Opinião

A hora e a vez da comunicação — por Daniela Diniz

A pandemia provocou uma nova ordem (ou desordem) no mundo do trabalho. Se já falávamos de imprevisibilidade antes de 2020 e achávamos que vivíamos num mundo volátil, incerto e ágil, não imaginávamos o que seria sentir os efeitos dessas palavras nas rotinas diárias. De uma hora para outra, fomos desconectados do mundo físico e social, passando a viver e conviver por meio de telas. Aprendemos (porque não teve outro jeito) a usar novas ferramentas e explorar outras já conhecidas ao limite de suas mágicas. E ao integrar vida pessoal e profissional, passamos a estabelecer novas prioridades para os negócios, para as pessoas e para nós mesmos e encontrar novos desafios em nossa agenda. Um deles, sem dúvida, foi a comunicação interna.

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Na última pesquisa do Great Place to Work que identificou as principais Tendências de Gestão de Pessoas para 2022, da qual mais de 2.600 pessoas participaram, a comunicação interna apareceu como segundo maior desafio das empresas em 2021 (49,2%), perdendo apenas para a adoção de novos modelos de trabalho (59%). Na pesquisa do ano anterior, que perguntou sobre os maiores desafios que as empresas enfrentaram em 2020, a comunicação interna ficou em primeiro lugar, com 54% das respostas. E ela deve seguir no topo da lista dos grandes desafios dos líderes nos próximos anos. Por quê? Porque a comunicação interna é a principal veia da organização. É por meio dela que os líderes transmitem a cultura, os valores e o propósito da empresa, as estratégias de negócio e as atitudes e comportamento esperados de seus times. E se no mundo 100% presencial e físico ter uma comunicação eficiente, assertiva e poderosa já era um desafio enorme, imagine num mundo híbrido, flexível e remoto?

Sem a adoção de canais e ferramentas adequados e, principalmente, de uma estratégia bem definida de comunicação, a empresa corre o sério — seríssimo — risco de se transformar em uma Torre de Babel, onde ninguém consegue entender o outro. E aí todo o negócio — plano estratégico, definição de metas e engajamento — vão por água abaixo. Durante a pandemia, muitas empresas sentiram logo os efeitos do mundo remoto na sua comunicação. O primeiro deles foi a necessidade de passar, de forma constante e, de preferência, em tempo real, as novas diretrizes para todo time. Não dava mais para cascatear e deixar que a mensagem chegasse na ponta de forma truncada. Era preciso usar o benefício da tecnologia — que permite unir todos os times na mesma tela ao mesmo tempo — e passar os principais avisos e direcionamentos para todos. Foi nesse momento que muitos CEOs assumiram o papel de representantes de turma e, ao lado do time de recursos humanos e comunicação, passaram a reservar um momento na semana ou na quinzena para transmitir — não apenas as mensagens importantes — mas, sobretudo, segurança.

[A comunicação interna] deve seguir no topo da lista dos grandes desafios dos líderes nos próximos anos — Daniela Diniz

O segundo efeito sentido por todos nós quando fomos atirados para a tela foi a necessidade de adotar um canal oficial corporativo para as mensagens institucionais e orientar as lideranças e seus times a escolher formas e ferramentas para manter a comunicação ativa. Afinal, alguns usavam o WhatsApp; outros, o Teams; outros ainda o e-mail, forçando todos a estarem conectados em todos os canais — e muitas vezes — para responder as mesmas coisas.

Houve ainda um terceiro efeito desse turbilhão de novidades a que fomos submetidos a partir de março de 2020: o acúmulo de reuniões. Ao retirarmos o cafezinho com colegas da nossa rotina, o almoço com o time e aquele toquinho no ombro que, de forma ágil e mágica, resolvia questões simples, passamos o dia gerando e recebendo links de reuniões. Para tudo. Cerca de seis meses após o início da pandemia, ouvi de vários executivos a seguinte frase: “tudo agora virou uma reunião; não existe mais conversa”. Porque — sem saber como resolver aquilo que resolvíamos de forma natural, sem pensar muito a respeito — aprendemos a gerar links para ter o interlocutor por perto. A consequência foi fatal: muita dispersão e um cansaço generalizado.

Todos esses efeitos provocaram nas empresas a necessidade de ter uma estratégia de comunicação bem definida e organizar — junto às lideranças — novos planos para garantir que todos estivessem sempre na mesma página, evitar cansaço e desperdício de tempo e, principalmente, transmitir o jeitão da empresa. Ou seja: sua cultura.

Sabemos que a comunicação interna ganhou um lugar de respeito no palco corporativo — Daniela Diniz

Quase dois anos após a virada de mundo, aprendemos a nos comunicar de forma mais organizada, o que não significa que estamos ainda num patamar evoluído de eficiência. Até porque o desafio agora é a gestão dos times híbridos. Sim, porque quando nos acostumamos a gerar menos links, a diminuir as reuniões, a organizar as mensagens e adotar os canais oficiais para todos que estavam remoto, agora é preciso fazer tudo isso para lá e para cá. Isto é: para quem ficou em casa e para quem está voltando ao escritório, sem prejuízo para nenhuma das partes.

Por tudo isso e por aquilo que ainda vamos viver — afinal, a revolução do trabalho não vai parar após a pandemia —, sabemos que a comunicação interna ganhou um lugar de respeito no palco corporativo, elevando a área e o profissional a uma função extremamente estratégica. E isso não tem volta. Afinal, nenhum negócio sobrevive numa Torre de Babel.

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Por Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do Great Place to Work (GPTW). Contato: daniela.diniz@greatplacetowork.com.

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