Opinião

A turma que não escrevia direito – por Edson de Oliveira

A primeira coisa que a supervisora do departamento de tradução e legendagem da empresa na qual só consegui entrar depois de três tentativas fazia — ou mandava seus auxiliares fazer — quando enviava um vídeo para traduzir era repetir as instruções de trabalho.

Leia mais:

Trabalho de Sísifo era o da chefa. Por mais que fosse informada de que, por exemplo, o limite de caracteres em cada linha da legenda deveria ser respeitado (só em casos excepcionais a legenda poderia ter mais do que duas linhas, todo texto que aparecesse na tela deveria ser traduzido e palavrões, evitados ou “suavizados”), a turma que não escrevia direito, como eu chamava os tradutores que mais davam trabalho para a revisão, não se cansava de entregar trabalhos com legendas para resumir, reescrever ou dividir.

Além disso, havia tradução incompleta, errada ou sem lista de elenco. Estes erros, se já fossem corrigidos antes de chegarem à mesa da revisão, evitariam que quem os cometeu não só tivesse menos dúvidas para resolver com os revisores, mas também não os fizesse correr mais risco do que eles já corriam de atrasar a entrega do trabalho.

Como a turma deveria escrever

Antes que alguém me pergunte, o limite de caracteres deveria ser respeitado porque, se o tradutor ultrapassasse o número informado, que, dependendo do cliente, variava, a legenda poderia não caber na tela; só em casos excepcionais, como quando o tempo das falas coincidia com o de um letreiro explicativo, a legenda poderia ter mais do que duas linhas para não “poluir” a tela; todo texto que aparecesse na tela – como abertura e fechamento, indicação de passagem de tempo, placas etc. – deveria ser traduzido para facilitar o entendimento do filme; palavrões deveriam ser evitados ou “suavizados” porque o cliente é que manda.

Mas o que mais fazia o filme da turma que não escrevia direito queimar, principalmente quando nossos vizinhos da masterização de vídeo cobravam a entrega do arquivo revisado, não eram os erros extras que, por preguiça ou falta de profissionalismo, ela deixava para os revisores corrigir, mas a má vontade com que às vezes ela atendia na hora de tirar dúvidas, dando respostas nem sempre convincentes.

Compartilhe
0
0
Edson de Oliveira

Revisor há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio, textos jornalísticos e acadêmicos, é editor dos blogues “Café Elétrico” e “Blogue da Revisão”.

Recent Posts

Lumi Global adquire a Assembly Voting para fortalecer a liderança de produtos e acelerar a expansão internacional

LIPHOOK, Reino Unido, Dec. 22, 2024 (GLOBE NEWSWIRE) -- A Lumi Global, líder global em…

20 horas ago

Brasil é 50º em inovação no mundo e líder na América Latina

O Brasil lidera em inovação na América Latina. Apesar de desafios, investimentos públicos e políticas…

3 dias ago

Caminhos para Romper os Ciclos de Abuso Psicológico Feminino

Psicóloga ressalta a urgência de políticas públicas para apoiar as vítimas de abuso emocional

3 dias ago

Thermas Resort Walter World abre campanha Réveillon 2025

O hotel, localizado no Sul de Minas Gerais, contará com atrações dedicadas a adultos e…

3 dias ago

Atrações natalinas impulsionam o turismo em Curitiba

Uma das maiores programações gratuitas de Natal já está acontecendo na cidade e a expectativa…

3 dias ago

Comemorações com fogos de artifício são traumáticas para os pets

O animal desorientado entra em desarmonia com o ambiente

3 dias ago