Fiz a conta: se, desde o começo do ano, eu tivesse lido quatro páginas por dia, número mínimo de que precisaria para não demorar mais de um ano para ler, até o fechamento deste texto, em 2 de agosto, já teria virado 856 das mais de 1.500 de “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, livro com que minha mulher não conseguiu deixar de me presentear depois de ver o nome dele em uma série de coincidências em 2017.
A primeira aconteceu no dia em que ela me convidou para ir a um teatro assistir ao musical “Les Misérables”, quando, na fila, eu disse a ela que o autor do livro que eu tinha acabado de ler havia falado do protagonista do espetáculo, do qual saímos no intervalo, já que não queríamos que nossos filhos dessem tanto trabalho à tia materna deles.
A segunda foi quando fomos a um centro de lazer aonde costumamos levar nossos filhos, onde o primeiro livro que a mãe deles viu foi o do escritor francês.
A terceira, perto do Natal, quando, sem nos atermos aos nomes das lojas do shopping center aonde havíamos ido comprar um presente para a tia de meus filhos, acabamos tirando uma foto em frente à loja cujo nome era o mesmo do autor do livro que eu não sabia que iria ganhar de minha mulher.
Se soubesse, não a teria deixado comprar um presente tão caro, porque, pela altura, 8 cm, deve ter custado muito, ao menos para mim, que, autônomo, só tenho dinheiro quando trabalho, ou teria pedido que ela me desse algum dos títulos que gostaria de ter lido nos últimos anos, como “A Segunda Profissão mais Antiga do Mundo: Jornalismo, Política e Cultura nos Textos do Maior Polemista da Imprensa Brasileira”, coletânea de textos do saudoso jornalista Paulo Francis publicada pela Três Estrelas, “A Morte Feliz”, de Albert Camus, e todos os livros de George Orwell lançados no Brasil que ainda não li, como “Uma Vida em Cartas”, “Dias na Birmânia”, “Mantenha o Sistema”, “Moinhos de Vento”, “A Flor da Inglaterra”, “Um Pouco de Ar, Por Favor!”, “Lutando na Espanha”, “O que É Fascismo? E Outros Ensaios”, “Dentro da Baleia e Outros Ensaios”, “A Política e a Língua Inglesa”, “Por Que Escrevo” e “Tamanhas Eram as Alegrias”. Nem juntando os quatro títulos que li no ano passado (“Você Merece uma Segunda Chance”, de César Souza; “1976 – Movimento Black Rio”, de Luiz Felipe de Lima Peixoto e Zé Octávio Sebadelhe; “Todo DJ já Sambou – A História do Disc-Jóquei no Brasil”, de Claudia Assef; e “Kraftwerk Publikation – A Biografia: Uma História Sociocultural dos Precursores da Música Eletrônica Feita para as Massas”, de David Buckley), uma merreca para quem lê pelo menos uma dúzia de livros por ano, conseguiria superar a quantidade de páginas do calhamaço que minha mulher perguntou se já comecei a ler.
Ainda não, mas, quando o fizer, o que só deverei fazer depois de acabar as quase 150 páginas que ainda me faltam de “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Zusak, estarei pronto para encarar um daqueles livrões de que todos falam, mas poucos leram, como “Em Busca doTempo Perdido” (Marcel Proust), “O Conde de Monte Cristo” (Alexandre Dumas), “Ulisses” (James Joyce), “Guerra e Paz” (Leon Tolstói) e “Crime e Castigo” (Fiódor Dostoiévski).
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