São Paulo 23/7/2020 –
Muito tem sido falado dos prejuízos e das extensas perdas que o Brasil, a exemplo de outros países, terá tanto na área econômica quanto na social, em decorrência dos efeitos da pandemia da Covid-19.
Entretanto, pouco ou quase nada tem sido dito sobre as perdas incalculáveis que a falta da escola e dos amigos trarão às vidas das crianças, principalmente daquelas em fase de constituição psíquica.
Geralmente, uma das primeiras despesas a serem cortadas na família que passa por dificuldades financeiras é a “escolinha das crianças”. E por quê? Porque a educação infantil, ainda hoje, é pouco valorizada no Brasil e obrigatórias apenas a partir dos quatro anos.
Até lá, se os pais estão trabalhando, quem dá conta das crianças? Ao nascer a criança não traz consigo nenhuma informação ou inscrição. Ela não sabe o que é fome, frio, calor ou o que é dor, muito menos dor do quê…
Tudo isso ela aprende com o outro. O primeiro “outro” na vida de uma criança é a mãe, ou quem a substitui e, depois, vêm os outros… os primos, os coleguinhas da escola e os professores.
É na interação com os amigos e nas brincadeiras de faz de conta, que ela ensaia o aprender e o entender sobre todas as coisas que escuta e vê, mas não sabe, ainda, muito como tudo funciona e nem por quê.
Entre tapas e beijos, querer e não querer, descobre o outro e o desejo do outro, que aprende a respeitar e a reconhecer.
Onde tudo isso acontece? Normalmente no espaço de uma escola de educação infantil, tão pouco valorizada na atual crise.
Quem disse que criança vai para a escola só por causa do lanche? O lanche é importante? Sim, mas o que conta, de fato, além dos amigos, são os vínculos afetivos e sociais, são as brincadeiras, é poder descobrir as coisas de um jeito leve e brincalhão, onde tudo acontece sem punição.
É pelo olhar e pela palavra que o professor endereça à cada criança que um vínculo afetivo é estabelecido possibilitando a transmissão de toda a sorte de valores morais, éticos e culturais.
A interação que acontece entre as famílias e a escola também é de vital importância. São momentos como esses que favorecem as trocas de experiências e as vivências na trabalhosa arte do educar, criando-se uma cumplicidade mútua dos pais entre eles e deles com a escola.
Por natureza, a escola é um ponto de encontro e uma referência, para que isso tudo possa acontecer, claro complementarmente à ação dos pais.
No entanto, frente a pandemia, o que pode ser feito para evitar que as crianças fiquem com o olhar voltado para o vazio do caos, e gastem o tempo com joguinhos nos telefones celulares, ipads, computadores ou TVs?
Mesmo diante de todas as dificuldades que os pais têm enfrentado, eles precisam dar ainda mais atenção, carinho e afeto às crianças. Precisam de alguém que brinque com elas, que responda às suas indagações e que mantenha firme o laço de afeto anteriormente estabelecido.
Em meio à desordem e à confusão de tanta coisa acontecendo os pais precisam ficar atentos para não deixar seus filhos, ainda em fase de constituição, à margem de uma interlocução.
Maria G. Drummond Gruppi- psicóloga, especialista em Primeira Infância, pelo COGEAE PUC SP e diretora do Ponto Omega- Berçário e Educação Infantil Bilíngue.
Website: http://pontoomegacci.com.br/
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