A Abraji exibiu no sábado, 28, o documentário “Quem Matou? Quem Mandou Matar?” no Caixa Belas Artes, em São Paulo. O filme é resultado do trabalho de investigação de Bob Fernandes e Bruno Miranda, com edição de João Wainer, do assassinato de 6 jornalistas em 4 estados brasileiros.
O documentário é inédito e faz parte do Programa Tim Lopes, realizado pela Abraji, que publica ao longo desta semana quatro reportagens, em texto e vídeo, sobre os crimes que tiraram a vida de Gleydson Carvalho, Djalma Santos, Rodrigo Neto, Walgney de Carvalho, Paulo Rocaro e Luiz Henrique ‘Tulu’. O material revela os bastidores e os riscos de se fazer jornalismo fora dos grandes centros.
O programa tem apoio da Open Society Foundations e procura apurar quem mata e quem manda matar comunicadores. Nos últimos anos, o Brasil esteve no topo das listas de países mais violentos para jornalistas, ao lado de Estados em guerra civil. “São crimes que atingem cidadãos, atingem a integridade física desses cidadãos, e também a liberdade de imprensa e, em consequência, a democracia”, aponta Ricardo Pedreira, diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ). “A impunidade é o que mais estimula a continuidade desses crimes.”
Cobrir violações contra jornalistas com especial atenção não é uma prática cabotina ou corporativista. O jornalista e professor da ECA-USP, Eugênio Bucci, lembra que “dada a situação de violências generalizadas contra jornalistas, especialmente no nosso país, violências que incluem intimidações diversas e agressões físicas, além de assassinatos, devemos tomar como um dos deveres prioritários dos jornalistas e das redações profissionais noticiar, com destaque, todos os crimes cometidos contra profissionais da imprensa”.
Para Bucci, “as agressões contra jornalistas são agressões diretas contra o direito à informação de que todo cidadão é titular, e uma sociedade que tolera esse tipo de agressão é uma sociedade que não valoriza a liberdade de expressão, o direito à informação e o dever, que cabe aos jornalistas, de fiscalizar o poder a partir de um posto de observação independente e crítico”.
Esta é a primeira vez desde sua fundação, em 2002, que a Abraji produz conteúdo jornalístico inédito e fruto de investigação. “Quebramos, excepcionalmente, este paradigma, para tratar de um dos temas mais caros ao exercício da profissão. É algo que embrulha o estômago, porque impossível não se imaginar no lugar do corpo frio da vez”, declara Thiago Herdy, presidente da associação. A diretora-executiva da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER), Maria Célia Furtado, destaca que “os comunicadores são os defensores da cidadania e dos princípios democráticos de direito”.
As reportagens lançam luz sobre casos passados e podem ajudar a acelerar as investigações oficiais. Num segundo momento, o Programa Tim Lopes enviará uma equipe de repórteres de diferentes redações para cobrir casos de assassinatos de jornalistas assim que eles acontecerem. Além de buscar responder quem matou e quem mandou matar, os profissionais darão prosseguimento, na medida do possível, ao trabalho jornalístico interrompido.