21/12/2022 – É difícil para uma mãe retornar ao mercado de trabalho com um salário minimamente razoável, pois ficou anos fora e se dedicou aos filhos e ao lar
Pesquisas recentes mostram que depender financeiramente do agressor é o segundo maior motivo para a mulher não realizar uma denúncia formal; advogada traz percepções e comenta alternativas para romper com esse ciclo
Cerca de 46% das mulheres não denunciam seu agressor para as autoridades por depender financeiramente dele. A informação é da mais recente pesquisa de opinião sobre violência doméstica promovida pelo Observatório da Mulher contra a Violência em parceria com o instituto Datasenado. O motivo é o segundo no ranking, perdendo apenas para “medo do agressor”, que corresponde a 75% das respostas.
Em novembro deste ano, durante seminário dedicado ao tema, na Câmara dos Deputados, muitas especialistas ouvidas trouxeram a pauta para discussão. As parlamentares afirmaram que a autonomia econômica feminina seria um dos caminhos para combater a violência doméstica. Ao mesmo tempo, a informalidade é maior entre as mulheres, sendo preciso defender frequentemente as políticas públicas estatais para incentivar a inserção e permanência das mulheres no mercado de trabalho.
Para a advogada Andressa Gnann, mentora de Mães Empreendedoras e especialista em Direito de Família para Mulheres, ainda existe a problemática de que uma parcela renuncia à carreira para poder ficar com os filhos, dificultando ainda mais a independência financeira. “O trabalho doméstico e a maternidade não são valorizados pelas pessoas e pelas empresas. É difícil para uma mãe retornar ao mercado de trabalho com um salário minimamente razoável, pois ficou anos fora e se dedicou aos filhos e ao lar”, comenta.
Estudos do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) já confirmaram essa tendência, onde mulheres ficam mais envolvidas com atividades domésticas ou com cuidados com filhos e isso resulta na falta de tempo para gerir a sua vida profissional.
“A mãe pode sim continuar em casa com os filhos, mas é necessário profissionalizar o seu trabalho, a ponto de não precisar ser dependente do homem”, salienta Andressa. “Isso pode dar segurança para a mulher se posicionar e evitar a violência de qualquer gênero e, caso ocorra, ter condições de buscar apoio psicológico e jurídico”, complementa.
A percepção nacional sobre a diferença entre os gêneros também é alarmante. Ainda segundo a pesquisa do DataSenado, para 71% das mulheres entrevistadas o Brasil é um país muito machista. “O estereótipo e a cultura patriarcal faz com que a mulher permaneça em casa e o homem é quem sustenta a família. A diferença é que o mundo mudou e, hoje em dia, existem cada vez mais divórcios”, analisa a especialista.
Empreendedorismo feminino pode ajudar a quebrar esse ciclo
Segundo informações do relatório Global Gender Gap Report 2022, do Fórum Econômico Mundial, a participação de mulheres no mercado empreendedor cresceu progressivamente durante os anos da pandemia: somente no Brasil houve um aumento de 41%. Entre os fatores que mais colaboraram para isso estão, justamente, a dupla responsabilidade de trabalhar e cuidar da casa e/ou família. Esse fato fez com que as mulheres buscassem maior flexibilidade profissional do que a oferecida pelos empregadores, de acordo com o estudo.
“Algumas mulheres acabam vendendo informalmente produtos ou serviços (cosméticos, roupas, lingerie, semijoias, artesanato e etc.). Porém, a falta de estrutura e formalização, dificulta que a mulher tenha uma renda razoável e consiga enxergar um futuro próspero”, explica a advogada e mentora de mães empreendedoras.
De fato, o Brasil registrou, no terceiro trimestre de 2022, mais de 39 milhões de pessoas trabalhando informalmente, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. “A formalização do negócio pode trazer benefícios para a autoestima da mulher e deixá-la livre para que tenha condições de tomar as melhores decisões, principalmente no que diz respeito a ceder e permanecer em relacionamentos abusivos”, finaliza Andressa Gnann.
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