Tiago Henrique Gomes da Rocha é uma pessoa fechada. O jovem de 29 anos responde por mais de 35 mortes e já foi condenado a mais de 600 anos de prisão. Conhecido como o serial killer de Goiânia, ele foi tema de diversas pautas sem conceder uma entrevista sequer. Até este mês, quando ele decidiu quebrar o silêncio. A exclusiva para o ‘Câmera Record’, da Record TV, é resultado de um trabalho longo, cheio de idas e vindas. A reportagem do Portal Comunique-se conversou com a equipe responsável pelo conteúdo e com o jornalista Domingos Meirelles, que comandou a conversa com Rocha, para conhecer os bastidores deste trabalho.
Editor-executivo do núcleo de reportagens especiais da Record TV, Gustavo Costa afirma que a intenção da pauta era mergulhar na mente do serial killer e saber como se forma uma personalidade doentia como a dele. “Acreditamos que essas informações podem ajudar a sociedade e as autoridades a se organizarem para combater este tipo de crime”. O profissional revela que as negociações para a entrevista foram longas. No total, desde o início das conversas com os advogados de Rocha até a finalização do material que foi para a televisão, a emissora investiu um ano nesta reportagem. “É um trabalho de fôlego jornalístico, duro, árduo, que envolve paciência e perseverança”.
A primeira parte da exclusiva foi ao ar no último ‘Câmera Record’, em 4 de junho. A segunda parte está programada para este dia 11. No material, é possível ver o jornalista Domingos Meirelles no comando da conversa, mas muitas outras pessoas estão envolvidas. São elas: Rafael Gomide (chefe de redação), Daniel Motta (pauteiro), Marcelo Magalhães (editor) e Rodrigo Bettio (repórter cinematográfico), além do editor-executivo.
Costa acredita que o serial killer estava interessado em expor seu ponto de vista sobre os fatos após dois anos e meio de prisão calado, daí o motivo de ter concordado em falar com a imprensa. Além disso, ele exigiu que Domingos Meirelles fosse o mediador da conversa. “Já no presídio, fomos surpreendidos com mais um pedido inusitado: Rocha queria que a câmera o focalizasse apenas de um lado. Ele prefere o perfil dele de um lado do rosto do que do outro”, relata o editor-executivo.
A maior dificuldade ao longo deste trabalho, ressalta Costa, foi encontrar o tom certo da entrevista. “Desvendar a cabeça de Rocha para que possamos ter mais conhecimento de como funciona estas mentes. Estudar o processo e os detalhes da investigação foi fundamental para que a equipe de reportagem não caísse em uma possível dissimulação da fonte. Um dos grandes méritos e aprendizado da reportagem foi se aprofundar nos três tipos de personalidade de Rocha, mostrar como agia o assaltante, o vigia e o serial killer. Três pessoas em uma só”.
Além do criminoso, a reportagem conversou com as famílias das vítimas e todas as partes envolvidas no caso, como Ministério Público, juízes, Polícia Civil, Policia Militar, a mãe e os avós do assassino.
O entrevistador
Domingos Meirelles foi o responsável pela entrevista. De frente com o serial killer de Goiânia, o jornalista usou diversos recursos para conseguir respostas do entrevistado. À reportagem do Portal Comunique-se, ele enviou um depoimento emocionante sobre os bastidores da entrevista. Veja o relato:
As informações que tínhamos é que o Tiago nunca havia falado com a imprensa, que ele detestava conversar com jornalistas. Somente sabíamos o que a advogada dele nos informou: que ele estava disposto a contar sua história para mim. No dia seguinte, quando chegamos ao presídio de segurança máxima de Aparecida de Goiânia, os guardas e os funcionários debocharam de nós, achando que o Tiago não iria falar conosco. Ficamos surpresos então com essa reação. O próprio diretor do presídio falou para mim que ele se recusaria. Ele disse “O Tiago não vai dar a entrevista. Seus colegas já estiveram aqui e nunca passaram do portão”. Quando a advogada chegou, contamos a ela sobre as negativas que recebemos. Ela então foi conversar com o Tiago. Trinta minutos depois, ela disse que ele iria nos receber, desde que eu fosse o mediador da entrevista. Ele foi levado para uma cela especial e os funcionários continuavam achando que ele não falaria. Nos sentamos para a entrevista e ele ficou calado, apenas me observando. Ele não tirava os olhos de mim. Ele fez apenas um pedido: solicitou que o câmera filmasse o outro lado de seu rosto. Nesse momento, percebi que ele era uma pessoa muito vaidosa e comecei um trabalho de tentar conquistá-lo pela vaidade. Elogiei o corte de cabelo dele e as unhas bem tratadas, disse que ele conversava de uma forma muito educada e estava com o uniforme limpo e impecável. Dessa maneira, começamos a entrevista com um Tiago mais confortável. Tiago era desprovido de sentimentos, gelado, e tinha um cuidado excessivo em usar as palavras. Muitas perguntas foram repetidas diversas vezes, de maneiras diferentes, na tentativa de forçá-lo a falar. No final da entrevista, ele parecia outra pessoa, muito mais aberto, mas ainda lacônico em determinados assuntos, como sua infância.
A entrevista
A primeira parte da entrevista foi exibida no domingo, 4. A edição do ‘Câmera Record’ mostrou as três personalidades do criminoso: o assaltante, o vigia e o serial killer. Além disso, os jornalistas Daniel Motta, Gustavo Costa e Marcelo Magalhães conseguiram vídeos inéditos que revelam como Tiago Rocha agia na hora de praticar seus crimes, depoimentos emocionantes da família das vítimas e uma sobrevivente contando como foi ficar frente a frente com o assassino.
Na segunda parte que foi ao ar neste domingo, 11, o matador conta detalhes inéditos de sua infância e adolescência. Rocha conta que sofria bullying, por isso sempre foi um adolescente tímido e de poucos amigos. Os jornalistas Daniel Motta e Gustavo Costa encontraram a mãe do assassino, que preferiu não mostrar o rosto. Depois da prisão do filho, ela se mudou de casa e pela primeira vez fala da sua relação com Rocha. Os avós dele também resolveram falar pela primeira vez com uma equipe de televisão. E mais: o programa mostra os segredos que os policiais descobriram na casa do matador e a operação de guerra montada para prender o assassino.