Personagem central das reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil na noite de domingo, 9, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, tem se colocado como vítima e ombudsman de trabalho jornalístico. Em vez de explicar o teor de mensagens trocadas com o procurador Deltan Dallagnol, em que dão a entender que atuaram de forma partidária em ações da operação Lava Jato, ele preferiu criticar o trabalho do veículo de comunicação. Visão distinta de outros órgãos da imprensa brasileira e do exterior, que repercutiram o material divulgado no fim de semana. TV Globo, Folha de S. Paulo, Veja, The Washington Post e Bloomberg foram algumas das empresas de mídia a destacar a pauta.
O ex-juiz federal divulgou nota oficial horas após a série de reportagens contra ele ir ao ar. Aproveitou para tecer críticas ao trabalho desenvolvido pelo The Intercept Brasil. Citou, por exemplo, que a equipe responsável pelo conteúdo não chegou a entrar em contato antes de divulgar as conversas que teve com Deltan Dallagnol. Ponto que é explicado pelo comando da redação do veículo digital: o contato prévio não existiu por receio de que se criassem mecanismos legais impedindo a divulgação da matéria, a chamada censura prévia. Em seu posicionamento, que fora divulgado em primeira mão pelo site O Antagonista, ele fala em “supostas mensagens”. Não assinala, contudo, nenhum trecho que não descreva a verdade dos fatos (e da conversa que, enquanto juiz, manteve com um procurador da República).
“Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato”, afirma Sergio Moro em parte de sua nota oficial. Nesta segunda-feira, 10, o ministro da Justiça e Segurança Pública enfatizou que as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil. Dividido em quatro partes, o material foi desenvolvido e organizado por seis jornalistas: Glenn Greenwald, Betsy Reed, Leandro Demori, Victor Pougy, Rafael Moro Martins e Alexandre de Santi.
O artigo 5º da Constituição federal garante que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. O direito de preservar a fonte (contato que repassou as mensagens entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol) foi usado pela redação do site The Intercept. O veículo online explicou, ainda, que o responsável pelo envio das informações surgiu antes de os citados alegarem — na última semana — que tiveram seus aparelhos celulares violados por criminosos cibernéticos. Apesar disso, o ex-juiz da Lava Jato reclamou. “Lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo”, contestou o ministro da Justiça.
Jornalista que tem criticado decisões de Deltan Dallagnol, Sergio Moro e outros agentes por trás da operação Lava Jato, Reinaldo Azevedo foi citado em uma mensagem enviada pelo procurador com o ex-juiz. “Ainda, como a prova é indireta, ‘juristas’ como Lenio Streck e Reinaldo Azevedo falam de falta de provas. Creio que isso vai passar só quando eventualmente a página for virada para a próxima fase, com o eventual recebimento da denúncia, em que talvez caiba, se entender pertinente no contexto da decisão, abordar esses pontos”, informa a reportagem. Em seu blog no UOL, o colunista questionou se a Lava Jato voltou a demonstrar incômodo com ele. “Há cinco anos a Lava Jato tem de me engolir. Não foram poucas, claro!, as bombas jogadas no meu caminho. Mas a verdade começa a vir à luz de maneira irrespondível. O trabalho é árduo, mas me sinto intelectualmente recompensada”.
Enquanto Reinaldo Azevedo era motivo de reclamação por parte de Deltan Dallagnol, um outro profissional da imprensa atuava como pauteiro e social media do grupo liderado pelo procurador. Ao menos é o que aponta texto de Vinicius Segalla para o Diário do Centro do Mundo. Segundo a reportagem, o nome do comunicador será divulgado ao decorrer dos próximos dias pelo The Intercept. O DCM adianta, contudo, que se trata de alguém que “trabalhou por anos em uma revista semanal e que costuma antagonizar com políticos e partidos de esquerda do país”. Pontua-se que esse profissional da mídia “assessorava os procuradores para que os vazamentos fossem feitos no ‘timing’ certo para gerar a repercussão desejada pelos procuradores”.
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