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Editorial: os haters e a perseguição aos jornalistas

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A questão da violência contra jornalistas e comunicadores em geral não é nova. Principalmente no Brasil. É difícil aceitar os tantos Vladimir Herzog e Tim Lopes que perdemos ao longo das últimas décadas. Em um portal especializado na cobertura, com leitores tão atentos, não é preciso repetir as estatísticas – gravada na memória e no coração de quem teve alguém transformado em número. Mas registramos aqui o mais recente: somente no ano passado, os casos de violência contra profissionais de imprensa aumentaram 65,51%, segundo o relatório “Violações à Liberdade de Expressão”, da  Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

Se em um passado recente as ameaças chegavam por cartas e recados dos algozes, agora ela é encaminhada também pela internet. Bem-vindos ao mundo dos haters, que se unem e se movimentam de maneira bem organizada para colocar em xeque a credibilidade de profissionais e desestabilizar a saúde mental de qualquer um. É uma caçada, uma perseguição com desfecho previsível.

Hater: termo usado para classificar pessoas que postam mensagens de ódio sem critérios. Pelo menos três jornalistas foram perseguidos virtualmente nesta semana: Camila Olivo, repórter da CBN responsável por denunciar a ação da Prefeitura de São Paulo que molhou pertences de moradores de rua; Paulo Germano, colunista da Zero Hora que comparou o Movimento Brasil Livre (MBL) ao PT; e o correspondente do Esporte Interativo em Barcelona, Marcelo Bechler, que cravou a mudança de Neymar Jr. para o Paris Saint-Germain, da França.

Nesses casos, é impressionante perceber como os haters são organizados e patrocinados em suas ações. E não é só isso: atacam o lado mais fraco da corda em uma estratégia desumana de calar quem trabalha todos os dias pelo jornalismo de qualidade e pela informação.

  • Camila Olivo fechou sua conta no Twitter após inúmeros ataques e distribuição de sua imagem associada a frases de “mentirosa”. Campanha reforçada por um texto do site de fake news Jornalivre, que defende a gestão de João Dória e vasculha a vida de qualquer jornalista que “ousa” criticar o prefeito paulistano. Há alguma reportagem sobre o tucano? Lá está o Jornalivre para dizer que tudo não passa de obra da “extrema esquerda”;
  • O MBL usou a foto de Paulo Germano para distribuir nas redes sociais uma campanha que questiona se o profissional “é jornalista ou militante de [adivinhem…] extrema esquerda”;
  • Marcelo Bechler ficou alguns minutos offline e quando retornou ao mundo virtual percebeu que suas contas tinham sido bombardeadas por ameaças. “Se for mentira (a notícia sobre Neymar), vamo (sic) invadir tua casa”, escreveu um internauta em mensagem privada enviada para o Instagram do cronista esportivo.

Três casos apenas para formar o topo do ranking da violência contra a imprensa no Brasil nesta semana. Em um país com mais de 205 milhões de habitantes, quantos mais suportam todos os dias os ataques e as campanhas de difamação na internet?  Quantos têm suas vidas ameaçadas? Quantos morrem pela profissão?

É o lado mais fraco da corda. E uma hora ela arrebenta.

O que o Portal Comunique-se observa é até quando jornalistas estarão sozinhos nesta batalha. Até quando serão alvos de ataques sincronizados sem que o lado mais forte se posicione. Onde estão os grupos de comunicação que empregam esses profissionais? O que têm feito para proteger a pessoa que sai de casa todos os dias em busca de conteúdo? Sabemos que medidas de segurança são tomadas nos bastidores – o que é de extrema importância. Precisamos, porém, ir além. As empresas precisam se posicionar. Não se pode permitir o mal que os haters causam a jornalistas. No caso de Camila, por exemplo, a campanha criminosa promovida pelo Jornalivre/MBL fez a repórter ser associada a termos como “mentirosa” e “extrema esquerda” – além de pedidos implorando por sua demissão da CBN.

Os veículos de comunicação precisam se posicionar. Os haters atacam e, como no caso da repórter da CBN, os jornalistas enxergam a necessidade de se esconderem. A notícia perde espaço para a proliferação de ações mentirosas e levianas. Perde o jornalismo, as próprias empresas de comunicação e, consequentemente, a democracia.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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