Aristóteles não precisava de uma máquina de lavar roupa. Não que não fosse asseado como seus colegas e alunos, mas porque “tudo o que o homem podia descobrir para o seu bem já tinha sido descoberto”. Mas e os computadores, elevadores, aviões, celulares? Vieram depois, bem depois. Em compensação, os moradores da cidade mais democrática da Grécia, Atenas, tinham, em média uns dez ou onze escravos. Eles faziam tudo. Até dormiam com os donos. Eram verdadeiras máquinas humanas. Isto no berço da civilização ocidental.
Se o filósofo vivesse hoje usando todas as máquinas disponíveis, até a de fazer café, calcularia que cada cidadão tem a sua disposição uns 33 escravos. Portanto, o progresso não se esgotou no período mais brilhante da cidade-estado de Atenas, quando um político virtuoso – sim eles existiam – Péricles conseguiu aglomerar um conjunto formidável de sábios e artistas. Ele mesmo era um apaixonado pelo belo e pela bela Aspásia.
O ser humano andou pelo planeta uns 80 milhões de anos antes se estabelecer no Iraque, ou melhor, na Mesopotâmia. Isto aconteceu há 7 mil anos e de lá as descobertas alavancaram a humanidade. Coisas fantásticas que iriam deixar os atuais “CEOs” das empresas globalizadas de água na boca: escrita, moeda, economia, direito, contratos, medicina, carros de guerra e até maquiagens para a barba.
Até a astrologia foi codificada. E os adivinhos, sérios e picaretas, começaram a faturar. Outros povos também desenvolveram suas próprias descobertas ou simplesmente copiaram (como são acusados os chineses hoje por um tal de Trump). O fato é que com ou sem royalties, as descobertas se cristalizaram primeiro nas civilizações hidráulicas, como Egito, China, Mesopotâmia, Índia. Porém, isso tudo, durante muito tempo, foi considerado demais para uma cabeça tão pequena como a de um ser humano. E se chegou à conclusão de que tudo o que poderia ser descoberto e conhecido já tinha sido feito. Agora era deitar na sombra de duas tamareiras, com uma bela rede decorada pelas tecedeiras não se sabe de onde. A retomada vigorosa de novos avanços científicos se concentrou no final da Idade Média ocidental, com uma nova economia de acumulação de riquezas: o incipiente capitalismo.
Depois do advento do capitalismo acabou o sossego da humanidade. Acabou a zona e conforto onde quer que estivesse. Foi uma onda em cima da outra. Primeiramente, com as navegações e a descoberta do planeta, a posse e escravidão de novos povos, o acúmulo de quantidades de ouro e prata. Depois, veio a sociedade das máquinas, dos operários, da burguesia industrial, das concentrações urbanas e do luxo para poucos.
O capitalismo agitou o mundo não só por seus avanços, mas também pela oposição que se formou com o socialismo, comunismo, anarquismo e outras reações políticas e sociais. Novas etapas com os bancos, financiamentos, empréstimos, concentração da riqueza na mão de poucas nações. E as guerras que devastaram quase todo o planeta. Depois de tudo isso, com as pessoas vivendo mais e melhor, menos seres humanos na miséria, as comunicações nas mãos de bilhões de pessoas, o século 21 poderia ser considerado o período de descanso.
De passar uma tarde em Itapuã, no sol que arde em Itapuã, ouvindo o mar de Itapuã, não é Vinicius? Nada disso. Trabalha-se mais horas hoje do que na revolução industrial. Consome-se tanto que o planeta está ameaçado. Vive-se mais a ponto de diminuir os nascimentos, mas não cair a população global. Quem pensa que essa é a era do sossego, se enganou. Vem aí pela frente a era da colonização e exploração econômica do espaço. Você já comprou uma passagem para dar um passeio na nave Virgin Galatic ou na sua concorrente Space Ship 2?
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