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Médico alerta para banalização no uso de antibióticos

Médico alerta para banalização no uso de antibióticos
Médico alerta para banalização no uso de antibióticos

Para especialista do Instituto Latino Americano de Sepse, desconhecimento leva ao uso em situações clínicas em que não seriam indicados

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Os antimicrobianos, medicamentos utilizados para prevenir, controlar e tratar doenças infecciosas em humanos, animais e plantas, estão se tornando cada dia menos eficazes, principalmente em razão do uso indiscriminado. Tanto que, desde 1990, um milhão de vidas por ano foram perdidas em razão de infecções resistentes a antibióticos e pelo menos mais de 39 milhões de mortes são estimadas até 2050, segundo o recém-publicado levantamento do Projeto Global Research on Antimicrobial Resistance (GRAM).

“O uso de antibióticos sem uma indicação clara é um problema de saúde pública em vários contextos, desde o uso não médico em cenários de criação de animais, até dentro da parte clínica, no contexto extra-hospitalar, com as indicações excessivas de antibióticos, por exemplo, em síndromes gripais, em situações de doenças virais, não bacterianas”, diz o Dr. Thiago Costa Lisboa, médico intensivista e integrante do Conselho Científico do Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS).

“Na área hospitalar, isso ocorre de uma maneira mais intensa, com impacto mensurável em resistência bacteriana, dado o contexto da gravidade de alguns pacientes, que demandam uma cobertura empírica adequada a partir de uma alta suspeição de uma síndrome infecciosa. Isso leva à prescrição de antibióticos muitas vezes exagerada”, avalia o médico.

Para ele, existe exagero na indicação e também no espectro, ou seja, na potência do antibiótico em relação à demanda da síndrome ou situação clínica que se apresenta, o que acaba causando o problema da multirresistência. “Não bastasse tudo isso, existe ainda a questão da duração do uso indiscriminado de um antibiótico, a inadequação do tempo. A antibioticoterapia por um tempo muito mais prolongado do que o necessário também entra no rol de uso indiscriminado e tem impacto importante na saúde das pessoas”, afirma.

Em relação aos principais fatores que contribuem para a prescrição excessiva de antibióticos, o especialista do ILAS destaca duas vertentes, que acabam convergindo do ponto de vista do efeito. O primeiro é o desconhecimento, tanto da população leiga quanto de profissionais de saúde, das reais indicações do antibiótico e uma banalização do uso, inclusive em situações clínicas em que não estaria previsto.

“O grande exemplo disso são as síndromes virais, especialmente as doenças respiratórias, mas muitas vezes vemos o uso de antibióticos em síndromes gastrointestinais, cuja etiologia mais provável é viral, e em infecções de pele e partes moles, em que a drenagem do foco seria a abordagem preferencial e não um tratamento antibiótico, por vezes prolongado”, explica.

A outra vertente é a da preocupação legítima com pacientes graves e que se beneficiariam de um tratamento antimicrobiano, diz o médico, mas que acabam recebendo um tratamento antimicrobiano em excesso, sem todos os elementos que confirmem o diagnóstico de uma síndrome infecciosa.

“Esses dois processos em paralelo − uso inadequado decorrente de uma falta de informação ou de uma falta de conhecimento e o uso prolongado e inadequado − vão convergir lá adiante, impactando no aumento da resistência bacteriana, questões que precisamos urgentemente reavaliar”, completa o médico.

O Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 2005, que tem quatro objetivos estratégicos: aprofundar e difundir os conhecimentos sobre sepse e infecções graves; desenvolver programas de melhoria da qualidade assistencial ao paciente com sepse e aos sobreviventes e, por consequência, reduzir sua mortalidade e as sequelas a longo prazo; coordenar estudos clı́nicos na área de sepse, e aumentar a percepção do problema que a sepse representa entre leigos, profissionais de saúde, políticos e formadores de opinião.

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