São Paulo, SP 4/2/2022 – É preciso analisar qual será a demanda e a área onde o modal será implementado.
A previsão é da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), que defende outra forma de financiamento do transporte público que não seja baseada apenas na tarifa paga pelo usuário. Investimento em modais mais sustentáveis é uma das soluções para garantir o serviço sem onerar ainda mais quem usa o transporte público.
O reajuste do preço do diesel e gasolina, anunciados pela Petrobrás em meados de janeiro, deverá impactar o preço das tarifas do transporte público de várias cidades, segundo alertou a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). A possibilidade de aumento, considerando os reajustes do combustível nos últimos 12 meses, poderá chegar a 18,8%. A entidade defende uma série de ações de auxílio ao setor para que os custos do serviço não sejam pagos apenas pela tarifa cobrada do usuário.
A falta de subsídios, de mudanças no marco legal do transporte público, aliadas aos reajustes de combustíveis que aumentam os custos das empresas e dificultam a melhoria da qualidade do serviço, acabam afastando usuários e aumentando os desafios da mobilidade urbana, principalmente nas grandes cidades. De acordo com a plataforma Mobilize, nos últimos 10 anos a opção pelos transportes individuais, como carros e motocicletas, aumentou em 400%, piorando as condições de locomoção da população, sem contar na elevação da emissão de gases de efeito estufa (GEE), os vilões do aquecimento global.
Segundo o que foi definido no texto final da 26ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática (COP26), no esforço para conter o aumento da temperatura da Terra em 1,5° até o ano de 2050 – em relação à temperatura medida no final do século 19 – os países precisam investir cada vez mais em transporte livre de combustíveis fósseis. Atualmente, o setor é responsável por 25% das emissões globais de GEE. Nesse sentido, os países precisam acelerar os investimentos e pesquisas em veículos elétricos, especialmente para atender as demandas de transporte público.
Ainda incipiente no Brasil, o investimento em Veículos Leve sobre Trilhos (VLT) e no BRT (Bus Rapid Transit da sigla em inglês) ainda está aquém do que seria necessário para melhorar a mobilidade de grandes cidades. Os dois modais, que possuem similaridades em relação à rapidez e segurança, também possuem algumas diferenças que podem impactar na decisão final de gestores pela sua implantação. Em 2021, o governo do Mato Grosso desistiu da construção de linhas de VLT para investir em BRT. Segundo o governo, os motivos foram o alto custo de implantação do primeiro modal e o tempo de conclusão das obras.
Na experiência do engenheiro eletricista Vanderson Barros Afonso, que atuou na implementação de frotas de veículos sobre trilhos em várias cidades dentro e fora do Brasil, em relação ao custo, o BRT pode ser mais barato em um primeiro momento, mas a manutenção acaba saindo mais cara quando o sistema começa a funcionar. Ao contrário dos VLTs, movidos a energia elétrica, os BRTs – que utilizam pneus e combustíveis – acabam demandando mais custos com manutenção.
“Os custos de infraestrutura para implementação do BRT são de 1/3 à metade menores, dependendo da linha, que os do VLT. Porém, os custos operacionais tendem a ser mais altos, especialmente em corredores de alta demanda. Isso porque são necessários mais motoristas para transportar o mesmo número de passageiros e porque os custos de combustível e manutenção, como a troca de pneus por exemplo, são altos e mais voláteis”, explica.
Decisão pelo melhor modal deve ir além da análise de custo, explica especialista
Outra vantagem do modal citada pelo engenheiro é justamente a que pode colaborar para resolver o problema das emissões de GEE. “O VLT possui a vantagem ambiental, pois o modal funciona com motores elétricos e as novas gerações utilizam o sistema de energia renovável, sem a necessidade de cabos aéreos e sem emissão de ruídos, atendendo aos requisitos de sustentabilidade. Ao contrário do BRT, o VLT também não gera emissão de poluentes e não necessita de nenhum tipo de combustível”, atesta.
Se a intenção for melhorar a mobilidade da população, antes de decidir pelo modal escolhido, os gestores devem analisar alguns fatores além de custos, explica Vanderson Afonso. “É preciso analisar qual será a demanda e a área onde o modal será implementado. Em regiões mais urbanas, com diversidade de atividades econômicas e em constante desenvolvimento, o VLT pode ser a opção mais adequada. Já em corredores e linhas localizados fora das áreas centrais, com menos atividades econômicas ao redor, o BRT pode ser a melhor escolha”, avalia o engenheiro.