O que pode sair da união de um piauiense, um pernambucano, um maranhense e um paulista? “Um bom caldo musical, com referências de cada uma dessas regiões do território brasileiro”. A resposta é do piauiense da turma, o cantor e compositor Marinho Lima, que se junta ao violonista Nelson Latif (São Paulo), ao percussionista Carlos Pial (Maranhão) e ao clarinetista Márcio Bezerra (Pernambuco) para formar o Quarteto Brasil Candango. O projeto promove apresentações gratuitas para alunos, professores e servidores de escolas públicas de ensino médio do Distrito Federal. A temporada teve início em 4 de novembro e vai até a próxima sexta-feira (11), quando o grupo se apresentará para o Centro Educacional Darcy Ribeiro, que fica na Quadra 31, Conjunto F, Área Especial de Paranoá/DF.
No repertório, canções de Chico César (Deus me Proteja de Mim e Palavra Mágica), Luiz Melodia (Fadas), Vander Lee (Contra o Tempo), Walmir Lima e Lupa (Ilha da Maré), Roque Ferreira e J. Velloso (Foguete), e duas composições do próprio Marinho (Feito Lápis e Papel e Balé das Flores). Uma seleção pensada para expandir os horizontes musicais dos jovens. Cerca de 1.200 estudantes da rede pública participam das apresentações, que contam com interpretação em Libras.
“O aluno com menor poder aquisitivo vive condicionado a ouvir sempre as mesmas coisas, ou seja, a música midiática. Os veículos sonoros os condicionam a ouvir as chamadas ‘músicas passageiras’. Daí a importância de se levar aos jovens um repertório autêntico e com valores culturais, baseado em letras, melodias e arranjos bem trabalhados”, avalia Carlos Pial. “Nossa intenção é separar a música do entretenimento. Introduzir um sentimento crítico para que os estudantes saiam da caixinha e conheçam a essência da MPB”, completa Marinho Lima.
A professora de Língua Portuguesa e Espanhol (readaptada), Smênia Aldaíres Souza Silva, atualmente responsável pelo Cine Clube da escola CEM 01 (Centrão), concorda com a visão dos artistas e diz que, tanto a escola quanto toda a região administrativa de São Sebastião (DF), onde atua, são muito carentes de eventos culturais e de espaços de lazer e entretenimento, o que dificulta o acesso dos estudantes à arte e cultura. Na opinião dela, “é essencial levar boa música e músicos competentes como estes do projeto para dentro da escola. Esse contato é sempre muito bom para os participantes”.
A professora conta que a apresentação realizada no dia 7 de novembro possibilitou aos alunos o conhecimento de novos ritmos, já que, segundo Smênia, hoje a maioria deles se restringe a ouvir apenas o Funk. “Foi muito interessante porque o projeto Brasil Candango leva a música, a linguagem; os músicos apresentam os instrumentos e eu percebi que os estudantes ficaram muito envolvidos, ouvindo com atenção. O objetivo do grupo foi alcançado”, avalia.
O músico Nelson Latif explica que os estudantes da rede pública têm necessidade de ter esse contato mais próximo com a música, como uma alternativa de formação, sensibilização e sociabilização. Entre os objetivos deste trabalho, apresentar a riqueza e diversidade da MPB (Música Popular Brasileira) é a meta inicial do grupo, mas a proposta vai além. “Com esta descoberta, os estudantes passam a enxergar uma produção musical que não chega a todos. Buscamos com isso, propiciar a eles uma identificação do valor cultural da música brasileira, bem como visamos ampliar os horizontes culturais e educativos destes alunos”, explica Latif.
O professor Matheus Costa de Sousa, diretor do CED São Francisco, primeira escola a receber o projeto, relata que, para cerca de 1/3 dos alunos participantes essa foi a primeira oportunidade de presenciarem um show ao vivo com boa qualidade e de usufruírem de um momento de lazer e de cultura. “A gente fica muito feliz de ter um projeto como esse, voltado a alcançar o nosso público – formado por uma juventude periférica. Por isso, é de extrema importância levar momentos de lazer, cultura, arte e integrar esses conhecimentos junto com a base educacional, quebrando paradigmas e vendo que a escola pode ser um lugar de alegria, de festa e de felicidade”, conclui.
Quem são os músicos?
Radicado em Brasília desde criança, o cantor e compositor Marinho Lima une em seu trabalho autoral as várias facetas da miscigenação cultural catalisada no Distrito Federal, especialmente as tradições musicais de Minas e do Nordeste. O percussionista Carlos Pial vive na capital federal há duas décadas e é um dos músicos mais premiados da cidade. Márcio Bezerra é clarinetista e uma das referências no ensino do instrumento em Brasília. Oriundo da boa geração de instrumentistas da década de 1980, em São Paulo, o violonista e cavaquinista Nelson Latif reside em Brasília desde o ano 2000 e tem, desde então, atuado em diversos palcos do Brasil e do exterior.
As apresentações do Quarteto Brasil Candango são patrocinadas pelo FAC – Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal. Criado em 1991 e alterado pela Lei Complementar 267 de 1997, o FAC é o principal instrumento de fomento às atividades artísticas e culturais da Secretaria de Cultura do DF.
Serviço
Próxima apresentação do Brasil Candango
Data e horário: 11/11 (sexta-feira), 16h30
Local: Centro Educacional Darcy Ribeiro
Endereço: Quadra 31, Conjunto F, Área Especial, Paranoá/DF