19/5/2022 – Aprender como a ansiedade funciona e quais técnicas de mindfulness podem ajudar neste gerenciamento é essencial para a manutenção da saúde mental
Dados revelam aumento da ansiedade no Brasil e no mundo; especialista comenta prática de “atenção plena”, que foi relacionada por pesquisadores à melhora da ansiedade
Um sentimento de angústia, medo e terror, capaz de transformar sombras em monstros e alterar o sono, o apetite e o bem-estar dos seres humanos. A ansiedade é sorrateira, costuma se manifestar em momentos de aparente tranquilidade. No Brasil, o transtorno afeta 18,6 milhões de pessoas, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde).
Em outubro de 2021, o periódico científico The Lancet publicou um estudo que aponta que, a nível mundial, 76 milhões de indivíduos tiveram que lidar com o problema em 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19. De forma similar, uma pesquisa desenvolvida pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com universidades do país, revelou que 50% dos brasileiros identificaram sentimentos frequentes de ansiedade durante a crise sanitária.
Neste cenário, uma pesquisa publicada pela Wiley Online Library – plataforma on-line que que fornece acesso ao conteúdo acadêmico publicado pela editora John Wiley & Sons – comprovou que o alívio da ansiedade está relacionada com a melhora dos circuitos do hipocampo, formação no cérebro responsável pela formação de novas memórias e desempenho da aprendizagem e das emoções.
De acordo com os pesquisadores, a prática de mindfulness (“atenção plena”, em tradução livre – modalidade que consiste no exercício de se concentrar no presente, deixando de lado preocupações com o passado e o futuro) foi aplicada com sucesso para cultivar habilidades na autorregulação da emoção.
A análise aponta que esse tipo específico de meditação corroborou para os resultados positivos, uma vez que emprega a consciência imparcial do momento presente. Conforme a descrição dos pesquisadores, a maior atenção e consciência da experiência sensorial foi postulada para criar uma condição de exposição terapêutica ideal e, desse modo, melhorar o aprendizado da extinção. “Recentemente, demonstramos o aumento da conectividade nos circuitos hipocampais durante a recuperação contextual da memória de extinção após o treinamento de atenção plena”, descreve o texto.
Entre os principais resultados, o estudo demonstrou uma relação entre a diminuição da conectividade e a diminuição da ansiedade autorrelatada após o treinamento da chamada “atenção plena”. Os resultados destacam o papel do subículo no controle de interações com estímulos contextuais durante a recuperação da memória e, também, os mecanismos pelos quais o treinamento da atenção plena pode promover a resiliência.
Para Sheila Drumond, psicóloga e diretora do CPPMP (Centro de Psicologia Positiva e Mindfulness do Paraná), a possibilidade de ter uma ferramenta simples e de baixo custo, como a prática de mindfulness como aliada contra a ansiedade, é uma notícia animadora.
“A ciência já encontrou o essencial, que é como isso [mindfulness] funciona no cérebro, quais são os mecanismos envolvidos e como se dá o resultado de melhora”, pontua. “Agora, precisamos descobrir como tornar isso possível para as pessoas, já que os tratamentos psicológicos são caros e de difícil acesso para a maior parte da população”.
Drumond destaca que a publicação de estudos sobre mindfulness pode fazer com que a prática ganhe mais popularidade no Brasil e no mundo. “Toda notícia científica demora a cair no senso comum, ainda mais em se tratando de notícias na área das neurociências. Felizmente, com a internet, é possível tornar esse assunto como pauta de notícia e, portanto, de discussão, o que faz com que a prática se torne mais popular”.
Apesar disso, a psicóloga observa que há o risco de generalizações. “Apesar de parecer uma prática simplória, devemos nos lembrar que nem tudo é como parece. Assim, é importante que a pessoa que se sinta inclinada a trabalhar com mindfulness procure uma formação adequada, o que já é possível no Brasil”.
A diretora do CPPMP sublinha que a ansiedade é resultado de um processo fisiológico que pode se tornar patológico. Ou seja, o não gerenciamento [dos sintomas] pode levar ao desenvolvimento de um transtorno mental.
“Aprender como a ansiedade funciona e quais técnicas de mindfulness podem ajudar neste gerenciamento é essencial para a manutenção da saúde mental. Particularmente, gosto de ensinar mindfulness com o intuito de higiene mental, cujo resultado pode ser contemplado como promoção de saúde”, finaliza.
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