Em 27 de julho, dia em que completaria 39 anos, a vereadora Marielle Franco (PSOL) será homenageada na programação parceira da 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na Casa Libre & Nuvem de Livros, da Liga Brasileira de Editoras (Libre). A homenagem, chamada “Vozes que Não Podem se Calar”, recordará também Carolina de Jesus, autora da consagrada obra Quarto de Despejo, e terá a presença da escritora Conceição Evaristo, outro importante nome da literatura e do movimento negro no Brasil.
A Flip será realizada de 25 a 29 deste mês em Paraty, litoral sul do Rio de Janeiro.
Marielle e o motorista Anderson Gomes foram assassinados em 14 de março deste ano, após saírem de um evento no centro do Rio e serem seguidos por ocupantes de um carro que atiraram diversas vezes. A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga o caso, que permanece sob sigilo.
Presidente da Liga Brasileira de Editoras, Raquel Menezes conta que a ideia de homenagear Marielle ao lado das duas grandes autoras negras surgiu pela constatação de que a leitura é capaz de transformar a realidade e a vida das pessoas, produzindo um efeito multiplicador.
“A gente está sempre acostumado a círculos viciosos ruins. E é muito bom quando se depara com um bom, quando mulheres têm a vida mudada pela leitura e mudam a vida de pessoas pela leitura. A Carolina [de Jesus], pela sua obra. A Conceição, pela sua obra e pelo que representa para o movimento negro. E a Marielle, pelo trabalho que desenvolveu para que mais pessoas lessem”, diz Raquel.
“São vozes que não vão se calar porque repercutem e favorecem um empoderamento tanto feminino quanto negro e de questões sociais”, enfatiza.
Professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Janaína Damasceno, que será uma das debatedoras na Flip, afirma que o uso da palavra para transformar a realidade é algo em comum entre a vereadora e as duas autoras negras. “A política é sobretudo o domínio das palavras”, compara a a cadêmica.
“Elas contribuem não só para o movimento negro, mas para a história do Brasil como um todo. São três mulheres negras brilhantes e três mães, em um país que não valoriza a inteligência negra”, analisa a professora da Uerj.
Janaína acrescenta que a defesa das periferias e a conquista do reconhecimento em universos elitizados como a política e a literatura são outros pontos comuns à trajetória das três mulheres. No entanto, diz a professora, essa resistência não se dá sem agressões. Se, no caso de Marielle, a violência atingiu o nível mais extremo, com uma execução planejada, as duas autoras negras enfrentaram outros tipos de silenciamento.
“Elas sofreram uma violência simbólica em relação a suas obras. O tempo todo a palavra e a vida dessas mulheres não teve a legitimidade que [têm] as palavras das pessoas brancas”, complementa Janaína.
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Reportagem: Vinícius Lisboa
Edição: Nádia Franco
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