O Censo da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), divulgado pelo Portal dos Jornalistas, revela que o Brasil tem quase 1.200 agências de comunicação. Documento desenvolvido pela associação aponta que os três produtos mais procurados pelos clientes são: assessoria de imprensa (75%), gestão de redes sociais (entre 41% e 43%) e comunicação interna e consultoria estratégica em comunicação (26%). Em entrevista à revista Poder, o ex-presidente da Abracom, Daniel Bruin, disse que as agências de comunicação produzem hoje mais conteúdo do que praticamente todos os veículos de mídia no Brasil. “Temos 18 mil profissionais gerando uma quantidade muito grande de conteúdo”. Sendo assim, cabe também aos assessores de imprensa a responsabilidade de desenvolver matérias com informações relevantes e críveis.
Desenvolvido pelo Reuters Institute em quatro países (Brasil, Índia, Reino Unido e Estados Unidos), o projeto Trust in News busca desvendar qual é a responsabilidade das redes sociais, dos mecanismos de busca e dos aplicativos de mensagens no desgaste da confiança das pessoas na indústria de notícias. Os resultados revelam que muitas das razões mais comuns para as pessoas utilizarem as plataformas têm pouco a ver com notícias. Para a maioria das plataformas, é mais provável que as pessoas digam que as utilizam para se conectar com outras pessoas, para entretenimento ou como passatempo, em vez de encontrar informações sobre assuntos atuais.
Mais de cinco bilhões de pessoas, segundo o relatório “Digital 2024”, divulgado pela We are social, usam ativamente as mídias sociais, sendo que, no Brasil, se gasta uma hora a mais do que a média global nesse tipo de atividade – que é de duas horas e meia. Isso significa que as mídias sociais são responsáveis por 35,8% das atividades diárias on-line do brasileiro e que o restante se divide em busca de informações, serviços de localização, compras, transações financeiras, bate-papo, pesquisas, consultas médicas, estudo, trabalho etc. Detalhe: mais da metade das pessoas conectadas à internet recorrem a ela para se atualizar e consumir notícias.
Para a jornalista Heloísa Paiva, que há 23 anos dirige a agência boutique Press Página, “em um tempo em que os conteúdos são consumidos rapidamente e as fake news se proliferam, o trabalho de jornalistas de redação e assessores de imprensa ganha importância ao fornecer informações verificadas, construídas com rigor e cuidado, resgatando a confiança do público e valorizando a verdade”. Mas isso, em sua opinião, não significa que os profissionais envolvidos na geração de conteúdo para mídias sociais devam adotar outra postura. “Postagens em mídias sociais, como o Instagram, têm poucos segundos para cumprir a missão de atrair e convencer seu público-alvo. Embora a importância dessas redes seja inegável, elas não substituem a análise minuciosa e o embasamento que só uma matéria jornalística bem apurada é capaz de oferecer”.
Nesse cenário, Heloísa acredita que a assessoria de imprensa se apresenta como um pilar essencial para a comunicação estratégica. “Diferentemente da simples promoção de posts ou da viralização momentânea de um conteúdo, a assessoria visa construir uma narrativa consistente e verdadeira sobre seus clientes e temas de interesse. Ela se diferencia por buscar não apenas visibilidade, mas também relevância”.
A jornalista afirma que a função da assessoria de imprensa vai muito além da produção de press releases ou do contato com outros jornalistas. Ela se baseia em entender o contexto em que seus clientes estão inseridos, fazer pesquisas para extrair dados que comprovem essa realidade, e fazer uma ponte com veículos de comunicação que cubram esses segmentos, identificando oportunidades. “O objetivo principal é desenvolver matérias que tragam informações úteis e interessantes, construindo uma boa reputação para os clientes. Um texto de poucas linhas, uma imagem ou um vídeo curto podem gerar engajamento, mas provavelmente não são suficientes para explicar questões complexas”.
Dados divulgados pela consultoria Statista revelam que, no final de 2023, 62% dos adultos que responderam a uma pesquisa global declararam que confiavam na mídia tradicional, enquanto 68% disseram que confiavam em mecanismos de busca. A fonte considerada menos confiável foi a mídia social – principalmente na Europa e na América do Norte, onde a maioria das notícias vistas na mídia social são consideradas tendenciosas. A comunicação on-line vem em diferentes tipos: de mídia social a aplicativos de mensagens, de Facebook a WhatsApp – que é, de longe, o aplicativo de mensagens mais usado.
“Não se trata de desmerecer as redes sociais, que têm um papel fundamental na comunicação moderna e no acesso rápido à informação. Elas são importantes para criar conexões, gerar visibilidade e promover a interação direta com o público. Mas a assessoria de imprensa é responsável por trazer a profundidade que muitas vezes falta nessas plataformas”, diz a diretora da Press Página. “Um post pode ser o início de uma conversa, mas uma boa matéria é o que garante que essa conversa seja rica em conteúdo e embasada em fatos. A prática da apuração, da verificação e da construção de uma narrativa clara e consistente é o que diferencia uma matéria jornalística de um post viral”.
Como destaca Paul Holmes, fundador do The Holmes Report – que agora se chama PRovoke Media – uma das mais respeitadas publicações sobre Relações Públicas no mundo, “a confiança é a base de qualquer relação significativa, e o papel da comunicação é construir essa confiança de forma consistente e transparente”. Para Holmes, é fundamental reconhecer a importância do trabalho de relações públicas e assessoria de imprensa em tempos de conteúdo instantâneo. “Ele não só complementa o papel das redes sociais, mas também assegura que a comunicação seja feita com qualidade, transparência e compromisso com a verdade”.
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