele, “esfriar a cabeça” – o cuidado com si próprio o fez bem, visto que o atleta faturou a medalha de prata na prova de contrarrelógio em Tóquio.
“A depressão costuma se anunciar com perda ou redução significativa e interesse nas ocupações que antes eram prazerosas, e também a sensação de que a vida perdeu qualquer significado”, diz o especialista.
Aprendendo com os atletas de alta performance
O psiquiatra afirma que muitas pessoas postergam a iniciativa de procurar ajuda profissional por preconceito ou, ainda, pela naturalização do sofrimento. “Às vezes, convivemos com outras pessoas que também estão passando por momentos de dificuldade emocional e pensamos ‘a vida é assim mesmo’. Mas não é”, diz Masci.
Neste sentido, é sintomática a campanha recentemente criada pela Fifa, batizada de #ReachOut (“estenda a mão”, em tradução livre), desenvolvida para aumentar a conscientização sobre os sintomas dos problemas de saúde mental, de modo a incentivar os atletas para que procurem ajuda especializada quando necessária.
“Podemos aprender muito com os atletas de alta performance, tanto pela luta e superação quanto pela coragem de determinação em procurar ajuda quando essa é necessária”, finaliza Masci.
Cyro Masci é médico psiquiatra, atua com abordagem integrativa, unindo a medicina convencional com abordagens não convencionais. Para saber mais, basta acessar:
Site: www.masci.com.br
Instagram: @cyromasci
Facebook: ClinicaMasci
LinkedIn: cyromasci
Website: http://www.masci.com.br
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