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Filme sobre escravidão impacta público em primeira exibição

Filme sobre escravidão impacta público em primeira exibição
Filme sobre escravidão impacta público em primeira exibição

Exibição teste do longa metragem “Flora” retrata as memórias da escravidão e levanta debate sobre responsabilidade social no Brasil

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A exibição teste do longa-metragem Flora, dirigido por Beto Oliveira, no Festival Tela Preta, desencadeou questionamentos e reflexões profundas por parte do público durante sua estreia pública, realizada na noite de 12 de maio em Piracicaba (SP). O evento marcou o início da circulação de um filme que aborda temas históricos delicados, com foco na escravização de pessoas negras no Brasil e o apagamento de suas memórias.

A narrativa de Flora acompanha a trajetória de Flora Maria Blumer de Toledo, uma mulher negra que viveu sob o regime escravagista por 48 anos e, posteriormente, se tornou a primeira mulher negra a integrar uma igreja protestante no Brasil. A história revela como o sistema escravista moldou a vida da personagem, desde sua infância, deixando marcas profundas que a acompanhariam por toda a sua existência. A obra foi construída a partir de quatro anos de pesquisa, que focou na vida de Flora e no contexto histórico da escravização de pessoas negras no interior de São Paulo.

O filme também aborda questões fundamentais como o apagamento sistemático da memória negra no Brasil e as múltiplas camadas de violência enfrentadas pelas mulheres negras ao longo da história. Durante a exibição, os espectadores foram alertados sobre o teor intenso do conteúdo, que inclui cenas de abuso físico, psicológico e social. Para garantir o suporte adequado, uma psicóloga especializada foi convidada a acompanhar a sessão e oferecer acolhimento caso algum espectador se sentisse desconfortável.

De acordo com relatos de espectadores, a sessão foi marcada por uma forte carga emocional. Vários saíram da sala em silêncio, visivelmente comovidos, ou com dificuldades em expressar seus sentimentos. Um dos depoimentos que ecoaram após a sessão foi o de Catharina Martins, espectadora presente, que afirmou: “É impossível assistir ao filme e não ser atravessada. A história de Flora é a história de milhares de mulheres negras hoje. Ela mostra como a estrutura do racismo se renova e continua operando”.

O diretor Beto Oliveira, conhecido por seu trabalho com narrativas de resistência negra, destacou a importância do impacto do filme na sociedade. “Construir as memórias apagadas de uma personagem histórica tão importante é refletir sobre o porquê o racismo estrutural ainda persiste no Brasil. Sei que muitas pessoas vão evitar o filme pelos tristes relatos de violência, mas todas as cenas do filme não contemplam nem 5% de toda violência que pudemos constatar nos quatro anos de pesquisa para o filme”, afirmou o diretor.

Em entrevista, Oliveira também ressaltou a intenção política do projeto: “De todas as violências expressas no filme, a maior delas é o sistema que se criou para apagar a memória do povo negro no Brasil, e a responsabilidade por todos os atos cometidos”.

A repercussão da exibição colocou Flora no centro de discussões importantes sobre o racismo estrutural, a representatividade no cinema e o papel da produção audiovisual na reconstrução de memórias apagadas de grandes personagens históricos negros brasileiros. O filme conta com um elenco liderado por Larissa Oliveira, Eva Prudêncio, Mel Lisboa, Mayara Constantino, Marina Rigueira, Jeniffer Sousa, João Vitti e Bruno Goya. Juntos, eles interpretam personagens que se movem no cenário da escravidão do século XIX, no interior de São Paulo, explorando a normalização da violência e a realidade brutal da época.

Com estreia prevista para novembro de 2025, Flora promete continuar a provocar reflexões sobre o legado da escravidão e a luta por reconhecimento e justiça para as figuras negras silenciadas pela história.

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