Opinião

Censura: impedido de fazer perguntas a Bolsonaro, jornalista pede demissão

Juremir Machado da Silva pediu demissão ao vivo de programa da Rádio Guaíba. Pertencente ao Grupo Record, emissora entrevistou Jair Bolsonaro (PSL), mas só o âncora pode fazer perguntas. Impedido de fazer questionamentos ao presidenciável, jornalista falou em humilhação e censura

O presidenciável Jair Bolsonaro concedeu mais uma exclusiva a veículo de comunicação controlado pelo Grupo Record. Na manhã desta terça-feira, 23, o candidato do PSL foi entrevistado pelo ‘Bom Dia’, da Rádio Guaíba. Durante 22 minutos, o atual deputado federal conversou somente com Rogério Mendelski, apresentador da atração da emissora gaúcha. Segundo o comunicador, os demais integrantes do programa não puderam fazer perguntas por causa da “condição” imposta pelo entrevistado. Indignado com a situação, Juremir Machado da Silva perguntou se foi vítima de censura, se levantou, indicou que estava pedindo demissão e deixou o estúdio.

“Nós podemos dizer que o candidato nos censurou? Por que nós não poderíamos fazer perguntas?” (Juremir Machado da Silva)

“Eu achei humilhante e por isso estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui por dez anos” (Juremir Machado da Silva)

A ideia de censura por parte de Jair Bolsonaro não foi compartilhada por Mendelski. Aos ouvintes, o apresentador disse que o candidato nem sabia quem estava no estúdio. Mas que o combinado previamente indicava que apenas ele deveria conversar com o pesselista. Com o microfone aberto ao público da Rádio Guaíba, ele revelou que, nos bastidores, tinha explicado a situação aos colegas de programa. “Pedi desculpas para vocês reservadamente”, contou o comunicador, que lamentou a decisão tomada por Juremir Machado da Silva.

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Em relação à postura do colega e o formato da entrevista, os outros dois integrantes do programa divergiram. Antigo na emissora pertencente ao Grupo Record, Jurandir Soares demonstrou compreender a situação, não considerando anormal a exigência do presidenciável em falar exclusivamente com o âncora. Voltaire Porto, porém, teve postura diferente. Questionado se entendia o contexto da entrevista com Bolsonaro, ele colocou na mesa o temor de ficar desempregado. “Preciso trabalhar também. Preciso do emprego”, disse o jovem comentarista da Rádio Guaíba. “Condição. Se não, ele não dava entrevista”, endossou o apresentador Rogério Mendelski.

Repercussão mundial

O caso envolvendo Juremir Machado da Silva, Jair Bolsonaro e a Rádio Guaíba ganhou repercussão internacional. No começo da tarde desta terça, 23, o nome do jornalista figurava na lista de assuntos mais comentados pelo Twitter em todo o mundo. Alguns profissionais da imprensa não tiveram dúvidas: tratou-se de caso de censura. “Começou. Ou, acelera-se: entrevista de Bolsonaro à Rádio Guaíba (ele se recusa a debater, meios cancelam a ída de Haddad por causa da recusa e ainda dão espaço a quem recusa?) Juremir Machado, presente, mas vetado de abrir a boca. Como colegas aceitam isso?”, publicou Bob Fernandes em seu perfil. Em nota pública, professores de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) prestaram solidariedade ao comunicador — que também trabalha na instituição de ensino.

(Imagem: reprodução/Facebook)

Demissão, “pero no mucho”

Apesar de o próprio Juremir Machado da Silva e outros jornalistas falarem em censura, o profissional segue como contratado do veículo de mídia mantido pelo Grupo Record. Precisamente às 13h12, ele voltou a falar no microfone da Rádio Guaíba, onde também apresenta a atração ‘Esfera Pública’. Com a palavra, explicou não ter a mínima intenção de deixar a emissora, que lhe dá “liberdade e atenção”. Reforçou, porém, ter pedido “demissão” do ‘Bom Dia’. “Discordei de alguns pontos e pedi para não participar mais do programa”, comentou. Além da rádio, o comunicador segue com blog no site do Correio do Povo, outra marca midiática pertencente ao conglomerado de Edir Macedo.

Após abandonar estúdio em meio a programa ao vivo, Juremir Machado da Silva segue na Rádio Guaíba (Imagem: reprodução/Correio do Povo)

Bolsonaro & Record

A entrevista de Jair Bolsonaro à Rádio Guaíba ocorre no momento em que o Grupo Record é acusado de – deliberadamente – produzir conteúdos favoráveis ao representante do PSL. Na última semana, o editor executivo do site The Intercept Brasil, apresentou reportagem em que aborda o que chama de “os bastidores do apoio do Portal R7 a Bolsonaro“. Repercutida por outros veículos, a denúncia foi negada pela equipe da Record.

Na TV, a empresa tem dado espaço ao candidato líder nas pesquisas de intenção de voto. Há duas semanas, Bolsonaro gravou entrevista que foi ao ar no mesmo horário em que a Globo exibia debate com outros presidenciáveis (1º turno).  No último domingo, ele foi personagem de especial para o ‘Domingo Espetacular’, que destacou o seu “real estado de saúde”. Pelo R7, a seção ‘Eleições 2018’ tem apresentado conteúdos elogiosos ou neutros ao pesselista, enquanto divulga materiais negativos ao petista Fernando Haddad, conforme registra a home do site na tarde desta terça.

R7 coloca Bolsonaro como vítima de divulgações ilícitas e alguém que precisa esclarecer uma fala. Por outro lado, Haddad é relacionado a caixa 2, enriquecimento ilegal e outros escândalos (Imagem: reprodução/R7)
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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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