Opinião

Claudicantes, na corda bamba – Marli Gonçalves

Uma dancinha desajustada. Dois passos para a frente, logo dois atrás, um para um lado; depois para outro. A coreografia do momento é essa, desconcertante. Quando a gente começa a pensar que as coisas – ôba! — vão andar, atingir um mínimo de normalidade, chuáá, lá vem a água fria. Abre aqui, fecha ali, tudo muito chutado, estranho, descoordenado.

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Os fatos se sobrepõem, as lacunas são cada vez maiores. O bombardeio de informações é contínuo. Os planos ficam pelo meio do caminho. Sonhos interrompidos. Vidas interrompidas. Os números, que flutuam dia após dia, e que acompanhamos como se deles entendêssemos realmente.

Quando se busca a realidade, bater a real, como se diz, percebemos que no fim é mesmo cada um por si. Salve-se quem puder. Poucos podem. Resta ter a certeza de que estamos vivendo para ver um dos momentos mais delicados da história mundial e, especialmente, nacional.

Confusos? Não mais do que os atônitos parlamentares que acompanhamos no desenrolar da CPI que há meses faz a dancinha do caranguejo. Uma hora surge uma fantástica revelação na qual acreditamos piamente que irá nos livrar do martírio político que há anos nos aborrece diariamente.

Em outra, os vemos batendo cabeça, porque juntam coisas com as quais não sabem lidar, o velho filme das CPIs que acabam apenas sendo como novelas que acompanhamos no horário nobre e que agora nem valeria ver de novo nesta urgência em que clamamos e necessitamos de soluções.

“Pouco mais de 12% da população está vacinada de forma completa e as porteiras começam a ser abertas para ver no que dá. Viramos experimentos”

Marli Gonçalves

O contador da morte não pára e avança além do meio milhão rapidamente. Mais de mil mortes por dia parece que nem arranham mais, que nada significam – e tentam nos convencer de que está tudo bem; só um pouco mais de 12% da população está vacinada de forma completa e as porteiras começam a ser abertas para ver no que dá. Viramos experimentos. E vemos o pior da humanidade, a desumanidade, o oportunismo, o acentuamento da desigualdade.

Mas quem disse que não temos assuntos? Os impropérios proferidos pelo presidente todos os dias. O ministro que – sem enrubescer – vai na tevê nos “acalmar” dizendo que não vai ter racionamento de energia elétrica, a mesma que tem reajuste de mais de 60% – claro que não vai ter! Ficaremos no escuro, nem à luz de velas, que o preço delas também está pela hora da morte. Caia na estrada e perigas ver voltarmos à era de esfregar pauzinhos para fazer fogo e cozinhar.

O governador presidenciável ganha as manchetes assumindo ser gay em entrevista combinada. Ótimo, que bom, aplausos, mas qual foi a pressão, super natural, para que o fizesse agora, mais de dois anos de eleito? Surpresa para quem? Teria sido apenas mais uma planejada jogada de marketing? Nada parece sincero nesse mundo onde apenas poucos conseguem planejar seus passos.

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Marli Gonçalves

Jornalista formada pela FAAP, em 1979. Diretora da Brickmann&Associados Comunicação, B&A. Tem 40 anos de atuação na profissão, com passagens por vários veículos, entre eles Jornal da Tarde, Rádio Eldorado e revista Veja. Na B&A, além de assessoria de imprensa e consultoria de comunicação, especializou-se em gerenciamento de crises, ao lado de Carlos Brickmann, com quem trabalha desde 1996. Também é editora do Chumbo Gordo, site de informações da B&A. Mantém, ainda, o blog particular Marli Gonçalves (http://marligo.wordpress.com). Desde 2008, escreve semanalmente artigos e crônicas para inúmeros jornais e sites de todo o país sobre comportamento, feminismo, liberdade e imprensa. Entre suas atividades na área de consultoria, comunicação empresarial e relações públicas foi de 1994 a 1996 gerente de imprensa da multinacional AAB, Hill and Knowlton do Brasil (Grupo Standard, Ogilvy & Mather). Participou de várias publicações e veículos, entre eles, Singular & Plural, Revista Especial, Gallery Around (com Antonio Bivar), Jornal da Feira, Novidades Fotóptica, A-Z, Vogue. Na área política, foi assessora de Almino Affonso, quando vice-governador de São Paulo, e trabalhou em várias campanhas, entre elas, de Fernando Gabeira e Roberto Tripoli.

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