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Escândalo sexual na ginástica dos EUA: repórter é destaque em congresso

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Em setembro de 2016, Marisa Kwiatkowski publicou reportagem no Indianapolis Star. Ela e outros jornalistas apuraram denúncia envolvendo o ex-médico da seleção norte-americana de ginástica. A repórter vai participar do congresso da Abraji, evento apoiado pelo Portal Comunique-se

No início deste ano, o ex-médico da seleção norte-americana de ginástica Larry Nassar foi condenado duas vezes por abusos sexuais. Na primeira sentença, a pena foi de 40 a 175 anos. Na segunda, de 40 a 125. A essas duas, soma-se uma condenação de 60 anos, em julho de 2017, por posse de pornografia infantil. A derrocada do médico começou com uma reportagem publicada no Indianapolis Star em setembro de 2016. Uma das repórteres responsáveis pela publicação é Marisa Kwiatkowski. Ela contará todos os detalhes da investigação no painel “Investigando abusos sexuais: o caso Larry Nassar”. A participação dela fará parte 13º Congresso Internacional de Jornalismo da Abraji. A apresentação dela está programada para 30 de junho, das 11h às 12h30.

A repórter do veículo de Indiana investigava suspeitas de abuso sexual de crianças nas escolas do estado, quando recebeu uma dica sobre a política de acobertamento de casos do tipo adotada pela Federação de Ginástica dos Estados Unidos (USAG, na sigla em inglês).

Após recolher os primeiros documentos, Marisa Kwiatkowski juntou-se a Mark Alesia e Tim Evans, também repórteres do IndyStar. O trio de jornalistas mergulhou em uma extensa investigação sobre as práticas da USAG. O trabalho resultou no especial “Out of Balance“, publicado um dia antes do início dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A reportagem revelou detalhes sobre como a federação sistematicamente deixou de alertar as autoridades sobre alegações de abusos sexuais cometidos por técnicos.

Na mesma manhã da publicação, o IndyStar recebeu um e-mail da ex-ginasta Rachael Denhollander. No texto, um relato sobre abusos cometidos por Larry Nassar contra ela em um clube do Michigan, anos antes.

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(Imagem: reprodução/IndyStar)

Apurando denúncias

À denúncia de Denhollander somaram-se duas outras, nas semanas seguintes. A medalhista olímpica Jamie Dantzscher, representada por seu advogado, e Jessica Howard, campeã nacional de ginástica rítmica, também relataram ao IndyStar abusos sexuais cometidos por Nassar.

Em 12 de setembro de 2016, Marisa Kwiatkowski, Alesia e Evans publicaram a primeira reportagem sobre o ex-médico da seleção americana de ginástica e da Universidade do Estado do Michigan.

Desde então, mais de 150 mulheres apresentaram alegações de abuso sexual contra Larry Nassar, que foi condenado após admitir ter abusado de 10 mulheres. Após os sucessivos escândalos, dirigentes da USAG renunciaram aos seus cargos, e a Federação mudou radicalmente a sua forma de operar.

Como lidar com casos de abuso sexual

Ao longo dos quase dois anos de apuração, a equipe do IndyStar lidou com um tema essencialmente delicado e precisou ouvir muitos relatos de vítimas. Para Marisa Kwiatkowski, única mulher do grupo, ter diferentes perspectivas foi útil na investigação. “Houve momentos em que meus colegas homens não se sentiram confortáveis perguntando detalhes explícitos sobre as experiências das sobreviventes. Nesses casos, eu lidei com a parte da entrevista que entrava em detalhes explícitos do abuso”, explica a repórter.

A jornalista também foi a responsável por fazer novos contatos com as vítimas, para que a equipe se certificasse de que elas estavam confortáveis com o nível de detalhes e com a linguagem utilizada nas publicações. Ela diz que é importante “comunicar-se exaustivamente” com os sobreviventes, relatando o “que você está fazendo, porque está fazendo e porque você precisa fazer certas questões”. “[É importante] deixar claro desde o início que elas não têm que responder questões que não desejarem, e perguntar se elas têm questões para você”, aponta.

Segundo Marisa Kwiatkowski, em casos como esse é necessário tomar algumas precauções, e investigar os sobreviventes tão bem quantos os supostos criminosos. “Há uma diferença entre acreditar em alguém e estar apto para reportar o que eles estão te contando”, diz a repórter.

Para ela, ter participado de uma investigação que resultou em uma condenação e em uma mudança de postura é motivo de orgulho. “Eu estou orgulhosa do trabalho que eu e meus colegas fizemos, mas ainda há muito a fazer”, diz.

13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Quando
28, 29 e 30 de junho de 2018

Onde
Universidade Anhembi Morumbi
(Rua Casa do Ator, 275 | Vila Olímpia | São Paulo – SP)

Inscrições
No site site congresso.abraji.org.br

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Por Rafael Oliveira.

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Abraji

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Criada em 2002 por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas. É mantida pelos próprios jornalistas e não tem fins lucrativos.

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