1/12/2021 –
Os problemas de moradia enfrentados pela população mais pobre no Brasil podem ser resolvidos com políticas públicas de investimento em construção sustentável, de acordo com especialista.
A moradia sempre foi um sério problema social brasileiro. Muitos governos já implantaram programas de habitação, outros nunca saíram do projeto, mas nenhum tem sido suficiente para solucionar este grave problema social enfrentado pelos brasileiros ao longo da história. Com os altos custos de uma construção, grande parte da população mais pobre, sem alternativas, vê-se obrigada a morar em habitações precárias nas periferias das cidades, nas mundialmente conhecidas favelas, onde muitas vezes não há fornecimento de água potável, rede de esgoto e rede elétrica regular.
Segundo a ONG Habitat para a Humanidade Brasil, que atua para combater as desigualdades e garantir que pessoas em condições de pobreza tenham uma moradia digna, com base em dados fornecidos pelo IBGE e pelo IPEA, os índices de pobreza e as desigualdades sociais aumentaram em quase 20% no Brasil em 2020, sobretudo devido aos efeitos da pandemia. O déficit habitacional aumentou no país, com mais de 6 milhões de famílias sem moradia. Mais de 34 milhões de moradias não têm acesso a saneamento básico, equivalendo a 49,2% das casas do país, e outras 9,6 milhões de casas, equivalendo a cerca de 48 milhões de pessoas, não têm acesso à água potável. Nesta triste realidade, as mulheres pobres das regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas. Mas ultimamente surgiu uma alternativa que poderá solucionar esse problema histórico que assola o Brasil: a construção sustentável.
Construção sustentável significa construir com recursos e materiais renováveis e recicláveis. Durante os projetos de construção, deve-se ter cuidado para reduzir o desperdício e o consumo de energia sempre que possível e proteger o ambiente natural ao redor do local. Com isso, ao utilizar na construção itens produzidos a partir do reaproveitamento pode reduzir os custos da obra em até 40%, com base em estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
De acordo com dados da FGV, o processo de construção gira em torno de 73% do custo total da obra, ao utilizar materiais de construção tradicionais, tornando o custo do imóvel muito alto. E isso reflete diretamente em altos índices de inadimplência nos programas de habitação popular, como o “Minha Casa, Minha Vida”, por exemplo, girando em torno de 25%, de acordo com dados da Caixa Econômica Federal.
Com base nesses dados, segundo o engenheiro especialista em construção sustentável Fernando Augusto Keller Silva, com o baixo custo de materiais de construção sustentáveis e se forem feitas políticas públicas sérias, será possível utilizar a construção sustentável voltada para famílias de baixa renda, o que seria uma solução para combater o déficit habitacional no Brasil.
Keller explica que quando se investe em material sustentável na construção, o custo final do imóvel é reduzido, tornando-se viável e acessível para a população de baixa renda. Mas, para isso, é preciso utilizar os materiais adequados. “Quando se fala em construção sustentável, logo se tem a ideia de que é algo diferenciado e caro. Mas, se forem utilizados os materiais de reaproveitamento, como resíduos de obras, madeira de demolição, reciclagem de lixo para a geração de insumos para a construção, o custo sem dúvida pode cair até pela metade.”, explica ele.
Keller afirma que com investimentos em construção sustentável direcionada a famílias de baixa renda, além de todos os benefícios ambientais, podem-se ter também benefícios sociais e econômicos. Essas famílias passarão a viver em moradias melhores, elas terão mais acesso à compra da casa própria, uma vez que ao utilizar materiais de reaproveitamento, o custo dos imóveis se torna muito mais baixo, ampliando os programas de habitação popular e refletindo positivamente na economia do país. “Para que tenhamos todos esses benefícios ambientais e socioeconômicos, é preciso que haja criação de políticas públicas pelo governo, investindo em construção popular sustentável”, diz o especialista.
Em programas de moradia para famílias de baixa renda é preciso pensar em alternativas para baratear custos fixos, como consumos de água e de energia. Segundo Keller, o consumo sustentável de água e de energia já é realidade, e pode ser implantado nessas moradias, como o sistema fotovoltaico para o aproveitamento da energia solar para a geração de energia elétrica, e o sistema biodigestor de esgoto para o reaproveitamento da água de esgoto da residência para reuso em descargas e lavagens em geral.
“Com pequenos investimentos através de políticas públicas sérias, é possível tornar realidade. Com o sistema fotovoltaico, a energia solar é transformada em energia elétrica e pode ser usada em todos os aparelhos da residência. O sistema biodigestor, a água do esgoto passa por um filtro biológico, ficando pronta para o reuso, menos para beber e lavar alimentos.”, finaliza ele.