11/1/2023 – O ideal é que o capital entre para acelerar o crescimento e não para ‘pagar as contas
Fábio Campos, Senior Associate da Associate Valetec Capital, detalha os três principais estágios em que empresas com forte potencial de crescimento podem receber aportes
O mercado de Corporate Venture Capital para investimento em startups no Brasil nunca esteve tão aquecido. É o que destaca o relatório “Corporate Venture Capital no Brasil em 2022 – Panorama atual, cases e um guia para implementação de seu fundo de CVC”. Apenas em 2021, nomes nacionais como B3, Ânima Educação, Locaweb, Totvs, Suzano, Renner e Valid lançaram seus veículos de investimento em empresas em estágio inicial. De forma conjunta, eles somam cerca de R $2 bilhões em aportes minoritários para iniciativas do gênero.
Em matéria que entrega o relatório, Jayme Queiroz, analista de investimentos na ApexBrasil, chama a atenção para a rápida evolução do mercado nos últimos anos. “Em 2015, o país tinha apenas quatro ou cinco corporações internacionais fazendo investimentos de CVC no país – e a grande maioria nem era percebida dessa forma”, afirma.
Segundo Queiroz, há pelo menos 150 corporações no Brasil investindo em startups. Apesar disso, de acordo com Fábio Campos, Senior Associate da Associate Valetec Capital, gestora de investimentos em participações, é comum que haja dúvidas sobre quais os estágios de um negócio em que as startups podem receber investimentos.
“Existem diferentes tipos de capital disponíveis para empresas com forte potencial de crescimento, a depender do estágio de desenvolvimento”, diz ele. A seguir, o especialista detalha cada etapa:
1 – Estágio inicial
Campos explica que nas primeiras etapas do negócio, quando os empreendedores ainda têm pouco mais do que uma ideia, um ou dois colaboradores e talvez um MVP (Produto Mínimo Viável), mas ainda sem receita relevante, a fonte de capital mais promissora é a de investidores-anjo e a de aceleradoras.
“Alguns grupos de anjos têm sido formados, o que permite a captação de valores um pouco maiores e de forma mais coordenada do que o tratamento com anjos de forma isolada”, informa. “Projetos com forte diferencial tecnológico também podem obter capital por meio de agências de fomento, tais como Finep e bancos regionais”, complementa.
Segundo o especialista, outra via de captação neste estágio é o crowdfunding, plataformas que pulverizam a captação de recursos junto a um grande número de investidores. “Neste estágio, estamos falando geralmente de volumes inferiores a R$ 1 milhão”.
2 – Estágio avançado
Em um próximo estágio, prossegue Campos, uma vez que a empresa já tenha alguma receita, ainda que pequena, torna-se disponível, além do recurso de anjos, capital de fundos de Venture Capital e de Corporate Venture Capital que tenham característica “early-stage”.
“Este faturamento, ainda que incipiente por parte da startup, é importante porque demonstra aos investidores que a empresa de fato está conquistando o interesse real de seus clientes, ou seja, atingiu seu PMF (Product-Market Fit)”, afirma. “Nesta fase, estamos falando geralmente de aportes na casa de R$ 1 milhão até R$ 3 milhões. Alguns dos fundos de CVC geridos pela Valetec visam investir em empresas neste estágio”, completa.
3 – Estágio final
De acordo com Campos, na fase de tração, quando a empresa começa a demonstrar crescimento forte e consistente, o capital da maior parte dos fundos de VC e Corporate Venture Capital torna-se disponível. Nesta etapa, as métricas da empresa mostram de forma inequívoca que o mercado tem interesse em suas soluções e que a startup já construiu um modelo comercial escalável, que permitirá crescimento ainda mais acelerado, por meio da injeção de capital.
“Aqui, estamos falando dos famosos ‘Series A’ que, no Brasil, tem volume geralmente entre R$ 3 milhões e R$ 20 milhões. A maior parte dos fundos de Corporate Venture Capital geridos pela Valetec visam investir em empresas neste estágio”, diz ele.
Segundo o Senior Associate da Associate Valetec Capital, quando a empresa alcança porte ainda maior, com faturamento geralmente superior a R $2 milhões por mês, outros fundos de VC passam a avaliar investimentos na empresa – e também é comum que investidores que já atuam na empresa façam novos aportes.
“O foco geralmente é proporcionar continuidade no ciclo de crescimento da startup e as rodadas, chamadas Series B, Series C etc, geralmente começam com R$ 20 milhões, indo até R$ 100 milhões ou até mais do que isso”, reporta. “Nesta etapa, costumam participar também fundos de VC internacionais (sobretudo norte-americanos) e, nestas situações, é comum que as rodadas (Series C em diante) superem bastante a marca dos R$ 100 milhões”, afirma.
O especialista destaca que empresas maiores, com faturamento mensal superior a R$ 10 ou 20 milhões, passam a ter acesso a investimentos por meio do mercado de PE (Private Equity). Para atrair a atenção destes fundos, no entanto, geralmente a empresa precisa demonstrar não apenas boa receita e crescimento, mas também boas margens, indicando a viabilidade do negócio.
Para concluir, Campos ressalta que há diferentes fontes de capital que possuem interesse em investir em startups: “Os empreendedores devem ter em mente o caminho de captação de suas empresas, bem como o tempo necessário para cada processo, pois o ideal é que o capital entre para acelerar o crescimento e não para ‘pagar as contas’”.
Ainda segundo ele, durante a negociação com os investidores, é importante tratar com atenção os aspectos de governança do aporte. “É comum que empreendedores foquem apenas nos aspectos econômicos da operação (valuation e tamanho do cheque) e não tomem o devido cuidado com relação aos aspectos de governança”, articula.
“Esta é uma situação perigosa, pois pode levar a dificuldades futuras, tais como impedimentos para a realização de novas rodadas de captação, baixo retorno para os empreendedores em momentos de saída (por conta de cláusulas de liquidation preference, por exemplo), entre outros problemas”, finaliza.
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