Apesar de o latim ter se tornado uma língua morta para o mundo além do Vaticano, et cetera continua sendo uma de suas mais vivas locuções. Reduzida à forma etc., que significa e outras coisas, a expressão deveria ser empregada na enumeração apenas de coisas (“A escola está precisando de livros, cadernos, canetas etc.”), mas, uma vez que nem quem aprendeu latim emprega de forma coerente a expressão, ela passou a ser usada na enumeração de pessoas (“Fazia tempo que eu não via Rute, Judite, Maria etc.”), ocupando o lugar que caberia a et al., abreviação esta de et alii (masculino plural), et aliae (feminino plural: “As lituanas, as estonianas et al.” ) e et alia(neutro).
Quase imperceptível, o ponto que acompanha etc., muleta esta indispensável de quem tem preguiça de pensar ou não sabe o que dizer, só deve ser ignorado quando vier seguido dele mesmo. Por falar em pontuação, ninguém se entende quando o uso da vírgula antes de etc. está em pauta. Enquanto, por exemplo, o Manual de Redação e Estilo do jornal O Estado de S. Paulo usa (“Comprou camisas, calças, meias, etc.”), o Manual de Comunicação da Secom (Senado Federal) diz que o sinal é facultativo, recomendando, no entanto, evitá-lo (“Além da explicação das ementas, a equipe classifica o assunto relativo à proposição pesquisada – saúde, família, trabalho, direito civil, segurança etc.”), como faz o Manual da Redação, da Folha de S.Paulo.
Curiosamente, na hora de repetir etc., quase ninguém se lembra da vírgula (“A escola está precisando de livros, cadernos, canetas etc etc etc”), nem do ponto. Como se não bastasse, de vez em quando, aparece um “e” na frente da abreviação (“A escola está precisando de livros, cadernos, canetas e etc.”). Para que, se tanto na forma curta quanto na extensa já existe o conectivo (“et”)? Só porque a abreviação “esconde” a partícula conjuntiva aditiva? Posto isso, não venha, que não tem. Em textos que escrevo ou reviso, nada de vírgula nem “e” antes de etc. (a não ser que o cliente, que me paga para não ser contrariado, exija), porque, a meu ver, pior do que vírgula ou “e” antes da locução só ela precedida pelos dois juntos: (“A escola está precisando de livros, cadernos, canetas, e etc.”). Você decide.
*Edson de Oliveira. Revisor de textos há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio e textos jornalísticos, é editor dos blogues EFMérides e Blogue da Revisão.