Ninguém razoável está comemorando as mais de 200 demissões na Editora Abril. As críticas pesadas sobre a linha editorial da revista Veja também não são de hoje. Tudo isso pesa por um conjunto de fatores. E estou do lado dos trabalhadores. Trabalhador é trabalhador. Chefe é chefe.
Quem me conhece sabe que fico realmente triste com a derrocada da Abril. Admiro a história da empresa e me deprime a sua derrocada. E explico aqui meus motivos.
Antes das críticas da Veja crescerem boa parte por culpa da oposição da grande imprensa com a esquerda e causas progressistas, fui assinante da revista por 15 anos. A Abril, para quem viveu os anos 90, nos conquistou com diferentes revistas. Para quem viveu os anos 80, ainda conviveu com a Coleção Os Pensadores e todas as enciclopédias. E, desde quase sempre, a editora teve quadrinhos.
Boa parte da cultura letrada do Brasil passou pelo vasto portifólio da Editora Abril. Para além dos jornais, colecionar revistas se tornou um sinônimo de conhecimento. “Dobráveis e rasgáveis”, como dizia o próprio Roberto Civita, elas eram de fato fascinantes.
Sem a Abril não teríamos o Mino Carta que conhecemos hoje. Críticas à parte, Mino levou seu conhecimento da Veja para IstoÉ e CartaCapital.
Mas a editora perdeu o bonde da história. Quem leu a biografia de Civita sabe que a família errou financeiramente ao apostar suas fichas na DirecTV contra a Globo no fim dos anos 90. Sem a correta consultoria técnica, acumularam dívidas gigantescas que contaminaram o grupo. Depois veio a malsucedida operação UOL-BOL, que a Folha de S. Paulo se fortaleceu com serviços de internet e portal de notícias. Hoje eles são donos do bilionário PagSeguro.
A Abril abriu na bolsa seu negócio de Educação, mas minguaram anunciantes para revistas. E foi neste contexto que a família Civita, apoiada por editores ruins, acabou com a cultura editorial da Veja numa missão com interesses econômicos e políticos.
A internet veio para ficar. Sites e blogs estão criando um novo ecossistema de conteúdo. Mas suas estruturas são sim mais enxutas e as oportunidades são ainda reduzidas demais. Baixas demais para 200 desempregados.
Se você leu até aqui, faço um apelo. Para além da responsabilidade do jornalista, está a do leitor. Acredito no conteúdo gratuito e de fácil acesso. Mas acredito também em outra coisa: que você, leitor, deve financiar o jornalismo. Não somente os anunciantes e as grandes empresas.
Um dos maiores pecados com a derrocada da Editora Abril para a sociedade é a crescente falta de qualidade da cultura escrita. Muito por culpa da editora. E muito por falta de leitores que paguem pelo conteúdo e façam mais exigências dos jornalistas.
Se você acredita no meu trabalho ou no dos meus colegas, não tenha dúvida: Financie. O capitalismo não está fácil pra ninguém. Muito menos para os operários da notícia em mercados que estão decadentes ou em transformação. Trabalhador ajuda trabalhador.
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