São Paulo, SP 22/11/2022 – Se houver maior diversidade no meio jurídico, é possível que os escritórios deem uma contribuição ainda maior para uma Justiça menos enviesada
Levantamento setorial mostra que parte expressiva dos grandes escritórios de advocacia já tem compromisso com inclusão de mulheres, mas avanço de advogadas ainda esbarra na falta de metas e orçamento
Um estudo realizado junto a 114 bancas de advocacia mostra que 57,5% dos grandes escritórios (mais de 100 profissionais) presentes na amostra já têm compromisso público com equidade de gênero em seus ambientes.
O percentual de bancas de médio porte (entre 50 e 100 funcionários) com objetivo verbalizado de incluir mais mulheres é de 18,3%. Já entre as bancas menores (menos de 50 colaboradores) a porcentagem é de 15,4%.
O levantamento, realizado pela Tree Diversidade, foi encomendado pelo Centro de Estudos das Sociedades de Advogados para traçar um panorama da diversidade entre os associados e valorizar suas iniciativas de inclusão com o Selo de Equidade de Gênero da entidade. As informações foram coletadas em metodologia autodeclaratória, com escritórios de todas as regiões do Brasil, incluindo número expressivo das maiores bancas de advogados do país.
Embora não reflitam a realidade dos escritórios de advocacia em nível nacional, os dados sugerem um avanço importante no debate sobre diversidade, equidade e inclusão (DE&I) no meio jurídico, principalmente nos grandes escritórios. Segundo Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade, esse avanço é motivado em grande medida pelos usuários de serviços jurídicos, particularmente empresas com estratégias de ESG (sigla para ações voltadas às áreas de meio ambiente, social e governança) em estágio maduro.
“Nas grandes empresas, o ESG tem transbordado para as cadeias de fornecedores, de forma que cada vez mais bancas são estimuladas a adotar suas próprias ações de DE&I, em muitos casos como condição para a continuidade da prestação de serviço”, afirma. “A discussão sobre DE&I no meio jurídico, portanto, já inicia com status de questão estratégica, diretamente relacionada à conquista e à retenção de bons clientes”.
Um ponto que chama atenção no estudo é que a adoção da DE&I no meio jurídico vem ocorrendo num processo não livre de contradições em parte dos escritórios analisados. Embora mais da metade das grandes bancas digam ter compromisso com equidade de gênero, do universo total desse grupo, só 35% têm de fato metas para elevar mulheres a posições de liderança. Além disso, outra parcela de 30% disse não ter definido objetivos para ampliar o número de mulheres entre sócios e diretores, mesmo sendo as advogadas maioria do quadro jurídico em 92,5% do total das grandes bancas.
Ter compromisso com equidade de gênero sem metas de inclusão de mulheres não é uma contradição exclusiva do meio jurídico. Para Rodrigues, no entanto, as empresas que se lançam na jornada da diversidade terão necessariamente de enfrentá-la. “Se diversidade e inclusão são estratégicas, as empresas acabam percebendo que precisam ter metas, sejam inicialmente internas, sejam públicas, para que as ações e transformação cultural realmente aconteçam”, diz.
Ainda no meio jurídico, o estudo alerta para a necessidade de mais efetividade nas ações de DE&I. Segundo o documento, entre os grandes escritórios, 20% disseram não ter orçamento para ações na área, e outros 20% sequer iniciaram discussões sobre como tratar a equidade de gênero nas estratégias de negócio.
Apesar disso, o levantamento mostra que passos iniciais vêm sendo dados pelas sociedades de advogados. Todos os escritórios grandes e médios entrevistados afirmam já esboçar uma comunicação em padrões inclusivos junto a funcionários, clientes e parceiros.
Outro indicador aponta que 80% das grandes bancas já falam sobre equidade de gênero em canais externos, sinal de avanço na compreensão do tema. Ainda nesse grupo, 57,5% disseram estar trabalhando em ações para ampliar o número de mulheres na alta gestão.
“Se houver maior diversidade, equidade e inclusão no meio jurídico, é possível que os escritórios deem uma contribuição ainda maior para uma Justiça menos enviesada e mais efetiva”, diz Rodrigues
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