Em 2 de novembro de 2013, os franceses Claude Verlon e Ghislaine Dupont foram assassinados na cidade de Kidal, no Mali. Eles eram jornalistas contratados da Radio France Internationale (RFI) e estavam no norte do país africano para entrevistar um líder do movimento que defende a independência da região conhecida como Azauade. A dupla de comunicadores foi sequestrada e morta na sequência. Devido ao crime, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) proclamou a data como o “Dia Internacional para Acabar com a Impunidade por Crimes contra Jornalistas”. Quatro anos depois, a entidade segue na luta por essa resolução e, agora, prega que profissionais da imprensa e veículos de comunicação devam unir forças em prol da causa.
Sobre o tema, o diretor-geral de comunicação e informação da Unesco, o guatemalteco Frank La Rue convocou editores-chefes, editores-executivos e diretores da mídia a ajudarem na atividade. O texto dele foi enviado à Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias, a WAN-Ifra. No texto, a liderança da Unesco destaca números alarmantes. Ele cita que, desde 2006, 930 jornalistas foram vítimas de homicídios somente pela razão de terem como atividade profissional a missão de “trazer informações ao público”. La Rue aponta: na média, a cada quatro dias, um jornalista é assassinado. Como boa parte desses assassinatos acaba sem punições aos criminosos, o dirigente avalia a possibilidade de estarmos próximos da “ruptura dos sistemas judiciais, o Estado de Direito e a democracia”.
Frank La Rue fala, ainda, da necessidade de se ter reforço no combate à impunidade aos assassinos de comunicadores mundo afora. O diretor-geral do órgão mantido pelas Nações Unidas diz que o dia 2 de novembro de 2017 pode servir para honrar colegas mortos, por meio de produção de reportagens relacionadas ao tema. “Estou convidando você a trabalhar em conjunto com outras mídias para agrupar esforços, compartilhar boas práticas e expandir a cobertura de ataques contra jornalistas, inclusive publicando histórias de primeira página. Esta poderia ser, por exemplo, uma história sobre o assassinato de um jornalista em seu país ou uma história que abrange a existência de um acompanhamento judicial pelas autoridades públicas”, escreve o número 1 da área de comunicação da Unesco.
Para ajudar a diminuir a impunidade para quem mata – ou manda matar – profissionais da imprensa, parcerias entre concorrentes merecem ser pensadas com carinho. É o que avalia o próprio Frank La Rue. Sabendo da normalidade de se ter veículos com ideologias opostas numa mesma localidade, o dirigente pontua que, em determinados casos, nada é mais importante do que o resultado final gerado pela junção de forças. “Provou ser de grande impacto quando jornalistas de vários meios de comunicação, para além de suas diferenças e linhas editoriais, trabalham juntos para publicar uma história sobre um assassinato de um colega em seu país, onde o criminoso ficou impune”, descreve o executivo da Unesco, que divulgará os mais recentes números oficiais sobre assassinatos e impunidades nesta sexta-feira, 2.
Na página online dedicada ao projeto, o comando da Unesco enfatiza que, além de profissionais da área e empresas de comunicação, é necessário a atuação das autoridades que representam os países. Além de solicitar que as lideranças mundiais promovam um ambiente seguro para o livre exercício do jornalismo, a entidade pede empenho para combater assassinatos e, quando eles acontecerem, fazer com que os responsáveis à Justiça. “A impunidade encoraja os idealizadores dos crimes e, ao mesmo tempo, tem um efeito arrepiante na sociedade, incluindo os próprios jornalistas. A impunidade gera impunidade e se alimenta de um ciclo vicioso”. Crimes que não ainda contam com lesões não fatais, torturas, sequestros, prisões arbitrárias, intimidações e assédios morais e sexuais.
Dados de 2016 da Unesco sobre a impunidade em casos de assassinatos de jornalistas:
–>> Apenas 8% dos 827 casos de homicídios de jornalistas de 2006 a 2015 foram relatados como resolvidos;
–>> 40% dos casos são considerados “em curso”, o que significa que um inquérito policial ou judicial está ainda em andamento, ou os casos foram arquivados ou considerados como não resolvidos;
–>> Em 51% dos casos, nenhuma informação foi recebida ou o Estado-Membro onde o crime ocorreu apenas enviou um comunicado ao diretor-geral da ONU;
–>> 93% dos jornalistas assassinados são locais e apenas 7% são correspondentes estrangeiros;
–>> Jornalistas masculinos representam 94% dos jornalistas assassinados;
–>> 29% dos jornalistas assassinados trabalhavam em emissoras de televisão;
–>> 17% dos jornalistas mortos trabalhavam como jornalistas freelance.
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