São Paulo – SP 6/10/2021 –
A importância da preservação da exposição de nossas crianças e adolescentes, as situações traumáticas e estressantes, no combate aos transtornos mentais, ansiedades, depressão e suicídio.
A pandemia do novo coronavírus trouxe mudanças radicais que causaram impactos em todos os tipos de atividades, afetando pessoas de todas as idades ao redor do mundo. Crianças e adolescentes, embora não tenham sido o foco principal no combate à doença, devido a não desenvolverem formas graves, mesmo assim, tiveram suas atividades cotidianas bruscamente modificadas, visando o não contágio do vírus para seus familiares mais idosos, segundo o psiquiatra de crianças e adolescentes Guilherme Polanczyk, coordenador do estudo Jovens na Pandemia, realizado pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Com base nesse estudo, com as escolas fechadas durante a pandemia, crianças e adolescentes tiveram que estudar a partir de suas casas, permanecendo longe de seus colegas e de todas as atividades do ambiente escolar. Além disso, o fechamento de lugares onde estes jovens costumam exercer o lazer, como parques, clubes, quadras esportivas, entre outros, deixaram-nos sem opções para praticarem suas atividades comuns, que são essenciais para a boa formação de um adulto pleno e saudável. Essa falta de convívio social enfrentada por crianças e adolescentes durante a pandemia veio acompanhada de um cenário altamente negativo, em que esses jovens têm passado por situações de grande estresse em seu convívio familiar. Dentre essas situações, destacam-se a perda de renda dos pais, ocasionando o empobrecimento das famílias, resultando também em falta de alimentos, de moradia, e muitas outras situações de grande dificuldade. Além disso, a perda de algum ente querido devido à doença pode ter sido uma situação extrema de trauma e de estresse para muitos desses jovens. Portanto, esse conjunto de situações de estresse tem sido a causa de transtornos mentais em crianças e adolescentes de todo o mundo.
Segundo matéria publicada pela Agência Câmara de Notícias, no portal da Câmara dos Deputados, em 17 de junho de 2021, com base em tal estudo, uma em cada quatro crianças e adolescentes no Brasil apresentou sinais de ansiedade e depressão durante a pandemia. Durante o estudo, Polanczyk monitorou a saúde mental de sete mil crianças e adolescentes de todo o país por um ano, entre junho de 2020 e junho de 2021. Com base nos dados de seu estudo, Polanczyk enfatiza que a pandemia tem sido uma situação de estresse que pode resultar no desenvolvimento ou no agravamento de transtornos mentais em jovens suscetíveis, sobretudo naqueles mais vulneráveis. Ainda segundo a matéria, a chamada “Síndrome da Gaiola”, nome dado ao medo que certas crianças e adolescentes adquirem de sair de casa e de ir à escola, em analogia ao comportamento de aves criadas em cativeiro que não saem da gaiola mesmo quando esta é aberta, foi discutida em plenário a pedido do deputado Dr. Zacharias Calil (DEM-GO) e teve sua discussão ampliada durante a sessão.
Com base no estudo, a Dra. Samira Alves da Silveira Caldeira, renomada psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental, pós-graduada em psicologia jurídica com ênfase em constelação familiar, com extensiva experiência em saúde mental pós-traumática em casos de adoções tardias e adolescentes, analisa esses transtornos. Ela explica como esses transtornos se iniciam durante a infância e adolescência e seus efeitos na fase adulta.
“É justamente na infância ou adolescência que acontecem situações de trauma ou estresse que levam aos transtornos mentais. Os seus efeitos podem se manifestar ainda na infância ou adolescência, ou muitos anos depois, já na fase adulta. Portanto, todo adulto com transtorno mental sofreu a causa desse transtorno quando ainda criança ou adolescente, por isso a importância de preservar esses jovens.”, explica ela.
A Dra. Samira também destaca os elevados números de suicídios, sobretudo entre os adolescentes, considerada a quarta causa de morte entre esses jovens em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo ela, os suicídios estão diretamente relacionados à depressão e a única maneira de combatê-los é prevenindo a exposição desses jovens a situações de trauma ou estresse. Como um fator de prevenção, ela destaca a importância de identificar os sintomas de estresse emocional que podem levar a esses transtornos, os quais podem se manifestar de forma direta ou indireta.
“É importante identificar o quanto antes essas manifestações de estresse, para melhor prevenção. Sintomas de estresse podem aparecer de maneira direta, em forma de medos e inseguranças, ou de maneira indireta, em forma de irritação e insônia.”, afirma ela.
Ao identificar os sintomas, a especialista recomenda aos pais estratégias simples para driblar as situações de mudanças bruscas enfrentadas por crianças e adolescentes ao longo da pandemia. Segundo ela, diálogos para conscientizar esses jovens sobre a nova realidade e as alternativas possíveis para a realização de suas atividades usuais têm tido efeitos significativos no combate à ansiedade e à depressão infanto-juvenil durante esse período de mudanças extremas.
“Promover, com os devidos cuidados e supervisão, o encontro virtual dos filhos com os amigos através das redes sociais, esclarecendo que, neste momento, esta é a única forma segura de se relacionar os colegas, tem tido efeitos positivos ao longo da quarentena. Também, criar atividades de recreação com as crianças tem surtido o mesmo efeito positivo. E ainda, acompanhar e incentivar os estudos online pode dar aos jovens a sensação de que eles não estão sozinhos.”, explica ela.
“Mesmo nesses momentos difíceis, atitudes simples dentro de um ambiente familiar harmonioso e saudável são a base para o enfrentamento de qualquer crise, assim como para evitar situações de estresse que podem formar futuros adultos com sérios distúrbios mentais”, finaliza a Dra. Samira.
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