O desmatamento ilegal na Amazônia é algo que preocupa a todos, inclusive aos produtores rurais sérios, pois a ação dos criminosos traz sérias consequências ambientais e fecha portas comerciais, principalmente no exterior. Isto parece óbvio, mas ainda existem aqueles que insistem em colocar agricultores — inclusive os familiares — e bandidos no mesmo balaio. Este é um grave problema de imagem que somente se resolverá no dia em que o agronegócio passar a encarar a comunicação como algo central, e não periférico, em sua atividade.
É certo que aspectos como produção e logística merecem todo destaque quando se pensa no agro. Contudo, parece que a excelência com que o setor lida com suas atividades-fim ainda não foi suficiente para que parte da sociedade e, mais especificamente, da imprensa dedique um melhor tratamento à gente do campo. É preciso que haja um planejamento estratégico de comunicação envolvendo todo o sistema agroindustrial — antes, dentro e depois da porteira. Para isso, é fundamental que o trabalho vá além dos líderes empresariais e inclua também acadêmicos e profissionais especializados em comunicação. Quanto mais referências houver durante o processo de trabalho, mais assertivos serão os resultados.
O sucesso da campanha “Agro: a indústria-riqueza do Brasil”, promovida pela Globo, comprova o potencial de comunicação que o setor possui. Nenhum telespectador fica indiferente aos vistosos números que brotam na tela. Há, porém, algo bem maior do que esses dados: trata-se do arcabouço cultural existente por trás deles e que se manifesta, por exemplo, na culinária, na moda e na música. É através desses elementos, que também são produtos midiáticos, que o campo pode se aproximar ainda mais da cidade, abrindo fissuras no muro de preconceito que parece separar esses dois universos.
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Participei recentemente de um debate no canal Agro+, do grupo Bandeirantes, cujo tema era a comunicação do agronegócio no exterior. Uma das conclusões que eu e meus colegas de programa chegamos é que, na verdade, antes de pensarmos no aspecto internacional, devemos fazer um trabalho interno. A maioria dos veículos de comunicação brasileiros não conta com profissionais minimamente interessados no campo. Uma das consequências dessa situação é a desinformação, que se espalha rapidamente ao redor do mundo e, muitas vezes, é turbinada pela sanha dos países com os quais o Brasil disputa mercado. Um trabalho mais intenso junto os veículos nacionais, munindo-os de dados corretos, já seria um grande passo.
É primordial, portanto, que o agro faça a sua parte. Por um lado, o setor já se mostra extremamente competente quando fala para si próprio. O aumento no número de canais de TV especializados demonstra isso. Só em 2020, ano difícil em todos os sentidos, surgiram dois: o Agro+ e o Canal do Criador. Eles se somam às muitas outras emissoras existentes há anos. Em contrapartida, ainda se vê muita timidez por parte dos produtores rurais ou mesmo das entidades que os representam.
Estudo, investimento, treinamento e, conforme já mencionado, planejamento devem ser as palavras de ordem para o agronegócio superar os desafios que enfrenta com relação à sua imagem. Apenas a comunicação profissional será capaz de revelar aquilo que o setor de fato representa em termos culturais, econômicos, políticos e sociais para o Brasil.
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