No campus do Instituto Federal de Ituiutaba, um grupo de jovens participa de uma oficina, na manhã seguinte à apresentação do espetáculo teatral Água à Vista. A atividade tem como objetivo estimular os participantes, chamados de ‘tripulantes’, a desenvolverem ideias criativas para solucionar problemas ambientais. Ituiutaba é uma das 12 cidades que integram o projeto, que promove reflexão e ação em prol da sustentabilidade.
O evento faz parte do Arte de Inovar com Maratona de Inovação – Edição Sustentabilidade, um projeto pioneiro no Brasil – inspirado nas melhores práticas da Agência Espacial Americana (NASA) e do Google – que une arte, educação e criatividade para fomentar a conscientização ambiental. Na prática, é a chance de jovens como Ana Beatriz Paes Leme experimentarem um papel que normalmente parece distante: o de inovadores ambientais.
“Normalmente, esses temas são apresentados de forma muito séria. Mas o evento trouxe uma abordagem diferente, que não só ajudou a entender melhor os problemas ambientais, mas também me fez perceber que posso contribuir. Hoje, estou aqui pensando numa solução de verdade”, diz ela.
Iniciativas como essa são fundamentais para alavancar o potencial criativo do Brasil, que ocupa hoje a 50ª posição no Índice Global de Inovação, sendo líder entre as economias da América Latina e do Caribe.
“Se não sensibilizar as pessoas para o que é importante para o desenvolvimento sustentável, não criamos uma sociedade que possa gerar oportunidades para todos. Incentivar o engajamento da juventude dá luz e protagonismo para a inovação”, afirma o economista e Secretário-Executivo de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Ricardo Senna.
Quando a criatividade se transforma em ação
O projeto é um convite à ação. No primeiro dia, o espetáculo Água à Vista apresentou a seguinte narrativa: cientistas viajando no tempo para entender os desastres ambientais que marcaram a história da Terra. No segundo dia, os jovens assumem o papel de protagonistas. Divididos em equipes, eles debatem, criam e apresentam soluções – tudo em um formato dinâmico e gamificado, que deixa o ambiente leve, mas instigante.
Essa estrutura não é por acaso. Segundo Wellington Sacheti, coordenador de Inovação, o objetivo é unir o desenvolvimento de soft skills – como trabalho em equipe, resolução de problemas e comunicação – a temas complexos como sustentabilidade. “Eles aprendem na prática. A gamificação ajuda a manter o engajamento, mas o que realmente importa é ver como as ideias ganham forma a partir da colaboração”, explica.
Soft skills e sustentabilidade: uma conexão poderosa
O projeto faz o cruzamento entre as habilidades humanas e a criatividade técnica. É aqui que iniciativas como essa brilham, desafiando jovens a pensar além do óbvio. Enquanto alguns sugerem sistemas de reaproveitamento de água para comunidades carentes, outros trabalham em ideias para reduzir o desperdício de materiais com ações inovadoras de reciclagem. “Cada equipe traz uma perspectiva diferente, e é incrível ver como, com a orientação dos mentores, essas ideias tomam forma”, comenta Andreia Nunes, coordenadora geral do evento.
Mailene Torres, analista técnica do Sebrae Tocantins, destacou a alta qualidade e o nível técnico dos trabalhos apresentados pelos estudantes. “Trabalhar o empreendedorismo e a sustentabilidade com os jovens são iniciativas grandiosas. Percebemos que, se esses projetos forem implementados, terão um impacto significativo e positivo na sociedade”, afirmou.
O impacto vai além da sala. Os participantes levam para casa não apenas certificados e troféus, mas também uma mudança de perspectiva. Para eles, o desafio da sustentabilidade deixa de ser algo distante para se tornar pessoal.
“Aprendi muitas coisas que eu não sabia e ainda tive a oportunidade de interagir com pessoas que eu não conhecia. Foi incrível perceber que, juntos, conseguimos criar ideias que realmente podem fazer a diferença. Agora, eu vejo que pequenas ações podem ter um grande impacto, e isso me motiva a continuar pensando em soluções”, disse o estudante Lucas de Souza Maia.
Arte, inovação e o futuro da sustentabilidade
Projetos como o Arte de Inovar com Maratona de Inovação – Edição Sustentabilidade mostram que a conscientização ambiental pode ir além do tradicional. Ao combinar arte e inovação, o evento cria um ambiente onde jovens descobrem seu potencial para transformar desafios globais em soluções criativas.
A pró-reitora de pesquisa, pós-graduação e inovação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins, Paula Karini, destaca a importância de iniciativas como essa. “É fundamental abrir as portas das instituições de ensino para projetos transformadores, pois eles incentivam a cultura empreendedora e a inovação entre os estudantes”, afirma.
Essa abordagem é cada vez mais presente no mercado de trabalho, onde sustentabilidade e inovação caminham juntas. Segundo uma pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria, 47% das indústrias brasileiras já desenvolvem projetos ou possuem planos de ação voltados para a ecoinovação. Um estudante com uma visão ampla e integrada sobre o tema pode se destacar no mercado, e é exatamente esse o objetivo do projeto: preparar uma nova geração de jovens conscientes e capacitados.
E a ambição não para por aí. Em 2024, o projeto passou por cinco estados brasileiros, impactando mais de 3.500 pessoas. Agora, o foco está na expansão, o projeto quer criar uma geração que não apenas fala sobre sustentabilidade, mas age para torná-la real.
“Somos o futuro do Brasil. Precisamos preservar os recursos para os nossos filhos e essa conscientização em massa é realmente muito importante para a nossa sociedade”, conclui a estudante Sara Silva Hercos.
Para Sara Hercos e seus colegas, o planeta não é apenas um lugar para viver – é um convite para criar, inovar e cuidar. Se depender deles, o futuro já começou.