Ler ficção é ótimo, mas você, que é amante do jornalismo, já experimentou se entregar a livros que trazem os bastidores de grandes reportagens?
Vale muito a pena! Além de ser inspirador, é maravilhoso para aprender como dar novos olhares a assuntos tidos como desgastados, descobrir e valorizar personagens, conhecer diferentes técnicas de entrevista, pesquisa de campo e observação.
Recomendo cinco obras em especial. A seguir, você conhecerá um pouco cada uma delas:
As narrativas são construídas de maneira extremamente atrativa, com uso de metáforas, rimas e vários outros recursos da literatura, que Eliane sabe tão bem usar. Você percebe que cada termo do texto foi estrategicamente escolhido para encantar o leitor. Eliane age tal como um escultor que trabalhou com ardor e paixão cada pedacinho da sua obra.
O livro aborda realidades duras do nosso país, como a das mães do tráfico (há uma história de uma mãe que perdeu dois filhos na guerra do tráfico e, por isso, já pagava o caixão do terceiro que estava vivo, sabendo que ele era o próximo a morrer), o conflito entre arrozeiros, ONGs, políticos e índios em Raposa Terra do Sol, em Roraima, ou o cotidiano dos que vivem em um asilo.
Não bastasse tudo isso, após cada reportagem, Eliane oferece um making of, contando os bastidores de produção da matéria, com seus erros e acertos.
Um dos livros mais tocantes e importantes que já li. Sempre obrigo meus queridos aluninhos a lerem, cobrando o conteúdo dele em prova. FUNDAMENTAL!
Editora: Arquipélago Editorial
http://www.arquipelago.com.br/
Refiro-me ao Mestre Audálio Dantas, o homem que descobriu Carolina Maria de Jesus, lhe dando voz e valor. O homem que foi um dos primeiros a dar o lugar de protagonista, em suas matérias, para brasileiros anônimos, esquecidos pelo próprio país. O homem que ajudou a revolucionar a linguagem do nosso jornalismo, com um estilo criativo, autoral.
No livro “Tempo de Reportagem – Histórias que Marcaram Época no Jornalismo Brasileiro”, Audálio oferece ao leitor verdadeiras joias: suas históricas matérias feitas para a Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo) e para a Cruzeiro e a Realidade, as duas revistas que inauguraram o gênero grande reportagem no Brasil.
Antes de cada texto, o leitor é agraciado por um comentário de Audálio, com curiosidades e bastidores do processo de produção da matéria.
Além da célebre reportagem com os diários de Carolina Maria de Jesus (“O Drama da Favela escrito por uma Favelada”, publicada na Folha da Manhã, em 1958), que teve tanta repercussão que acabou proporcionando à Carolina o lançamento do livro “Quarto de Despejo”, traduzido para 13 idiomas, “Tempo de Reportagem” traz a matéria “Povo Caranguejo”. Publicado na Realidade em 1970, o texto é até hoje um case estudado nas salas de aula de jornalismo, pela maneira criativa como foi construído. Audálio escreveu a matéria sob duas óticas: a dos caçadores de caranguejo do povoado Nossa Senhora do Livramento (PB) e a da caça (os caranguejos fugindo dos caçadores, no mangue).
Vale ainda destacar a reportagem “Circo do Desespero”, que reflete a grande sensibilidade de Audálio ao mostrar o lado trágico de um conhecido concurso carnavalesco de dança dos anos 60, onde pobres brasileiros, esquecidos por diversas instâncias do Estado e pela sociedade, dançavam literalmente quase até morrer, para conseguirem ganhar um prêmio, que tornaria possível a realização de sonhos bastante importantes, como o de fazer a cirurgia de um filho.
Livro sensacional! Obrigatório, porque simplesmente é uma vergonha ser jornalista sem conhecer bem o trabalho de Audálio Dantas.
Editora: LeYa Brasil
Elvira que foi repórter especial da Folha de S.Paulo por muitos anos, especializada no nicho das Telecomunicações, revela algumas técnicas interessantes utilizadas para obter informações para algumas de suas matérias, por exemplo quando se tornou acionista da Petrobras e da Oi para investigar mais a fundo essas empresas.
O ramo do jornalismo investigativo é um dos mais instigantes e difíceis para quem atua na profissão, e demanda estratégias e tecnologias especiais, como a técnica da infiltragem ou a câmera escondida.
É muito interessante conhecer as estratégias que Elvira utilizou para fazer suas reportagens, e observar como a curiosidade e a coragem são elementos essenciais para quem deseja atuar nessa área.
Editora: Publifolha
http://publifolha.folha.uol.com.br/
No livro “Narrativas de um correspondente de rua”, König traz esta e outras 14 reportagens premiadas que fez para a Gazeta do Povo (quando era repórter especial do jornal), também oferecendo comentários sobre os bastidores de produção dos textos.
Como muito bem descreve o texto da editora Pós Escrito, o livro, finalista do Prêmio Jabuti de 2009, denuncia “a dura realidade de pessoas que pertencem ao Brasil que não deu certo. São crianças, adultos e idosos que sobrevivem e trabalham em condições desumanas, explorados de maneira inescrupulosa por aqueles que detêm o poder econômico. Em cada reportagem, é possível vislumbrar o compromisso de Mauri com um jornalismo que luta por uma sociedade melhor, para que não sejam desperdiçadas mais vidas.”
Não dá pra não ler!
Editora: Pós-Escrito
http://www.editoraposescrito.com.br/
O livro traz 30 entrevistas pingue-pongue com renomados repórteres brasileiros. Além de José Hamilton Ribeiro: Ricardo Kotscho, Elvira Lobato, Carlos Wagner, Renato Lombardi, Marcelo Rezende, Percival de Souza, Sônia Bridi, Luiz Carlos Azenha, Agostinho Teixeira, Adriana Carranca, Bruno Garcez, Mauri König, Valmir Salaro, Tatiana Merlino, Paula Scarpin, Roberto Cabrini, Leandro Fortes, Cid Martins, Eliane Brum, Goulart de Andrade, Giovani Grisotti, César Tralli, Geneton Moraes Neto, Regiani Ritter, Marcelo Canellas, José Arbex Jr., Ernesto Paglia, Sílvia Bessa e Gérson de Souza.
Afora discutir a importância da reportagem e as principais técnicas para a produção desse gênero jornalístico, a obra resgata a trajetória profissional dos jornalistas entrevistados e revela os bastidores de produção das principais matérias que eles fizeram. Lendo o livro, por exemplo, você conhecerá as técnicas que Roberto Cabrini usou para encontrar PC Farias (que estava foragido) em Londres em 1993, ou curiosidades sobre os bastidores de grandes entrevistas que foram feitas pelo mestre Geneton Moraes Neto, que infelizmente nos deixou em 2016. Imperdível!
E a sequência do livro, o Mestres da Reportagem II, está quase saindo do forno. Mais uma vez organizados por mim, alunos de diferentes faculdades de jornalismo do país entrevistaram dezenas de grandes nomes da nossa reportagem, dentre eles Audálio Dantas, Clóvis Rossi, Mário Magalhães, Rubens Valente e Sérgio Dávila. Aguarde!
Editora: In House
OBS: Procure as principais livrarias ou diretamente as editoras, para adquirir as obras. Caso algum dos livros esteja esgotado, procure em sebos ou em sites como o Estante Virtual. Vale todo esforço para não ficar sem ler essas joias.
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