O prefeito de São Paulo, João Doria, anunciou na quinta-feira, 26, um projeto para permitir a pintura de murais de grafite na cidade, como um “museu de arte de rua a céu aberto”. A proposta surge em meio a protestos e críticas à administração municipal por ter apagado grandes murais e grafites na capital paulista.
Na quarta, 25, a estátua do Apóstolo Paulo, na Praça da Sé, foi manchada com tinta vermelha em frente à catedral onde o prefeito assistiu à missa em celebração ao aniversário de 463 anos da cidade. Hoje, o asfalto de um trecho da Avenida Paulista, na região central, amanheceu marcado com diversas cores. Pichadores deixaram recados ao prefeito em vários pontos da cidade, inclusive sobre o mural do grafiteiro Eduardo Kobra, na Avenida 23 de Maio, que havia sido preservado pela ação de remoção feita pela administração municipal.
Foi justamente nessa avenida, onde foram apagadas algumas das pinturas mais conhecidas da cidade, que o prefeito divulgou hoje a nova iniciativa. O Museu de Arte na Rua consiste, segundo Doria, em ações feitas a cada três meses, nas quais um grupo selecionado de grafiteiros receberá recursos da prefeitura para fazer intervenções em pontos previamente escolhidos da cidade. “A possibilidade de expor e valorizar a sua arte de forma ampla, livre, porém, sob organização”, ressaltou o prefeito ao inaugurar a nova pintura do Monumento dos 80 anos da Imigração Japonesa, da artista Tomie Ohtake, no canteiro central da avenida.
Doria destacou, no entanto, que a prefeitura vai combater os pichadores. “Nós não vamos admitir a presença de pichadores. Respeitaremos os muralistas e grafiteiros. Se eles pensam que com ataques, com pichações vão inibir a ação do prefeito, ao contrário, a perseverança só aumenta para defender a cidade”, disse.
Durante a cerimônia, o prefeito recebeu diversas manifestações dos motoristas que passavam pela via. Foram desde declarações de apoio até xingamentos com palavras de baixo calão.
Seleção
Para escolher os artistas que participarão do projeto, será formada uma comissão independente que fará a análise do portfólio e currículo dos candidatos. “É um museu a céu aberto. Não é a ideia de fechar o grafite em algum lugar, mas que o grafite seja uma grande presença na cidade, para que São Paulo conquiste o título de capital mundial do grafite”, destacou o secretário municipal de Cultura, André Sturm.
A primeira ação do Museu de Arte na Rua deve ocorrer em março. Cada edição do festival de grafite deverá custar cerca de R$ 800 mil, segundo o secretário. Os pontos que receberão os trabalhos ainda sendo definidos pela prefeitura. A primeira ação será na região do Baixo Augusta. “A gente está avaliando locais onde a gente possa ter muitos artistas ao mesmo tempo trabalhando”, disse Sturm.
Críticas
Para o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, a abordagem da prefeitura de São Paulo sobre o tema das pichações e grafites tem sido “autoritária” e a proposta do museu não altera a “postura equivocada” da gestão municipal, por não incluir os artistas na discussão do projeto.
“O grafite é um componente da paisagem urbana e do espaço público urbano. Como tal, ele tem que ser trabalhado pelo Poder Público democraticamente”, disse Nakano. “Os grafiteiros têm que ser envolvidos no início do processo. Eles tem que ajudar o Poder Público a definir os lugares mais importantes para eles fazerem a intervenção. Porque os grafiteiros já tem essa leitura da cidade”, destacou.
“O grafite não é só uma parede pintada, é uma intervenção que dialoga com o lugar”, acrescentou o especialista. Segundo Nakano, os murais e desenhos são adaptados, tanto tematicamente quanto em relação a forma, ao local onde estão expostos. “Por isso que o desenho dos grafites da [Avenida] 23 de Maio, que são observados principalmente dos motoristas de carro, são completamente diferentes dos desenhos do Beco do Batman, que você observa caminhando a pé”, comparou.
Reportagem: Daniel Mello
Edição: Luana Lourenço
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