7/2/2023 –
O idealizador do projeto PESA fala sobre malefícios para a saúde de tomar essas composições sem orientação profissional
Na busca pelo corpo perfeito, muitas pessoas recorrem a fórmulas milagrosas através de remédios para emagrecer. Dados de uma pesquisa realizada pelo CFF (Conselho Federal de Farmácia), em parceria com o Instituto Datafolha, apontam que 24% dos brasileiros já usaram alguma substância para emagrecer, sendo os chás mais consumidos.
A pesquisa também mostrou que a bebida já foi usada por 19% das pessoas que foram entrevistadas. Ao mesmo tempo, 9% já utilizaram suplementos alimentares e 9%, os fitoterápicos. Já os medicamentos considerados alopáticos tiveram um público de 6%.
Para o idealizador do projeto PESA, Dr. Rodrigo Magosso, a primeira coisa que os pacientes precisam saber a respeito dos remédios utilizados para a perda de peso é que eles são, independentemente da sua classe ou mecanismo de ação, drogas que servem para momentaneamente mascarar o apetite, aumentar o gasto de energia ou até mesmo combinar estas duas ações.
“O efeito desses medicamentos é uma quebra dos nossos mecanismos de controle de peso corporal que não pode ser sustentada”, diz. “Por isso, as pessoas que abandonam o medicamento acabam recuperando o peso perdido e, muitas vezes, até mais peso do que perderam, o que gera muita frustração”, afirma.
Segundo Magosso, a automedicação é ainda mais perigosa, pois esses remédios possuem efeitos colaterais que podem ser agravados se forem combinados com outras condições de saúde. Por exemplo, para pessoas que possuem problemas de coração, é mais arriscado usar drogas que aceleram o metabolismo.
“Muitas pessoas estão buscando os remédios para a perda de peso porque estão sendo enganadas. Em primeiro lugar, ouvem que precisam perder peso para que a sua saúde melhore, o que é uma grande mentira”, relata.
O profissional ressalta ainda que a saúde depende do condicionamento físico e de boa alimentação, apesar do que a balança registre quando alguém sobe nela.
“Ninguém avisa essas pessoas que elas vão recuperar o peso perdido e, ainda por cima, arrumar problemas dos efeitos colaterais do medicamento, em troca de um problema que foi falsamente imputado relacionado ao peso corporal”, disse.
O idealizador do projeto PESA acredita que a busca por soluções que sejam consideradas mais naturais já demonstra o quanto estamos nos preocupando com as drogas prescritas para a perda de peso e esta preocupação é mais que justificada. Entretanto, uma substância ser considerada natural não implica que seja uma coisa boa para o nosso organismo.
“Plantas venenosas também são naturais”, ironiza. “Isso não significa que vamos sair comendo essas plantas sem a menor preocupação. Todas as substâncias usadas para o emagrecimento possuem efeito de mascarar o apetite ou aumentar o metabolismo e esse efeito não se prolonga”, declara Magosso.
De acordo com o especialista, quando se tem acompanhamento profissional de qualidade, algumas dessas substâncias podem ser utilizadas como parte de um conjunto de estratégias, de modo a auxiliar quem tem desejo de perder peso. “Eu sou veementemente contra o uso de qualquer substância sem a estrita recomendação”, declara.
Proibição da Anvisa
Em meados de 2022, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a venda de dois suplementos alimentares para emagrecer, a Lipotramina e Lipozepina. Segundo a Anvisa, tais medicações não têm aprovação da agência na função emagrecedora.
Magosso relata que diferente de medicamentos, tais composições são lançadas mais facilmente no mercado. Sendo que para que um medicamento seja lançado, são necessárias diversas etapas de teste que assegurem a sua eficácia e segurança.
“Já os suplementos não precisam de todas essas etapas, pois são considerados produtos alimentares. Apenas o rigor de um processo científico pode mostrar se determinados suplementos promovem o efeito que prometem e se são seguros, mas temos uma cultura de mercado que valoriza muito as novidades”, observa.
Segundo o idealizador do projeto PESA, são prometidos efeitos sem eficácia comprovada. “Muito me entristece que as pessoas sejam tão convencidas de que precisam emagrecer que acabam apelando para um tiro no escuro”, disse, destacando ainda que acredita que a Anvisa agiu corretamente neste caso. “Sou defensor de que os suplementos alimentares deveriam passar por muito mais escrutínio para que possam chegar às prateleiras”.
O especialista finaliza ressaltando que imagina o quanto deve ser frustrante para pessoas que já tentaram perder peso de diversas maneiras e não conseguiram ou então recuperaram o seu peso novamente.
“A ciência ainda é uma de nossas grandes aliadas nesse processo e precisamos de fontes confiáveis para checarmos informações, por mais que isso vá contra aquela sensação de que agora encontramos o jeito certo”, conclui.