São Paulo – SP 9/6/2021 –
Um levantamento realizado pela OMS, Organização Mundial da Saúde, em 2017 constatou que o Brasil é um dos países mais ansiosos do mundo. Quase 19 milhões de brasileiros são afetados pelo distúrbio. O quadro se agravou com a chegada da pandemia do novo Coronavírus. No início da crise sanitária, o Ministério da Saúde entrevistou 17 mil pessoas: 86,5% preenchiam os requisitos para serem considerados portadores de algum tipo de ansiedade patológica.
Diante do cenário, surge o questionamento: é possível auxiliar quem sofre de ansiedade? O que pode ser feito? Segundo o médico psiquiatra Cyro Masci, essa é uma pergunta comum de familiares e amigos de pessoas que sofrem do problema.
O médico aponta que “antes de tudo, é preciso compreender como é que esse transtorno é formado. Sem essa compreensão, as intervenções podem ser ineficazes. Algo como alguém que, diante de um carro que não quer andar, sugere ficar tentando dar partida no motor sem perceber que o problema é falta de combustível, e a situação só vai piorar”, esclarece.
Cyro explica que o corpo humano é composto por vários sistemas que reagem ao meio ambiente. Um deles é o “Sistema de Respostas a Ameaças”, que percebe indícios de perigo e prepara o indivíduo para enfrentar um problema potencial. “Por exemplo, se alguém percebe um barulho de carro vindo na sua direção quando está atravessando a rua, essa resposta é ativada. Ao entrar em ação, coloca a pessoa em alerta, tanto gerando uma sensação subjetiva de perigo, quanto fornecendo energia extra para apressar o passo e sair da situação de risco. Esse sistema pode apresentar falta de precisão, ampliando erroneamente a avaliação dos riscos ou exagerando nas reações. Essa situação é conhecida como ansiedade”, explica Cyro Masci.
Sistema nervoso em alerta
Masci explica que “quando esse alarme se manifesta de maneira abrupta e de modo desproporcional aos acontecimentos, uma crise de ansiedade é desencadeada. Muitas vezes é acompanhada de sintomas como tremores no corpo, adormecimento em alguns membros, taquicardia, mal-estar gástrico e sofrimento emocional intenso, sendo frequente a sensação de perda de controle da mente e do próprio corpo.” Nesses momentos, o profissional reforça que o apoio de alguém pode fazer muita diferença, mas é preciso estar atento ao que pode e o que não deve ser feito.
Sabendo que o problema é esse alarme desregulado, é possível adotar certas posturas para auxiliar quem sofre do problema. Abaixo, Cyro Masci enumera 5 medidas que acredita serem essenciais:
Acolhimento
“O primeiro passo para quem deseja ajudar é segurar a própria ansiedade na hora de tentar resolver a situação. É necessário manter a calma e amparar, oferecer ‘um ombro amigo’, lembrar que aquela pessoa está sofrendo, com grande mal-estar. Quando o sofrimento é físico, uma perna quebrada, por exemplo, é mais fácil ficar aflito e sentir empatia”, explica. O médico diz que diante do sofrimento mental pode ser mais difícil identificar-se e respeitar a dor do outro de modo automático.
“É possível assegurar esse acolhimento com frases do tipo ‘eu estou aqui com você’ ou ‘estamos juntos, você pode contar comigo’. Já afirmações como ‘você está exagerando’, ou ‘você está com frescura, relaxe’ não ajudam em nada e pioram a situação. É importante falar menos e ouvir mais”, orienta Cyro Masci.
Redução dos estímulos do ambiente
Para Cyro Masci, “o Sistema de Resposta a Ameaças, que gera a ansiedade, pode ter seu funcionamento facilitado se a pessoa for levada para um ambiente com menos estímulos, mais tranquilo, se possível mais arejado. Se não for possível ir fisicamente, tente sugerir imaginar um lugar agradável, como uma praia deserta ou um belo jardim”.
Distração e segurança
Reforçando a dica anterior, é importante diminuir os estímulos de alerta. “Pode-se tentar medidas que sejam exatamente o oposto da sensação de ameaça, ou seja, de tranquilidade e segurança. Uma opção é observar qualquer outra coisa que não sejam os sintomas da ansiedade, como tentar dar nome para as cores das paredes ao redor, contar quantas janelas o ambiente tem, enfim, distrair, tirar o foco dos sintomas”, explica Masci. Outro fator importante no alarme é a atenção exagerada aos próprios sintomas: “esse foco nas sensações pode fornecer informação poderosa para Sistema de Respostas a Ameaças – que interpreta erroneamente as sensações como uma nova situação de perigo, fechando um ciclo vicioso e piorando mais ainda a situação”, orienta o médico.
Respirar é fundamental
Segundo Cyro Masci, episódios de ansiedade aguda alteram a frequência e a profundidade da respiração, o que piora a situação. “Existem inúmeras técnicas de respiração, e uma das mais fáceis de serem aplicadas é convidar a pessoa a inspirar sempre pelo nariz e expirar pela boca ou pelo nariz, mas segurando o ar o máximo que conseguir. Em situações de crise, é muito difícil respirar de modo controlado, mas segurar o ar na saída é mais fácil e pode ajudar”, explica.
Água com açúcar
Cyro diz que as “receitas de vó”, muitas vezes, são fundamentadas. “Em episódios de ansiedade aguda, ofereça um copo de água com umas duas ou três colheres de sopa de açúcar. Essa medida simples atua, em primeiro ponto, na distração, porque retira o foco de atenção dos sintomas. Possui efeito placebo, que é a ação benéfica de uma substância sem ação farmacológica, de reduzir a ansiedade. E também propicia um aporte de glicose, o que pode ser benéfico se existir queda nos níveis de açúcar no sangue. Vale a pena experimentar.”
Cyro Masci destaca que se a ansiedade persistir é necessário esclarecer se os sintomas vêm de alguma doença orgânica ou se um transtorno psiquiátrico já se instalou. Neste caso, exige-se abordagem especializada. “O tratamento deve incluir tanto as alterações biológicas no corpo, especialmente no cérebro, quanto as facetas sociais e emocionais”, finaliza o psiquiatra.
O médico psiquiatra Cyro Masci atua em São Paulo com abordagem integrativa, que une a medicina convencional com diversas formas de tratamento não convencionais.
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