São Paulo, SP 8/7/2021 – O implemento de tecnologias sustentáveis para o setor produtivo, base da economia brasileira, é uma necessidade urgente
A utilização do Iodo de esgoto em solos agrícolas tem como benefício o fornecimento de nutrientes orgânicos para as culturas, sem risco de toxicidade às plantas, animais ou ao homem
A produção agrícola do Brasil, no ano de 2012, foi ameaçada pelo ataque da lagarta Helicoverpa Armigera nas lavouras, causando um prejuízo de R$ 2 bilhões à economia, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. De acordo com o relatório desenvolvido pela Blink em parceria com a CropLifeBrasil, o difícil controle da praga, que era resistente a muitos defensivos químicos usualmente aplicados, impulsionou o mercado nacional de produtos biológicos, que até então ocupavam apenas 1% da fatia da economia nacional, R$ 97 milhões, agora tem uma projeção de alcance de quase R$ 3,7 bilhões para 2030, um aumento de 175% em relação a 2020.
A introdução da lagarta Helicoverpa Armigera, cuja fêmea é capaz de colocar até 3 mil ovos durante seu ciclo de vida, surpreendeu pesquisadores pelo poder de destruição nas lavouras de soja, milho e algodão, a partir disso alguns produtos biológicos passaram a ser mais estudados e testados, informa Jéssica Guinato Rodrigues Costa, graduada em Biologia, Tecnóloga em Saneamento Ambiental, com especialização em Saneamento e Saúde Ambiental e cursando MBA em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.
“Os bioinsumos amplamente estudados e utilizados na chamada agricultura natural ou orgânica são: inoculantes, promotores de crescimento de plantas, biofertilizantes, produtos para nutrição vegetal e animal, extratos vegetais, defensivos feitos a partir de micro-organismos benéficos para controle de pragas, parasitas e doenças, até produtos fitoterápicos ou tecnologias que têm ativos biológicos na composição”, relata a bióloga.
No entanto, Jéssica lembra que outro procedimento amplamente utilizado em países desenvolvidos (como os Estados Unidos), mas pouco empregado no Brasil, ganha destaque nesse cenário. É a aplicação do Iodo proveniente das estações de tratamento de esgoto (ETE), usado como fertilizante após o processamento e rico em matéria orgânica e em nutrientes.
A disposição final desse resíduo geralmente se dá em aterros sanitários, diz a tecnóloga em saneamento, o que se tornou um dos grandes problemas ambientais urbanos. “Não é apenas pelos grandes volumes gerados, mas também pela sua composição variável, podendo conter alta composição de metais pesados, presença de centenas de compostos orgânicos tóxicos, patógenos e, ainda, possuir alto potencial de salinização ou de acidificação do solo”, explica Costa, que também é consultora ambiental em saneamento e biologia na Céries Tecnologia Ambiental, com 10 anos de experiência na área.
Conforme a especialista, o Iodo de esgoto tratado, cuja qualidade permite a reciclagem, é chamado de biossólido. Ele pode ser utilizado como matéria-prima de substratos para plantas e de condicionadores para o solo, tornando-se uma alternativa econômica, prática e ecológica não somente para a agricultura, mas também para ações de reflorestamento, especialmente em áreas de solos degradados, carentes de matéria orgânica e nutrientes, nos quais a taxa de sobrevivência das espécies costuma ser baixa.
Com a revisão da instrução normativa nº 61/2020, do Ministério da Agricultura, o fertilizante feito a partir de lodo passou a não ter mais restrição no Brasil, podendo ser permitido na produção de hortaliças, flores e plantas ornamentais.
A Terra Ambiental, empresa especializada na valorização de resíduos orgânicos líquidos e sólidos, alega que recebe cerca de 7,5 mil toneladas de esgoto por mês para produção do insumo agrícola, dos quais 70% é de esgoto sanitário. Com esse resíduo, produz cerca de 3 mil toneladas de fertilizante orgânico classe B.
“O implemento de tecnologias sustentáveis para o setor produtivo, base da economia brasileira, é uma necessidade urgente, principalmente para a manutenção do país (sendo um dos líderes do agronegócio global). Além de tudo, promove o uso equilibrado e racional dos recursos naturais a fim de se preservar o meio ambiente”, finaliza Jéssica Guinato Rodrigues Costa, com experiência em gestão e supervisão de estações de tratamento de efluentes, em projetos de novas estações quanto à qualidade e eficiência do efluente a ser tratado, em avaliação de projetos de manutenção e melhorias das estações de tratamento.
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