São Paulo, SP 2/2/2023 –
Vendidas a preços maiores, commodities do agro respondem por 71% do comércio com mercados árabes em 2022
As exportações do Brasil para a Liga Árabe alcançaram receita recorde de US$ 17,743 bilhões, alta de 23,06% sobre o ano anterior e o melhor resultado da série histórica iniciada em 1989.
Dados compilados pelo Departamento de Inteligência de Mercado da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira mostram que as exportações do Brasil para o bloco de 22 países de maioria árabe no Oriente Médio e no Norte da África tiveram alta prevalência de produtos do agronegócio, responsáveis por 70,87% das receitas geradas ao longo do ano, ou US$ 12,574 bilhões, 40,74% de aumento sobre o ano anterior.
Ainda de acordo com o levantamento, a pauta de exportações para a região foi liderada por açúcar (US$ 3,443 bilhões, alta de 24,73% sobre o ano anterior), derivados de aves (US$ 3,164 bi, +30,58%), minério de ferro (US$ 2,914 bi, -24,03%), milho (US$ 2,013 bi, +92,12%), soja (US$ 1,107 bi, +73,53%) e derivados bovinos (US$ 1,044 bi, +13,55%).
Os principais destinos foram Emirados Árabes Unidos (US$ 3,260 bi, +40,09%), Arábia Saudita (US$ 2,924 bi, +41,26%), Egito (US$ 2,843 bi, +41,20%), Argélia (US$ 1,918 bi, +26,35%) e Bahrein (US$ 1,415 bi, -25,72%) Marrocos (US$ 1,067 bi, +88,82%), Omã (US$ 1,040 bi, -32,68%) e Catar (US$ 614,63 milhões, +54,20%).
Chamou atenção no resultado o aumento nas vendas árabes para o Brasil, para US$ 15,037 bilhões, alta de 53,37% sobre 2021. Com o resultado, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) entre Brasil e Liga Árabe alcançou a inédita marca de US$ 32,780 bilhões, com saldo positivo para o lado brasileiro de US$ 2,706 bilhões.
Os produtos do agro foram vendidos a preços médios 14,40% mais altos na comparação com 2021. A análise considera os valores e os volumes registrados pelas cerca de 190 posições SH4 (categorias de produtos) enviadas do Brasil para a Liga Árabe, sobretudo quando analisados os produtos na dianteira da pauta.
Entre os quinze ‘campeões de venda’, o que registrou maior alta foi o café. A commodity foi negociada na Liga Árabe a US$ 3.962,57 por tonelada, alta de 88,10% sobre o ano anterior. O milho foi vendido a US$ 273,96 a tonelada, avanço de 36,46% sobre 2021. As carnes de aves registraram avanço de 26,23% nos preços, para US$ 2.171,96 a tonelada.
Segundo Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara Árabe, a alta nos preços médios é reflexo da demanda aquecida por alimento na região e, também, da forte pressão inflacionária provocada pela pandemia e pela Guerra na Ucrânia a afetar custos com insumos, combustíveis e processos logísticos, inclusive nas cadeias do agro brasileiro.
“O conflito também teve como efeito a restrição da oferta global de grãos, sobretudo milho e trigo. A consequência foi que os árabes buscaram esses e outros produtos entre fornecedores com mercadoria disponível, o que levou à alta nos preços acima da inflação [5,79%, para o IBGE], com lucros ainda favorecidos pela baixa do real”, disse.
Ainda segundo Mansour, a vacinação precoce contra covid-19 no Golfo favoreceu a retomada do turismo de escala (stopover), potencializado por prêmios de Fórmula 1 em toda região, pela Expo 2020 em Dubai, pelo Mundial de Clubes e pela retomada da peregrinação muçulmana, que, historicamente, são eventos que demandam alimentos.
A Copa do Catar também ajudou. Ao atrair um milhão de torcedores ao país-sede e aos vizinhos, o mundial alavancou as vendas de alimento brasileiro, sobretudo de proteínas animais nos meses que antecederam o evento realizado em novembro e dezembro.
Entre janeiro e outubro, as vendas de frango ao Conselho de Cooperação do Golfo (bloco com Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes, Kuwait e Omã) cresceram 37,14% sobre o mesmo período de 2021. As receitas com carne bovina cresceram 30,87%.
O executivo acredita ainda que os embarques de alimentos devem seguir em ritmo acelerado nos primeiros meses de 2023 por conta da preparação ao Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, feriado flutuante com início em março e fim em abril.
“Os árabes vão continuar sendo importantes compradores de alimentos brasileiros. Mas é notório que eles estão investindo pesado para diminuir a dependência do alimento externo. Nossa missão é buscar espaço nas categorias de valor agregado”, diz.
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