Cadê o papai nas embalagens? Artigo de Fernando Guifer

Apesar de também ser uma vítima da sanguinária e impiedosa rotina de vida que nos cega para reflexões importantes do dia a dia, me pesquei num raro instante de observação, desta vez voltada às embalagens de algumas marcas de fraldas descartáveis na farmácia (enquanto minha esposa solicitava medicamentos no balcão).

– Opa! Tem alguma coisa errada aqui com essa fralda – devaneei comigo mesmo.

Meu espanto estava justamente em ver o embrulho daquele amontoado de cueiros APENAS com a foto da mamãe que, toda sorridente, desfrutava o melhor da vida ao lado da filhota que retribuía o carinho sem saber que apesar de um instante feliz, ali faltava algo indispensável.

Óbvio que não há nada contra a presença da mãe na foto, mas… então, né? Cadê o pai nessa embalagem, moço? Oxente!

Papai não age com meiguice? Papai não pode demonstrar carinho publicamente? Papai não merece qualquer reconhecimento ou holofote que seja simplesmente por ser pai?

Claro que, a partir deste ponto de partida, constatei que trata-se de uma prática de mercado em todos os setores da economia, cujo alvo comercial é gestante/bebê/criança, ou seja, você raramente verá a foto do pai nas embalagens não apenas de fraldas, mas também de brinquedos, comidinhas, vestuário e demais artigos que envolvam este público final.

É COMO SE, NA VISÃO DAS EMPRESAS, O PAI SIMPLESMENTE NÃO EXISTISSE!

E o mais triste nisso tudo é pensar que grande parte dos desenvolvedores de produtos e também das embalagens são homens com filhos, então, em vez de aproveitar a faca e o queijo que possuem para propagar igualdade e fazer a diferença de verdade, os profissionais preferem reproduzir como papagaios a mensagem de que filho só tem mãe.

É preocupante ver que a sociedade nunca percebeu essa ausência do homem nas embalagens, e que, embora lute por um planeta com pais melhores, ela também não ‘vai às ruas’ pela igualdade parental, endossando (de forma implícita) o coro que rege o afastamento do genitor, este que detém direitos adquiridos por Deus desde a concepção da cria.

Por mais que alguns não vejam esse tema com a mesma preocupação/injustiça que eu, creio que devemos colocá-lo em voga sim, afinal, caso a insatisfação do cliente não se torne pública, as marcas jamais buscarão se reposicionar de uma forma que possa efetivamente agregar à educação dos nossos pequenos.

Se não fizermos nenhum tipo de intervenção, todas as companhias seguirão tranquilas para continuar com este “lindo” trabalho de atrelar os filhos somente às mamães, e indiscutivelmente, contribuir para que os pais nunca sejam verdadeiramente cobrados por serem pais – tirando, enfim, das costas do homem uma responsabilidade que também é dele.

Embalagem de fraldas com a foto só da mãe é tão preconceituosa e arcaica quanto o caso de pais que proíbem a filha de brincar de carrinho ou o filho em se divertir com bonecas.

Não existe só a mãe na fralda e não existe só o pai na fralda. Aliás, não deveria existir.

O correto é darmos as mãos, consumidor e empresas, em prol de disseminar o amor em família. E, quando acharmos que determinada situação não tem a menor importância, lembremos que os gestos de condicionamento estão geralmente nos detalhes mais singelos.

Não podemos achar normal transmitir para os pequenos que o mundo é uma esfera em que todos os filhos não têm pai.

O pai também troca fraldas;

O pai também dá o ‘tetê’;

O pai também compra brinquedos;

O pai também dá banhinho;

O pai também passa a noite em claro, e, se necessário, também faz escândalo em pronto-socorro.

Sabe por que tudo isso?

Porque, assim como a mãe, O PAI TAMBÉM AMA (e muito!).

Não existe essa de um ama mais do que o outro. Isso é papinho furado do século 17. Ambos têm sentimento afetivo igual e certamente dariam a vida pelo filho sem piscar.

Como seres pensantes que somos – ou que achamos ser -, devemos observar se o produto que está sendo oferecido maciçamente pela grande mídia entrega não apenas o que promete legalmente, mas, principalmente, se vem de uma marca que é comprometida moralmente com o mundo de uma forma humana e não apenas econômica.

É uma prática comum a qualquer pessoa olhar e não ver. Fazemos isso o tempo inteiro sem perceber, o que é extremamente perigoso, pois, nos ilude em levar para casa uma ideia que dissemina intolerância, rejeição, discriminação e maus ensinamentos para nós e para os nossos filhos.

Será que você compra o que gostaria de comprar ou será que costuma pagar por um produto que lhe foi empurrado através de um trabalho publicitário bem feito?

Será que vale a pena adquirir uma marca/ideia mesmo que sua produção ou seu conceito vá totalmente contra os valores que tu leva como indispensáveis para a vida (ou até mesmo par a criação de seu herdeiro)?

Quando uma marca de fraldas descartáveis age dessa forma, ela prova que não tem compromisso com seu cliente, e sim, apenas com o bolso dele. E qualquer empresa que hoje pense de forma sustentável deve colocar o cliente no centro do negócio e, mais do que lhe vender um produto, ela deve lhe proporcionar uma experiência mercadológica inesquecível.

E eu, como consumidor e pai dedicado, posso afirmar que não vivencio qualquer experiência paterna bacana quando vou comprar algo para minha filha, simplesmente por que tudo é aparentemente fabricado para crianças que ‘só tem mãe’.

Então, aí está uma oportunidade de mercado para os grandes empresários do setor: criar produtos pensando também no pai e na família como um todo.

Amigos empreendedores e publicitários entendam: as pessoas hoje em dia pensam.

Atualmente o consumidor de seu produto é exigente e, mais do que isso, não é apenas braços ou bolso, e sim, também é cérebro e cabeça pensante.

Se o interesse da tua empresa é continuar fornecendo serviços em longo prazo, é bom repensar o jeito como tens tratado aquele que faz a meta anual ser atingida ou o salário cair na conta no fim do mês.

Trate o cliente como amigo, trabalhe voluntariamente por um planeta com discursos melhores, e, então, jamais entrará para o time dos falidos.

Por um mundo em que os pais também sejam valorizados conforme o amor que emanam às suas crias.

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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