São Paulo 14/9/2022 – Cientistas querem entender se o eixo cérebro-intestino-microbiota pode influenciar no aparecimento e no agravamento da doença
Dia nacional de prevenção e combate à enfermidade, celebrado em 15 de setembro, visa alertar para o problema que atinge milhões de pessoas no planeta
A depressão é o transtorno mental mais comum e uma das principais causas de incapacidade no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que mais de 300 milhões de pessoas sofram de depressão no planeta e que, em 20 anos, a doença deverá se tornar a mais comum em nível global. A entidade também calcula que aproximadamente 5,8% da população brasileira é portadora da enfermidade, o que significa um total de 11,5 milhões de indivíduos. De acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5% da população.
Instituído em 2019, o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Depressão tem como finalidade alertar para os riscos relativos ao problema que, além de diminuir a qualidade de vida, é um dos motivos dos altos índices de suicídio. Aproximadamente 800 mil pessoas acabam com a própria vida a cada ano no mundo, e o suicídio já é a segunda causa de morte entre indivíduos de 15 a 29 anos de idade. A doença aparece, em geral, no final da terceira década da vida, e estudos mostram prevalência em até 20% nas mulheres e 12% nos homens.
Embora já exista um grande número de pesquisas sobre a doença, os mecanismos precisos da fisiopatologia da depressão permanecem indefinidos. A enfermidade tem característica multifatorial e pode ser causada pela genética, com estimativa de 40% na suscetibilidade; devido à deficiência na bioquímica cerebral, com destaque para a ação de neurotransmissores como noradrenalina, serotonina e dopamina; e em razão de eventos estressantes que podem desencadear episódios depressivos em indivíduos com predisposição genética.
Nos últimos anos, a ciência também descobriu uma correlação importante no eixo cérebro-intestino-microbiota para o desencadeamento de transtornos neuropsiquiátricos como a depressão, com destaque para a ação de algumas espécies de microrganismos que compõem a microbiota intestinal.
Um dos estudos, desenvolvido por pesquisadores dos Estados Unidos e da Irlanda, mostrou como as alterações nesse eixo podem ser determinantes na fisiopatologia de diversas doenças, com destaque para a importante função dos neurotransmissores, em especial a serotonina. Em outra pesquisa, cientistas sugerem que alterações na composição da microbiota intestinal e na função metabólica podem ser relevantes, inclusive, para a resposta do organismo aos antidepressivos, fornecendo informações sobre os mecanismos responsáveis pela eficácia desses medicamentos.
Em um artigo de revisão, pesquisadores japoneses e chineses analisaram o acúmulo de evidências de estudos pré-clínicos e clínicos sugerindo que as alterações na microbiota intestinal, nos ácidos graxos de cadeia curta e nos metabólitos derivados de microrganismos intestinais desempenham um papel fundamental na fisiopatologia da depressão através do eixo cérebro-intestino-microbiota, incluindo os sistemas neurais e imunológicos. No artigo, os cientistas revisaram as descobertas recentes sobre o eixo cérebro-intestino-microbiota na depressão e discutiram o potencial desse eixo como alvo terapêutico para tratar a doença.
Probióticos
Um dos caminhos avaliados pelos cientistas para ajudar no tratamento da depressão envolve a ingestão de cepas probióticas específicas. Nesse sentido, pesquisadores chineses desenvolveram um estudo clínico com participantes de 18 a 60 anos com depressão que ingeriram uma bebida com o probiótico L. casei Shirota – presente nos leites fermentados da Yakult – diariamente, por nove semanas. Ao final do experimento, os cientistas concluíram que a ingestão do probiótico melhorou significativamente a constipação (comum na enfermidade) e os sintomas depressivos. Além disso, a intervenção com o probiótico aumentou os níveis de bactérias intestinais benéficas e diminuiu as bactérias relacionadas à doença mental, sugerindo que esse tipo de probiótico poderia contribuir para melhorar os sintomas comuns em indivíduos com depressão.
Mais informações
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