A segurança elétrica é uma preocupação primordial em qualquer construção, seja ela residencial, comercial ou industrial. Uma instalação elétrica mal planejada e executada, além da falta de manutenção, pode resultar em riscos significativos, incluindo incêndios, choques elétricos e danos para os equipamentos elétricos. O levantamento da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) aponta que os números de acidentes de origem elétrica continuam crescendo no Brasil.
Dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2024 – Ano base 2023, revelam que somente em 2023 ocorreram 2.089 acidentes de origem elétrica no Brasil com 781 mortes. Do total de falecimentos, 674 (68,4%) foram por causa dos choques elétricos, 67 (7%) por incêndios e 40 (28,6%) por descargas atmosféricas. Além disso, grande parte dos acidentes com choques elétricos, com curtos-circuitos e os incêndios ocorreram em residências.
Para o professor e engenheiro eletricista Hilton Moreno, que também é consultor técnico da COBRECOM, as recomendações mais importantes para evitar tais problemas são a contratação de profissionais habilitados e qualificados para executar cada etapa da obra e a escolha e utilização de materiais elétricos certificados e de qualidade, que atendem as normas técnicas.
Hilton Moreno também ressalta que diversos outros fatores devem ser levados em consideração para garantir uma instalação elétrica segura e de qualidade e sem quaisquer riscos de acidentes de origem elétrica.
Projeto elétrico deve estar em conformidade com as normas técnicas
As normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) têm como principal objetivo zelar pela segurança das pessoas e do patrimônio. Assim, ter uma instalação elétrica em conformidade com a norma ABNT NBR 5410, que é a norma-mãe das instalações elétricas no Brasil, é de extrema importância.
Segundo Hilton Moreno, outro ponto importante é quanto ao dimensionamento dos fios e cabos elétricos, que se forem especificados abaixo do necessário para atender as cargas resulta em sobrecargas, curtos-circuitos, incêndios e desarmes frequentes dos disjuntores.
Aquisição de materiais de qualidade comprovada
De acordo com Hilton Moreno, todos os materiais elétricos devem atender suas respectivas normas técnicas da ABNT. No caso dos condutores elétricos, por exemplo, aplicam-se as normas ABNT NBR NM 247-3 para cabos isolados em PVC – 450/750 V; e ABNT NBR 7286 para cabos isolados em HEPR, 0,6/1 kV.
“Quanto ao selo do Inmetro, ele também é importante para garantir a qualidade e segurança dos produtos. No entanto, nem todos os materiais elétricos têm a exigência de possuir tal selo. Cabos elétricos, disjuntores, interruptores, tomadas são exemplos de produtos que têm selo obrigatório do Inmetro, enquanto eletrodutos, quadros elétricos, dispositivos DR e DPS ainda não possuem tal exigência”, completa Hilton Moreno.
O profissional também lembra que a economia é a grande inimiga da instalação elétrica, pois a aquisição de produtos elétricos de qualidade duvidosa e que não atendem os requisitos mínimos das normas, reduzirão a qualidade, a confiabilidade e a eficiência energética, colocando a instalação, as pessoas e o patrimônio em sérios riscos de incêndios e choques elétricos.
Dispositivos de segurança são obrigatórios
Materiais como os disjuntores, o dispositivo DR, o Dispositivo Protetor de Surto (DPS), o condutor de proteção (“fio terra”) e o sistema de aterramento são fundamentais para a segurança e proteção da instalação elétrica. Além disso, eles são itens obrigatórios pela NBR 5410.
O sistema de aterramento oferece um caminho para que as descargas elétricas que poderão ocorrer no local sejam adequadas e seguramente conduzidas pela instalação, além de proteger as pessoas contra choques elétricos. Ele também é um item fundamental no sistema de proteção contra a queima dos componentes da instalação e dos equipamentos eletroeletrônicos.
Já o condutor de proteção (“fio terra”), que é parte importante do sistema de aterramento, deve ser instalado em todos os circuitos elétricos, inclusive nos circuitos de iluminação.
Quanto ao dispositivo DR, é obrigatório que ele proteja todos os circuitos. Em particular, nos circuitos dos ambientes que podem ser molhados como a cozinha, banheiros, áreas de serviço, entre outros, devem ser previstos DRs de alta sensibilidade (menor ou igual a 30 mA).
E o DPS, ele reduz o risco de queima de aparelhos eletroeletrônicos quando da ocorrência de descargas elétricas atmosféricas (raios) diretamente na instalação ou em sua proximidade.
Emendas dos fios e cabos elétricos
Hilton Moreno esclarece que uma instalação elétrica segura deve ter a menor quantidade possível de emendas nos condutores elétricos. Isso porque, mesmo quando executadas de maneira adequada, as emendas constituem um ponto fraco da instalação, sujeitas a maus contatos e, consequentemente, aquecimentos excessivos, que podem degradar os componentes da própria emenda e dos condutores. Além disso, pode levar a riscos de choques elétricos, curtos-circuitos e princípios de incêndios.
Uso excessivo de benjamins e extensões
Tais produtos, embora possuam normas técnicas e selo do Inmetro, somente devem ser utilizados em situações temporárias, evitando a todo custo que se tornem soluções permanentes de uma instalação elétrica.
“O grande problema destes produtos é que os usuários frequentemente, por desconhecimento, ultrapassam suas capacidades nominais, levando-os a situações de sobrecarga, que não é detectada pelos disjuntores nos quadros, e que podem resultar em queimas dos produtos e princípios de incêndios”. Segundo Moreno, ao invés de utilizar um benjamin para ligar até três aparelhos, o correto é ter uma caixa com três tomadas separadas, uma para cada aparelho. O mesmo exemplo vale para uma extensão.
Manutenções periódicas
Hilton Moreno revela que realizar verificações periódicas nas instalações elétricas é muito importante para antecipar e prevenir problemas.
“Atualmente não há um período especificado em normas para essa verificação, mas a revisão em andamento da NBR 5410 vai sugerir que seja feita uma verificação a cada dez anos, ou menos, se possível, nas instalações residenciais”, informa o consultor técnico da COBRECOM.
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