São Paulo, SP 8/2/2022 – Foi uma experiência única, e eu espero que eu consiga fazer isso cada vez mais, dando espaço para outras mulheres tão bem capacitadas como qualquer homem.
Apesar de ainda serem minoria no mercado da construção, as mulheres vêm conquistando mais espaços no setor a cada ano, em vários postos. Preconceito e machismo ainda impedem acesso às vagas de trabalho, mas o cenário vem mudando, segundo profissional da área.
Planejar, executar, auxiliar um projeto de construção. Nos últimos anos, a participação feminina no mercado da construção civil, um nicho historicamente dominado por homens, vem aumentando. Elas ocupam postos desde a preparação de argamassa até o comando de grandes projetos de construção. Segundo os dados mais recentes do Painel da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, ano base de 2020, a participação das mulheres – trabalhando com carteira assinada – teve aumento de 5,5% em relação ao ano anterior.
Os dados mostram que o número de postos ocupados por mulheres aumentou de 205.033 em 2019 para 216.330 no ano seguinte. O aumento da participação se deve à maior procura das mulheres em busca de capacitação para atuar no setor. Somente uma organização não-governamental do Rio de Janeiro – o projeto Mão na Massa – já formou, desde 2007, 1,2 mil mulheres para atuarem não só em canteiro de obras, mas em postos de gerenciamento de obras. Outra entidade do setor – a Mulher em Construção, no Rio Grande do Sul – já atendeu mais de cinco mil mulheres diretamente com cursos e oficinas de capacitação para diversas áreas da construção civil.
Com mais de cinco anos de experiência na área, a engenheira civil Marina Machado Balugar comenta que testemunha a maior participação de mulheres na área desde a faculdade, quando 50% de sua turma era formada por mulheres. Ao longo de sua atuação na área, ela gerenciou equipes formada apenas por mulheres e não constatou diferenças em relação ao trabalho de homens. Ao contrário, a qualidade do trabalho realizado superou suas expectativas como coordenadora da obra.
“A atenção com detalhes ficou claramente visível em relação à execução masculina. Obtivemos pelo menos 60% menos retrabalho em etapas do projeto, o acabamento ficou impecável, um ambiente totalmente seguro, e a obra foi entregue sem atraso. Foi uma experiência única, e eu espero que eu consiga fazer isso cada vez mais, dando espaço para outras mulheres tão bem capacitadas como qualquer homem”, disse.
No início do mês, um vídeo postado por um deputado federal nas redes sociais questionando a capacidade de mulheres gerenciarem e trabalharem em obras de construção civil provocou indignação nos conselhos de classe e profissionais da área. O Programa Mulher do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) repudiou as imagens que desqualificavam o trabalho de engenheiras, associando-as ao acidente com as obras do metrô de São Paulo. O fato também foi repudiado pela Associação Brasileira de Engenheiros Civis (Abenc).
O preconceito em relação à capacidade de mulheres executarem trabalhos em postos até pouco tempo considerados exclusivamente masculinos é um dos problemas que as profissionais da área precisam lidar no dia a dia e um fator que freia uma participação ainda maior de mulheres na construção. Marina Machado Balugar conta que, em entrevista de emprego, já teve que explicar que sua aparência em nada atrapalharia a sua capacidade de realizar o trabalho proposto.
“Me perguntaram como que eu iria para obra com a unha feita e vestindo roupas de “menininha”, pois estava de vestido na entrevista. Contornei a pergunta dizendo que isso não queria dizer nada sobre a minha capacidade como coordenadora e gestora de obra, e que o fato de eu cuidar da minha aparência não significava que saberia menos sobre construção”, lembra a engenheira.
Ela ressalta que apesar do preconceito, já percebe mudanças no mercado, com algumas portas se abrindo em função de características comportamentais que são somadas à capacidade técnica das profissionais. “Diversas vezes somos elogiadas por nos atentarmos mais aos detalhes, por manter a paciência e a compreensão em determinadas desavenças, ou pelo simples fato de termos um olhar mais “humanizado”. E isso só traz benefícios para o empregador e para o ambiente de trabalho, que fica mais leve e talvez até mais acessível”, comenta Marina.
Projeto na Câmara dos Deputados quer pelo menos 5% das vagas da construção reservada às mulheres
Tramita na Câmara de Deputados o projeto de lei 5358/2020, que prevê que pelo menos 5% das vagas em cargos operacionais na construção civil sejam destinadas às mulheres. O projeto já foi aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulheres e aguarda apreciação da Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público para depois ser votado pela Comissão de Constituição e Justiça, onde poderá receber parecer definitivo, sem precisar passar por votação do Plenário da Casa.
Website: https://www.linkedin.com/in/marina-balugar-395744b9/
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