São Paulo 20/7/2023 – A hipótese do estudo é de que quanto maior for a carga dos medicamentos anticolinérgicos, mais severo serão os efeitos causados pela xerostomia”
Também conhecida como síndrome da boca seca, pesquisa realizada em uma universidade americana demonstrou que medicamentos como opioides, antidepressivos, benzodiazepínicos, agentes respiratórios e anti-hipertensivos, podem levar à ocorrência da síndrome em pacientes odontológicos. Cirurgião dentista brasileiro está entre os pesquisadores da terceira fase do estudo
Conhecida como síndrome da boca seca, a xerostomia é uma doença bucal também chamada de hipossalivação. Além da constante sensação de boca seca, a doença causa desconforto e, se não for tratada adequadamente, pode levar ao desenvolvimento de doenças na cavidade oral ou em outras partes do corpo. Vários estudos indicam a influência de medicamentos que levam a essa condição, mas pesquisas realizadas na Universidade de Rochester, em Nova Iorque, Estados Unidos, demonstram que os chamados medicamentos anticolinérgicos têm grandes possibilidades de agravar o problema.
Em artigo publicado em março deste ano, pesquisadores da universidade encontraram conexões entre a xerostomia e o uso de medicamentos com propriedades anticolinérgicas – como opioides, antidepressivos, benzodiazepínicos, agentes respiratórios e anti-hipertensivos – , o uso de vários medicamentos ao mesmo tempo e a ocorrência de cáries. Com base em um estudo realizado com 1.298 pacientes com idades entre 18 e 65 anos, os pesquisadores concluíram que os dados indicam a importância de avaliar os sinais clínicos da boca seca e revisar os medicamentos que o paciente está tomando ao tratar problemas dentários, mesmo que a pessoa não seja idosa.
Com mais de 14 anos de experiência na área de Odontologia, o cirurgião dentista e pesquisador André Pedroso explica que os anticolinérgicos são os medicamentos comumente prescritos para uma variedade de condições médicas, incluindo doenças do sistema nervoso central, como a doença de Parkinson, enjoo de movimento, tremores e distúrbios neuropsiquiátricos. Segundo ele, também são usados para tratar condições como cólicas intestinais, bexiga hiperativa, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e algumas condições oculares, como o glaucoma.
O profissional, que é um dos pesquisadores da Universidade de Rochester e participa da terceira fase do estudo, hoje em andamento e liderado pela pesquisadora Szilvia Arany, explica que existem hipóteses de que o uso de medicamentos pode ser um causador da xerostomia, entretanto, o que se está avaliando agora é a influência dos anticolinérgicos na incidência da doença. Além de causar desconforto, a xerostomia pode levar ao surgimento de cáries, danos nas gengivas, problemas para engolir, falar e até ocasionar a perda de dentes.
Dados obtidos pelos pesquisadores mostram que, em 2015, a frequência estimada de boca seca induzida por medicamentos atingia até 12% da população dos Estados Unidos e até 39% da população mundial. “As primeiras fases do estudo já indicam essa relação e agora, na terceira e última fase da investigação, queremos verificar como variações genéticas e certos medicamentos, como os anticolinérgicos, desempenham um papel no desenvolvimento da boca seca”, comenta ele, acrescentando que nesta fase, de testes clínicos, participam pacientes odontológicos entre 45 e 64 anos de idade e que façam uso de ao menos um medicamento que possa causar boca seca.
Segundo o cirurgião dentista e pesquisador, se a relação entre o uso de certos medicamentos e a incidência de xerostomia for comprovada, o protocolo de tratamento de pacientes odontológicos com a doença deverá ser modificado.
“A hipótese do estudo é de que quanto maior for a carga dos medicamentos anticolinérgicos, mais severos serão os efeitos causados pela xerostomia na cavidade oral do indivíduo. Com a comprovação, poderemos planejar melhor a abordagem do tratamento de doenças bucais causadas pela síndrome da boca seca, verificando, em primeiro lugar, quais medicamentos o paciente faz uso, para avaliar como poderemos prevenir o agravamento dessas doenças”, explica André Pedroso.
Outros fatores podem causar a xerostomia ou a síndrome da boca seca
Além do uso de medicamentos, existem outros fatores que podem levar à incidência de xerostomia. Segundo o artigo publicado por pesquisadores da Universidade de Rochester, outros fatores sistêmicos e de risco desempenham um papel no desenvolvimento da doença. Fumantes, comorbidades com efeitos salivares potenciais, como diabetes e apneia do sono também têm tendência a desenvolver a doença.
“Deve-se acrescentar que o estresse é considerado uma possível causa de xerostomia em adultos jovens. Outros mecanismos subjacentes a casos de xerostomia podem incluir efeitos simpatomiméticos, efeitos tópicos de medicamentos inalados, desidratação, vasoconstrição nas glândulas salivares, alterações no equilíbrio de eletrólitos e fluidos e mudanças na composição da saliva”, ressaltaram os pesquisadores no estudo.
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