São Paulo 14/2/2022 – A transferência virtual de água pode ser vista como instrumento de pressão geopolítica.
No mercado internacional, muitas vezes um país consome abundantemente a água de outro.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) trazem um plano de ação para um mundo melhor com metas a serem alcançadas por todos os países até 2030.
“Vivemos um cenário em que a demanda por recursos naturais cresce em proporção inversa à sua disponibilização. Aumento populacional, consumismo, desperdício de recursos e degradação destacam-se como alguns dos principais fatores responsáveis por comprometer cada dia mais o desenvolvimento sustentável, que é discutido desde 1987 a partir do Relatório Nosso Futuro Comum”, pontua Vininha F. Carvalho, editora da Revista Ecotour News & Negócios (www.revistaecotour.com.br).
O consumo doméstico, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, é de aproximadamente 10% da água disponível. Os 10% restantes vão para a indústria. Isso quer dizer que o grande volume de água consumida está direcionado para o setor produtivo.
A principal forma de compartilhamento da água, ao contrário do que se pode pensar, não é o transporte e distribuição de água líquida em si, mas o que se chama de transferência virtual de água, que é a quantidade de água utilizada na produção dos diversos produtos que consumimos diariamente, principalmente oriundos da produção agrícola, especialmente a pecuária.
Uma das riquezas mais divulgadas do Brasil é a água em abundância. Mas, o país não é extremamente rico em água em toda sua extensão. Enquanto o Norte e o Centro-Oeste detêm 84,2% dos recursos hídricos nacionais e baixa densidade demográfica, o Nordeste, Sul e Sudeste acumulam 15,8% e concentram a grande parte da população brasileira. O país é dividido pela Agência Nacional de Águas em 12 regiões hidrográficas e dessas a região amazônica tem a maior disponibilidade hídrica do País. “Ou seja, nas regiões mais populosas, a disponibilidade hídrica se assemelha à de regiões igualmente populosas na Europa”, salienta Vininha F. Carvalho.
Com a estiagem e a escassez de água em usinas hidrelétricas, o Brasil enfrenta a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. Além disso, em um ano cheio de restrições e incertezas, a pandemia de Covid-19 escancarou a urgência do direito ao saneamento, especialmente o acesso à água potável.
De acordo com a Pesquisa Saudável e Sustentável 2021, desenvolvida pelo Instituto Akatu e a GlobeScan em 31 países, a pobreza extrema no mundo, a poluição da água e a pandemia de Covid-19 são os principais problemas globais apontados pelos brasileiros. O levantamento, realizado nos meses de junho e julho de 2021, revelou, ainda, que a escassez de água potável, esgotamento de recursos naturais e falta de acesso a cuidados de saúde são temas que preocupam a maioria dos brasileiros.
Países abundantes em água são os que mais exportam água virtual em seus produtos, o que precisa ser repensado quando a água doce e potável começa a ser um bem cada vez mais escasso no mundo. A transferência virtual de água pode ser vista como instrumento de pressão geopolítica, podendo também ser vista como solução para aperfeiçoar o consumo hídrico no planeta. No universo internacional, quem detém água, detém alimentos; e nações dependentes de importação para alimentação estão em forte desvantagem na geopolítica.
“O Brasil tem destacada presença no agronegócio mundial (especialmente com a exportação de carne), sendo considerado como grande exportador de água virtual. Precisamos de projetos de curto e de longo prazo, para transformar nossa imensa riqueza hídrica em fator de desenvolvimento e vida de qualidade. É necessário implantar uma gestão eficiente para combater uma escassez cada vez maior nos próximos anos”, finaliza Vininha F. Carvalho.
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