Segundo os dados apresentados no Relatório Mundial sobre Drogas 2024, o número de pessoas que utilizaram drogas ao longo de 2022 chegou a quase 292 milhões, o que representa uma em cada 18 pessoas ao redor do mundo. Segundo o estudo, esse número é 20% maior em comparação a uma década atrás. Dentre os usuários, cerca de 30 milhões fizeram uso de anfetaminas, e aproximadamente 60 milhões utilizaram opioides, metade dos quais consumiu opiáceos. O relatório destaca que o aumento no consumo de drogas tem sido impulsionado pela retomada do uso de estimulantes, como cocaína e ecstasy, após um declínio observado durante a pandemia de COVID-19.
Conforme informado na publicação, os opioides continuam sendo a principal causa da maior carga global de doenças relacionadas ao uso de drogas. No entanto, o consumo de cannabis também está se tornando um motivo recorrente para que mais pessoas busquem serviços de tratamento para dependência química. O estudo apontou que estimativas recentes indicam que, em 2022, aproximadamente 64 milhões de pessoas, ou uma em cada 81, sofriam de algum transtorno relacionado ao uso de drogas. Este número representa um aumento de 3% em relação a 2018, o que evidencia a crescente complexidade do cenário global de uso de drogas.
O relatório aponta que o uso de múltiplas substâncias é uma característica comum nos mercados de drogas ao redor do mundo. O número de pessoas que injetaram drogas em 2022 foi estimado em 13,9 milhões. Além disso, a publicação mostra que o risco relativo de contrair HIV é 14 vezes maior entre usuários que injetam drogas do que na população geral. Em 2022, o documento informa que cerca de um em cada oito usuários que injetavam drogas vivia com HIV. Esse tipo de uso continua a ser um importante fator na epidemia global de hepatite C, sendo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 23% das novas infecções de hepatite C estejam relacionadas a injeções inseguras de drogas.
Outro dado apresentado no relatório é que as mortes relacionadas ao uso de opioides, especialmente fentanil e outros opioides sintéticos potentes, permanecem em níveis historicamente elevados na América do Norte, apesar de a crise de overdoses na região ter se estabilizado desde 2021. Além disso, o uso de drogas sintéticas, como metanfetaminas, também tem aumentado em diversos países, complicando ainda mais os esforços de combate ao problema. Segundo os dados, o consumo dessas substâncias cresceu consideravelmente entre 2010 e 2022.
Sobre o assunto, Miler Nunes Soares, médico psiquiatra e responsável pela Clínica Para Dependentes Químicos Granjimmy, afirmou que esses números refletem um cenário global em que a dependência química, especialmente de estimulantes como anfetaminas e opioides, continua a impactar profundamente a saúde pública e como especialista em reabilitação de dependentes químicos, é fundamental entender que esse aumento no consumo é reflexo de diversos fatores sociais e econômicos, incluindo o aumento do estresse, instabilidade financeira e a facilidade de acesso a substâncias ilícitas, intensificada pela tecnologia. “As clínicas de recuperação devem investir em terapias personalizadas, que tratem não só a dependência em si, mas também os impactos psicossociais da polidrogadição”.
O relatório ainda aponta que embora o uso de drogas seja mais comum entre homens, as mulheres representam cerca de 25% dos usuários globais. No entanto, o consumo de opioides farmacêuticos e estimulantes entre mulheres pode ser significativamente maior, alcançando quase os mesmos níveis que o dos homens em algumas regiões. O relatório destaca ainda que as mulheres progridem mais rapidamente para o uso problemático de drogas e enfrentam consequências adversas desproporcionais, tanto em termos de saúde quanto sociais.
Sobre o assunto, Miler Nunes afirma que é igualmente importante reconhecer que o perfil dos usuários de drogas tem mudado, com mais mulheres sendo impactadas negativamente pelo uso de opioides farmacêuticos e sedativos. Miler continuou dizendo que esse dado deve lembrar que os tratamentos precisam ser mais inclusivos, focados nas barreiras específicas que as mulheres enfrentam no acesso a serviços de saúde e recuperação, como é feito na unidade da Clínica de Recuperação em Mato Grosso. “É necessário, além disso, focar em estratégias de prevenção, educação sobre os riscos do uso de drogas e programas de reintegração social para reduzir as taxas de recaída e promover uma recuperação sustentável”.
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