São Paulo 10/2/2022 – “É importante analisar políticas industriais que não foram bem-sucedidas, mas também as exitosas, como na energia eólica”, diz Daniel Godinho, diretor da WEG
O Brasil pode acelerar o passo rumo a uma economia de baixo carbono gerando investimentos em energia renovável com inserção tecnológica e avançando em programas de eficiência energética, criando ainda políticas para fortalecer a indústria de componentes e serviços
A realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 deixou evidente que a transição energética não é apenas uma demanda, mas uma realidade que ganha velocidade no mundo. O Brasil, com ativos ambientais evidentes, pode acelerar o passo rumo a uma economia de baixo carbono, com oportunidades para investimentos na geração de energia renovável, inserção tecnológica e em programas de eficiência energética. Pensar em formas de apoiar a indústria nacional com objetivos claros pode ser o caminho para adensar cadeias produtivas locais, permitir que fabricantes nacionais ampliem o parque fabril e possam exportar componentes com serviços especializados associados. Esses foram os principais temas discutidos na websérie Transição Energética e Desenvolvimento Sustentável realizada pela Abdib para focar na discussão sobre avanços tecnológicos, transição energética e política industrial. O evento está disponível no canal da Abdib do YouTube.
“O tema da eficiência energética ganhou o topo da agenda corporativa no cenário de transição energética e de uma economia de baixo carbono, o que cria grandes desafios para os países”, destacou o presidente-executivo da Abdib, Venilton Tadini. O gasto com eficiência energética no mundo deve chegar a US$ 300 bilhões em 2021, um volume 10% superior ao ano anterior. Mesmo assim, o montante ainda é ínfimo, segundo estimativas do governo dos Estados Unidos, esse investimento anual teria de triplicar para contribuir com as emissões líquidas zero de carbono até 2050. “Os governos podem ter papel importante na área, seja financiando, seja desenhando boas políticas industriais com objetivos claros e transparentes”, complementou Tadini. De forma similar pensa Sérgio Jacobsen, vice-presidente e CEO da Smart Infrastructure da Siemens do Brasil. “O tema se tornou ainda mais importante porque passamos perto de uma crise energética recentemente”, destacou. Em 2050, a população deve chegar a 9 bilhões de pessoas, com 70% morando nas cidades. Hoje são cerca de 7 bilhões de pessoas com metade delas em centros urbanos, locais em que ocorre mais de dois terços das emissões de poluentes globais.
Daniel Godinho, diretor de Relações Institucionais e Marketing da WEG, destacou que a superação do desafio da transição energética está ligada a três tendências: crescimento das fontes renováveis, eficiência energética e eletrificação, puxada pelos transportes. Ele disse que, em relação à expansão das fontes renováveis, haverá uma exigência ainda maior na velocidade da diversificação da matriz com foco em eólicas, solares, biomassa, geração a partir de resíduos e um especial crescimento da geração fotovoltaica distribuída. “Isso trará inovações em redes inteligentes e armazenamento, o investimento público pode apoiar isso”, disse. Em relação à eficiência energética, ele apontou que esta é uma das melhores formas de combater as mudanças climáticas, mencionando em seguida que há muito espaço para melhorar o consumo energético de motores industriais. Por fim, na eletrificação da frota, aspecto em que o país está mais atrasado, há particularidades. O Brasil tem tecnologia e escala na produção do etanol, mas não pode ficar distante de tendências globais.
Um dos problemas já detectados é conseguir ampliar o engajamento dos consumidores, sobretudo industriais, aos programas de eficiência energética. Ana Cristina Mascarenhas, gerente de Eficiência Energética da Neoenergia, disse que a concessionária tem 0,28% da sua receita operacional líquida para investir em projetos de eficiência energética, seguindo determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), sendo que metade desse valor deve ser destinado a projetos voltados à indústria e a consumidores residenciais. No caso da empresa, o valor atinge R$ 92 milhões este ano, mas poucos projetos da indústria acabam chegando à companhia elétrica. “A indústria não acessa esse recurso. O Brasil não tem um parque de motores muito novo, então poderia ser usado. Esse dinheiro não tem juro, a indústria paga apenas a instalação e os equipamentos”, disse, frisando que os recursos são dos consumidores, pois são cobrados na tarifa de eletricidade e repassados pela distribuidora para a agência reguladora, que os gerencia e aprova os projetos de eficiência energética.
Outro desafio é ampliar o parque industrial para fornecer bens e serviços para os investimentos em energia renovável. Godinho, da WEG, disse que países da Europa e os Estados Unidos buscam atuar perto de suas indústrias com políticas para fomentar setores estratégicos, como renováveis e mobilidade elétrica, uma corrida pela liderança da economia global às próximas décadas. Para ele, “é importante analisar as políticas industriais que não foram bem-sucedidas, mas também observar os acertos, como o da energia eólica”. O executivo explicou que os principais fabricantes de equipamentos e componentes para este setor já estão instalados no Brasil, gerando 300 mil empregos diretos, dos quais 200 mil postos de trabalho são diretos. Hoje, há empresas que passaram a exportar parte de sua produção. Em novembro, o setor atingiu 20 GW de capacidade instalada. Em 2011, estava em 1 GW.
Nos esforços para a transição para uma economia de baixo carbono, a eficiência energética, o uso mais arraigado de sistemas de gestão de energia e a mobilidade elétrica podem abrir espaço para avanços na medição inteligente de energia. O assunto é recorrente há mais de uma década no país. A maioria dos projetos das concessionárias que buscam trocar medidores não é feita com base em recursos próprios, mas dentro do programa de pesquisa e desenvolvimento da Aneel. A velocidade da modernização das redes ainda é vagarosa em razão de indefinições regulatórias. Primeiro, não há incentivo econômico para a troca dos equipamentos tradicionais pelos mais novos, que são mais caros. Dos 80 milhões de medidores instalados no Brasil, menos de 5% deles são inteligentes. Os investimentos apenas na troca destes equipamentos e em sistemas de comunicação usados neles poderiam superar R$ 30 bilhões. Um problema é que o reconhecimento na tarifa é dado apenas na revisão periódica, que ocorre em ciclos de quatro a cinco anos, um período longo, apontam os especialistas.
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