São Paulo, SP 13/9/2021 –
Recentemente chegou ao Brasil um conceito de “score nutricional” adotado na França e utilizado em aplicativos de vendas para classificar os alimentos industrializados disponíveis nas prateleiras de supermercados. O sistema atribui notas que indicam os itens mais saudáveis e sugere produtos mais equilibrados e mais baratos. Mas o que, a princípio, pode parecer uma ação de promoção da saúde, na verdade vai de encontro à regulamentação brasileira, com potencial de induzir o consumidor ao erro.
Primeiro, porque a metodologia foi desenvolvida à revelia da norma de rotulagem nutricional aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) após seis anos de discussão. Na França, o score nutricional é aplicado de forma voluntária e é o próprio governo que coleta as informações nutricionais dos produtos junto aos fabricantes, e não agentes privados. Essa classificação foi avaliada e descartada pela Anvisa pela assimetria de informações, entre outros motivos, durante o seu processo de desenvolvimento das normas de rotulagem, que contaram com diversos estudos e ampla participação social.
Adotando-se os critérios desse sistema, um mesmo tipo de produto, a depender da presença ou ausência de determinados nutrientes, poderá ter uma classificação melhor do que outro semelhante, mesmo que ambos possuam altos teores de sódio, açúcar adicionado ou gordura saturada. Dessa forma, produtos de uma mesma categoria que tenham nutrientes igualmente críticos terão notas diferentes, sem que isso signifique que são mais saudáveis do que outros.
A indústria defende que essa metodologia faz classificações equivocadas sobre a qualidade nutricional de alimentos e bebidas, induzindo o consumidor a erros de interpretação, além de sugerir produtos “mais equilibrados e mais baratos” que nem sempre são mais adequados para cada perfil de consumo, ou efetivamente mais baratos.
O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), João Dornellas, enxerga esse tipo de ferramenta com preocupação. “É evidente que o modelo gera confusão, com prejuízos claros à livre e mais bem informada escolha, assim como à sua saúde e segurança alimentar. Nossa equipe testou o modelo disponível no Brasil, pesquisando diversos produtos, e percebemos que a propaganda de comer melhor pagando menos não se confirmou em várias ocasiões”, revela o presidente executivo da ABIA.
O dirigente acrescenta que a ABIA é membro da Rede Rotulagem, formada por 21 entidades ligadas ao setor produtivo de alimentos, bebidas e varejo alimentar, que defende a melhor informação para que os consumidores possam fazer suas escolhas nutricionais no contexto de uma dieta saudável e equilibrada. “Iniciativas para auxiliar a população em suas escolhas alimentares são sempre bem-vindas, desde que respeitem o modelo de informação nutricional aprovado pela Anvisa para o Brasil”, pondera.
Em um aplicativo de pontuação nutricional ativo no país, uma pesquisa feita em 21 de julho pela ABIA sobre 11 produtos da cesta básica – arroz, pão, farinha de trigo, leite, leite em pó, sardinha, manteiga, molho de tomate, macarrão, salsicha, óleo – comprovou que todas as sugestões apontadas como mais equilibradas eram mais caras, com altas de preço variando de 5% a 168%. Isso significa que, ao seguir as recomendações, o consumidor não vai comer melhor pagando menos.
Outro exemplo que pode levar o consumidor ao engano: uma mostarda que contenha sementes em sua composição é classificada com uma nota pior do que outro produto da mesma categoria (que não tenha sementes) porque será mais calórica (a proteína da semente de mostarda aporta calorias ao produto). Essa classificação mais baixa pode levar o consumidor a entender que se trata de um produto menos saudável do que o outro, o que não é verdade.
“Isso não apenas implica em informações imprecisas e enganosas aos consumidores, mas pode direcioná-los a fazer determinadas escolhas sob pretexto de uma diferenciação, ou maior qualidade, que não corresponde à realidade”, esclarece Dornellas.
Website: https://www.abia.org.br/